Com o anúncio da candidatura
independente de Carlos Gomes Júnior às presidenciais na Guiné-Bissau, está
aberto o debate sobre uma eventual rutura no seio do PAIGC.
As ruturas têm sido recorrentes
no Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) sempre que o
assunto são as eleições presidenciais. Quando o partido escolhe um candidato,
nem todos os militantes estão de acordo e, em diversas ocasiões, em detrimento
do candidato indicado oficialmente, alguns preferem apoiar candidaturas
independentes, como aconteceu em 2005, 2009, 2012 e em 2014.
Daí que já se discuta na
Guiné-Bissau se a
candidatura independente de Carlos Gomes Júnior, que liderou o PAIGC
durante 12 anos (2002-2014), pode vir a causar alguma rutura no partido, cuja
direção muitas vezes decide sancionar os militantes que desrespeitam a
disciplina partidária.
"É uma possibilidade que não
se pode descartar", diz o analista político Rui Semedo. "Carlos Gomes
Júnior é uma figura que não só goza de popularidade a nível nacional, mas
também a nível do próprio partido. Tudo vai depender do trabalho interno e do
nível da fidelidade e da coesão interna do partido. Se isso vier a acontecer eu
acho que também pode desgastar e muito as estratégias do partido",
considera.
A outra questão que se coloca é
se, com uma eventual vitória eleitoral, Carlos Gomes Júnior, enquanto
Presidente da República, será capaz de garantir a estabilidade almejada pelos
guineenses. Rui Jorge Semedo tem algumas dúvidas, lembrando que "enquanto
primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior não conseguiu fazer esse trabalho".
"Não sei se enquanto
Presidente da República, realmente vai conseguir, tendo em conta uma relação de
cumplicidade e de alguns atos, de conflitos com algumas lideranças militares.
Isso pode ser um elemento fundamental, caso ele venha a ganhar as
eleições", admite o analista.
Nas ruas de Bissau, muitos
guineenses preveem mais divisões no seio do PAIGC, com a candidatura
independente de Carlos Gomes Júnior.
"Eu acho que pode criar uma
outra rutura em termos dos próprios militantes do partido que vão
dispersar-se", afirma um estudante na capital guineense. Uma outra cidadã
ouvida pela DW África considera, por sua vez, que Carlos Gomes Júnior "tem
todas as condições para ganhar as eleições presidenciais, porque não lhe falta
nada. A formação política tem suficiente, a postura e a conduta de um
Presidente não lhe faltam".
Por outro lado, outro residente
em Bissau fez questão de recordar um passado recente, desaconselhando a
candidatura: "Ele é livre de se candidatar, mas recordando a situação que
o fez sair da Guiné, acho que devia ponderar mais a questão da sua
candidatura".
Recorde-se, que nas presidenciais
de 2012, Carlos Gomes Júnior foi afastado, através de um golpe de Estado
militar, quando se preparava para disputar a segunda volta do pleito, contra
Kumba Ialá, entretanto já falecido.
Aguarda-se com muita expetativa a
posição que será assumida pelo PAIGC, partido em que Carlos Gomes Júnior ainda
é militante.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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