Está em curso a tentativa de responsabilizar
quem luta pelo serviço público de transportes pelas deficiências e problemas
vividos no sector. Ao ataque tão-pouco escapa a conquista do novo passe social.
AbrilAbril | editorial
Em declarações recentes, o
ministro do Ambiente parece querer atribuir a quem luta pelos seus direitos, em
particular aos trabalhadores, a responsabilidade pela falta de investimento nos
transportes públicos.
Há duas semanas afirmava que
problemas de supressões e atrasos de transportes decorriam de uma greve em
curso às horas extraordinárias pela reivindicação de melhores condições e a
exigência de contratação de mais profissionais. Será de questionar o senhor
ministro se entende ser possível ter um serviço de transportes funcional que
assente em horas extraordinárias.
Esta sexta-feira, o ministro
renovou a ideia de que terá sido uma greve a causa de problemas que são
estruturais.
Os eternos inconformados com a
actual solução política – que permitiu avanços positivos para as populações,
também nesta área – esfregam as mãos de contentamento.
É ver PSD e CDS-PP a «botar»
discurso preocupados com a oferta deficiente no sector – mas sem fazer mea
culpa pelos cortes e venda ao desbarato que levaram por diante enquanto
estiveram no governo –, procurando capitalizar o justo descontentamento das
pessoas que ora andam como «sardinhas em lata», ora vêem a sua vida adiada e
com atrasos e supressões.
E já avançam com a ideia de que
não deveria ter-se implementado o novo passe, sem que a oferta estivesse
assegurada, procurando semear a ideia de que não podem ser dados passos tão
decisivos em prol das populações.
No fundo, o que está em causa na
mobilidade pública pode sintetizar-se em duas palavras de ordem: «a oferta é para
melhorar» e «o passe não é para cortar».
Maior é a incoerência quando se
tem assistido por parte destas mesmas forças à expressão de «sentidas»
preocupações pela defesa do ambiente e da sustentabilidade do planeta, mas que,
na hora H, não assumem o caminho de valorização dos transportes públicos,
votando contra iniciativas que visam o seu reforço.
A incoerência não é nova, a
demagogia também não. Mas aqui e ali vão lançando a escada à divisão entre
utentes e trabalhadores, procurando colher frutos a partir dos legítimos
sentimentos de revolta pela falta de uma oferta adequada de transportes.
Há muito que estão indentificados
os problemas e há muito que os trabalhadores e os utentes lutam por mais
investimento para a aquisição e a manutenção dos diversos meios de transporte
colectivo e o reforço dos recursos humanos – condições indispensáveis à oferta
adequada às necessidades da mobilidade colectiva e da sustentabilidade
ambiental. É preciso coragem política.
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