domingo, 2 de junho de 2019

Portugal | A culpa não é das greves, Senhor ministro!


Está em curso a tentativa de responsabilizar quem luta pelo serviço público de transportes pelas deficiências e problemas vividos no sector. Ao ataque tão-pouco escapa a conquista do novo passe social.

AbrilAbril | editorial

Em declarações recentes, o ministro do Ambiente parece querer atribuir a quem luta pelos seus direitos, em particular aos trabalhadores, a responsabilidade pela falta de investimento nos transportes públicos.

Há duas semanas afirmava que problemas de supressões e atrasos de transportes decorriam de uma greve em curso às horas extraordinárias pela reivindicação de melhores condições e a exigência de contratação de mais profissionais. Será de questionar o senhor ministro se entende ser possível ter um serviço de transportes funcional que assente em horas extraordinárias.

Esta sexta-feira, o ministro renovou a ideia de que terá sido uma greve a causa de problemas que são estruturais.



Os eternos inconformados com a actual solução política – que permitiu avanços positivos para as populações, também nesta área – esfregam as mãos de contentamento.

É ver PSD e CDS-PP a «botar» discurso preocupados com a oferta deficiente no sector – mas sem fazer mea culpa pelos cortes e venda ao desbarato que levaram por diante enquanto estiveram no governo –, procurando capitalizar o justo descontentamento das pessoas que ora andam como «sardinhas em lata», ora vêem a sua vida adiada e com atrasos e supressões.

E já avançam com a ideia de que não deveria ter-se implementado o novo passe, sem que a oferta estivesse assegurada, procurando semear a ideia de que não podem ser dados passos tão decisivos em prol das populações.

No fundo, o que está em causa na mobilidade pública pode sintetizar-se em duas palavras de ordem: «a oferta é para melhorar» e «o passe não é para cortar».

Maior é a incoerência quando se tem assistido por parte destas mesmas forças à expressão de «sentidas» preocupações pela defesa do ambiente e da sustentabilidade do planeta, mas que, na hora H, não assumem o caminho de valorização dos transportes públicos, votando contra iniciativas que visam o seu reforço.

A incoerência não é nova, a demagogia também não. Mas aqui e ali vão lançando a escada à divisão entre utentes e trabalhadores, procurando colher frutos a partir dos legítimos sentimentos de revolta pela falta de uma oferta adequada de transportes.

Há muito que estão indentificados os problemas e há muito que os trabalhadores e os utentes lutam por mais investimento para a aquisição e a manutenção dos diversos meios de transporte colectivo e o reforço dos recursos humanos – condições indispensáveis à oferta adequada às necessidades da mobilidade colectiva e da sustentabilidade ambiental. É preciso coragem política.

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