Lisboa, 05 jun 2019 (Lusa) - A
antiga primeira-ministra de São Tomé e Príncipe Maria das Neves advertiu que
"falta consenso" entre os dirigentes porque há "interesses
políticos que não convergem", alertando para a necessidade de
entendimentos para relançar a economia.
"Neste momento, não se pode dizer
que haja instabilidade política, mas falta consenso" entre os dirigentes,
afirmou em declarações à Lusa Maria das Neves, antiga primeira-ministra de São
Tomé e Príncipe, que foi várias vezes ministra em governos liderados pelo seu
partido, o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social
Democrata (MLSTP), atualmente no poder.
A antiga governante considerou
que é "tudo muito relativo".
Para haver estabilidade,
defendeu, "é necessário que haja diálogo e haja consenso ao nível da
classe política dirigente", e isso, na sua opinião, ainda não existe.
"Sem um diálogo entre a
classe política dirigente, sem de facto se reconhecer que a paz é o elemento
essencial para promover o desenvolvimento, tudo estará comprometido",
acrescentou.
Para a atual consultora do Banco
Central são-tomense, no seu país "há uma situação relativamente estável
depois das eleições".
São Tomé e Príncipe "decidiu
seguir o exemplo de Portugal para constituir a sua 'geringonça', há cinco
meses" e "ainda é muito pouco tempo para se poder fazer um balanço e
chegar a algumas conclusões".
Porém, alertou, o Governo
liderado por Jorge Bom Jesus está ainda "a braços com a mobilização de
recursos para poder implementar o seu Orçamento Geral do Estado, que já foi
aprovado".
"Falta a mobilização junto
dos parceiros para que comece a haver o 'take off' que estamos todos à espera
que aconteça, a curto prazo, para que se possa relançar a economia",
acrescentou.
"O país precisa de criar
condições para receber turistas. O país tem pela frente grandes desafios, desde
logo o próprio desenvolvimento. E quer apostar em ser uma plataforma de
serviços, como forma de encontrar um rumo para o seu desenvolvimento",
indicou.
Para levar adiante esses desafios
"é necessário que de facto se encontre consenso para se relançar a
economia", defendeu a antiga governante.
Cerca de 90% dos recursos que
alimentam o Orçamento do Estado do país provêm de ajuda externa, em forma de
crédito ou de donativos, o que demonstra "a fragilidade que tem a economia
são-tomense", referiu.
Perante isto, "é necessário
encontrar-se uma base de sustentabilidade para a fazer crescer",
considerou, acrescentando: "E para os grandes desafios do país é
necessário que haja consensos".
"As grandes divergências têm
por base os grandes interesses políticos em jogo", afirmou, admitindo que
o petróleo "pode ser um dos dossiês" na base das divergências.
Isto, apesar de o petróleo
"ainda não estar a jorrar" e de nem se saber quando poderá estar, até
porque, referiu, já se fixaram "tantos prazos para se começar a produzir o
petróleo e até agora ainda não se vê a luz ao fundo do túnel".
O país, disse, "não tem
condições para produzir petróleo" e "depende muito dos
parceiros" também para levar por diante esse processo.
Maria das Neves recordou que
foram lançados vários concursos públicos, e houve empresas que começaram a
fazer a prospeção, mas os custos eram tão elevados que acabaram por desistir.
"Tudo indica que há
petróleo, mas está em águas ultra profundas, o que exigiria equipamentos muito
mais sofisticados, com custos acrescidos, e este é o problema", afirmou.
"Já se falou tanto de
petróleo, que eu sou como São Tomé, prefiro ver para crer. (...) Já em tempos
eu dizia que o nosso petróleo pode ser o nosso céu, o nosso inferno ou o nosso
purgatório. Tudo depende da forma como as autoridades lidarem com este
processo", considerou.
O Presidente da República de São
Tomé e Príncipe, Evaristo Carvalho, disse, na semana passada, que irá convocar
em breve o Conselho de Estado, pela primeira vez no seu mandato, e afirmou
fazer "um esforço permanente em busca do entendimento".
"Tenho feito todo um esforço
dentro das minhas faculdades, atribuições, para levar a água a bom porto, um
esforço permanente em busca do entendimento, entre nós, os responsáveis",
disse o chefe de Estado são-tomense, em entrevista à Lusa, questionado sobre a
atual relação entre a Presidência da República e o Governo.
No dia 03 de dezembro de 2018, o
Presidente de São Tomé e Príncipe, Evaristo Carvalho, deu posse ao
primeiro-ministro, Jorge Bom Jesus, e aos membros do XVII Governo
Constitucional.
A ADI venceu as eleições com
maioria simples - 25 dos 55 deputados da Assembleia Nacional - e reclamou o
direito constitucional de formar Governo.
O MLSTP-PSD foi o segundo partido
mais votado nas últimas eleições, elegendo 23 deputados, e assinou com a
coligação PCD-UDD-MDFM, que tem cinco assentos parlamentares, um acordo de
incidência parlamentar, reclamando terem uma maioria absoluta (28 deputados),
que garantia a sustentabilidade parlamentar necessária para formar um Governo
composto pelas duas forças.
Nestas legislativas, o Movimento
Independente de Caué elegeu também dois deputados.
Lusa | Diário de Notícias
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