Macau, China, 25 ago 2019 (Lusa)
- Ativo, sensato, interventivo, conhecedor dos desígnios nacionais e sensível à
comunidade portuguesa: é este o perfil que membros da comissão eleitoral
contactados pela Lusa traçaram do chefe do Executivo de Macau hoje eleito.
Hot Iat Seng, de 62 anos,
ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL) de Macau, único candidato ao cargo
de chefe do Executivo após ter recebido o aval de Pequim, foi hoje eleito com
392 votos a favor, sete em branco e um nulo de uma comissão eleitoral composta
por 400 membros e toma posse a 20 de dezembro, substituindo Fernando Chui Sai
On, há uma década no cargo.
"Estamos perante uma pessoa
com uma capacidade de intervenção muito superior ao que temos visto" no
ainda chefe do Governo em funções, disse à Lusa o membro da comissão eleitoral
e presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, que
vê na personalidade sensata, dinâmica e interventiva de Hot Iat Seng "bons
sinais" para desempenhar o cargo, restando agora esperar que "estas
boas impressões se confirmem na prática".
"Gostaria que o atual chefe
do Executivo tivesse sido muito mais interventivo em questões importantíssimas
de Macau e frustrou-me um bocado a sua atuação. Só espero que isto não se
repita com o novo", apontou o também responsável há 25 anos pelo grupo de
teatro Dóci Papiaçám di Macau, que procura preservar o crioulo português do
território.
Também o arquiteto Carlos
Marreiros, um dos 400 membros da comissão eleitoral, deposita expetativas
positivas no futuro chefe do Executivo. Apesar de não querer fazer comparações
com o atual líder do território, partilha da opinião de Miguel de Senna
Fernandes de que Hot Iat Seng tem uma personalidade mais ativa do que aquela
demonstrada por Fernando Chui Sai On nos últimos 10 anos.
Ambos sublinharam as ações e as
palavras que o ex-presidente da AL de Macau teve para com a comunidade
portuguesa.
"Teve sensibilidade
suficiente para dizer sim à comunidade portuguesa e isso é muito
importante", afirmou Miguel de Senna Fernandes.
Para o ex-deputado Leonel Alves,
que esteve na AL 33 anos, tanto durante a administração portuguesa como na
chinesa, o facto de Hot Iat Seng ter pertencido durante 20 anos ao Comité
Permanente da Assembleia Popular Nacional da China, o "órgão supremo do
poder de Estado", à luz da Constituição chinesa, dá-lhe um "profundo
conhecimento de como funciona o Estado chinês".
Por isso, sublinhou, entende a
necessidade da interação com as regiões vizinhas de Macau que integram a Grande
Baía, uma metrópole mundial que Pequim está a criar e que integra Macau, numa
região com mais habitantes do que nações como França, Reino Unido ou Itália.
A Grande Baía junta Hong Kong,
Macau e nove cidades da província de Guangdong, com cerca de 70 milhões de
habitantes e um Produto Interno Bruto que ronda os 1,3 biliões de dólares -
maior que o PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20.
Para Leonel Alves, Hot Iat Seng
está em "sintonia com as grandes políticas e com os grandes desígnios
nacionais" que são necessários para a concretização deste plano de Pequim,
desvalorizando o facto de Ho nunca ter tido qualquer experiência governativa.
"Assim não tem vícios",
frisou.
O novo chefe do Governo de Macau,
hoje eleito, estreou-se como deputado em 2009, ano em que foi eleito para o
cargo de vice-presidente da AL. Quatro anos depois, em 2013, Ho Iat Seng foi
escolhido para presidente daquele órgão. Até abril deste ano foi um dos 175
membros do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional chinesa.
Para além disso, apontou o
advogado Leonel Alves, o agora eleito chefe do Executivo conhece muito bem a
situação económica de Macau, as suas potencialidades, a necessidade de atrair
capitais no exterior e se possível dos países lusófonos, para Macau poder
desempenhar o seu papel de plataforma de Pequim com os países de língua
portuguesa.
Tem, por isso, "uma visão
muito adequada para a próxima década de Macau", referiu Leonel Alves,
apostando já num segundo mandato de Hot Iat Seng.
Também a empresária Pansy Ho,
membro da comissão eleitoral, filha do magnata do jogo Santley Ho, considerou
Ho Iat Seng a pessoa certa para ocupar o cargo de chefe do Governo.
Em entrevista à Lusa, em meados
de julho, a multimilionária, uma das acionistas de referência da Sociedade de
Jogos de Macau e da MGM China, sociedades que exploram o jogo em Macau, disse
estar convencida de que Ho Iat Seng é capaz de liderar a nova geração e para uma
nova era de gestão de recursos.
Na AL, "viu e estudou os
problemas que Macau enfrenta, (...) sabe de experiência direta quais são os problemas",
explicou a empresária.
Agora, um dos principais
objetivos do mandato do quinto chefe do Executivo desde a transferência da
administração do território de Portugal para a China é o combate aos poderes
instalados, destacaram os membros da comissão eleitoral contactados pela Lusa
nos últimos dias da campanha eleitoral.
Ao longo dos 20 anos, explicou o
único deputado português no parlamento de Macau, José Maria Pereira Coutinho,
"interesses e empresários criaram raízes" e estabeleceram
"monopólios artificiais".
"Para quebrar esses
monopólios não vai ser fácil porque estão nas famílias tradicionais que têm governado
ao longo dos últimos 20 anos", antecipou o também conselheiro das
comunidades portuguesas e membro da comissão eleitoral, por inerência ao cargo
de deputado.
"Os poderes instalados, que
existem, têm de saber que existe um chefe do Executivo", referiu, por
outro lado, Miguel de Senna Fernandes, esperando "total independência,
total isenção e coragem política" de Ho Iat Seng.
MIM (JMC) // JMC
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