Hong Kong, China, 25 ago 2019
(Lusa) -- A polícia de Hong Kong disparou hoje pelo menos um tiro depois de
manifestantes pró-democracia terem atacado agentes com paus e varas, e usou gás
lacrimogéneo para dispersar um grupo em protesto numa rua central da cidade.
Esta é a primeira vez, em três
meses de protestos no território, que as autoridades usam armas de fogo contra
os manifestantes.
"Pelo que entendi, um colega
acabou de disparar a sua arma. O que me apercebi é que foi um agente fardado
que disparou o tiro", declarou um elemento da polícia de Hong Kong aos
jornalistas, citado pela agência de notícias AFP, falando em violentos
confrontos entre manifestantes e forças policiais.
Segundo um jornalista da estação
de rádio e televisão pública RTHK, o único tiro foi disparado para o ar.
De acordo com as agências
noticiosas internacionais, a polícia também recorreu neste domingo, pela
primeira vez, a canhões de água, apesar de não os terem utilizado diretamente
nos manifestantes.
O maior confronto teve lugar na
zona de Tsuen Wan, a cerca de 10 quilómetros do centro da cidade.
Enquanto uma multidão protestava
num parque, um grupo invadiu uma rua principal, espalhou paus de bambú no chão
e alinhou barreiras de tráfego e cones para tentar bloquear a passagem às
autoridades.
Depois de fazer avisos, a polícia
usou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, mas os manifestantes
responderam atirando tijolos e artefactos explosivos artesanais contra os
agentes de segurança.
Após este episódio, os
manifestantes acabaram por recuar.
Dois canhões de água e veículos
da polícia juntaram-se aos elementos da polícia de choque que avançaram pela
rua, tendo encontrado pouca resistência.
Imagens televisivas mostram que
um dos canhões de água foi usado uma vez, mas não pareceu ter alcançado os
manifestantes que se retiravam.
Alguns manifestantes afirmaram
ter recorrido à violência porque o Governo não respondeu às iniciativas pacíficas.
"A escalada a que se assiste
agora é apenas resultado da indiferença do nosso Governo perante as pessoas de
Hong Kong", disse Rory Wong, que se encontrava no confronto.
Centenas de manifestantes
pró-democracia reuniram-se hoje num estádio, debaixo de chuva, e começaram a
desfilar pelas ruas de Hong Kong, onde outros ajuntamentos se preparam, após os
violentos confrontos na cidade no sábado, depois de 10 dias de calmaria.
O território chinês, que goza de
grande autonomia, está a atravessar a mais séria crise política, desde a
transferência da sua administração do Reino Unido para a China em 1997.
Desde junho que ações quase
diárias têm sido organizadas para denunciar o declínio das liberdades e a
crescente interferência de Pequim, em protestos que têm sido marcados por
violência, mas também por muita criatividade.
Para fazer face a estas
manifestações, o Governo de Hong Kong tem usado uma variedade de métodos, desde
intimidação até propaganda e pressão económica, naquilo que os manifestantes
apelidam de "terror branco".
Dez pessoas foram hospitalizadas
após os confrontos no sábado - duas em estado grave - disseram os médicos, sem
especificar se eram polícias ou manifestantes.
Os manifestantes foram espancados
pelas forças de segurança, que também dispararam gás lacrimogéneo. Durante a
noite, os manifestantes atiraram pedras e garrafas.
Iniciados em junho, em recusa de
um projeto de lei polémico que autorizava extradições para a China, os
protestos têm alargado as suas reivindicações, para exigir um sufrágio
universal, com receio da crescente interferência de Pequim.
FM (AL) // MP
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