Rafael Barbosa | Jornal de Notícias
| opinião
A conclusão é de Marcelo Rebelo
de Sousa: vem aí uma crise da Direita portuguesa. Coisa para durar anos. A
frase foi dita em inglês, com audiência restrita, durante uma análise aos
resultados das eleições europeias. Mas o rastilho era curto e os estilhaços
projetaram-se rapidamente, já traduzidos para português.
Poderia ser mais um daqueles
casos em que o presidente se distraiu com o papel de comentador, não se desse o
caso de ter acrescentado que, num cenário de crise prolongada da Direita, e
portanto de domínio à Esquerda, o único capaz de manter o equilíbrio é ele
próprio. A intervenção de Marcelo é particularmente danosa para Rui Rio. Mas,
se é certo que o líder do PSD é torpedeado, semana sim, semana não, pela sua
família política alargada, a sua reação foi, como agora se usa dizer,
populista. Traduzindo, disse ao povo o que o povo gosta de ouvir. Começou por
alargar o âmbito da crise ao regime e acabou a propor a alteração da lei
eleitoral, seja para fazer depender a dimensão do Parlamento do número de votos
brancos e nulos (um castigo aos malandros dos deputados), seja para fazer
círculos uninominais (em nome da aproximação de eleitos a eleitores). Não é que
Rui Rio não tenha razão. O regime político está em crise. E nisso está alinhado
com a maioria dos portugueses. Mas não é o número de deputados que explica o
enfado dos portugueses. Sinal de crise do regime é ler que a comissão
liquidatária do BES já fez a contas finais e vem aí mais uma conta de 700
milhões de euros para os contribuintes pagarem. Sinal de crise do regime é o
processo de corrupção que envolve autarcas socialistas de câmaras de grande
dimensão e o ex-presidente de uma instituição como o IPO do Porto. Sinal de
crise do regime é a sensação de que nada escapa à teia dos que, nos mundos da finança
e da política, se apropriam dos bens que são de todos. Essa é a crise que devia
suscitar soluções a Rui Rio. E a todos os outros, incluindo o presidente
comentador.
* Chefe de Redação
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