Presidente francês reage a
postagem endossada por Bolsonaro com ofensas à sua mulher, Brigitte, e critica
o comportamento do brasileiro. Também volta a acusá-lo de "não falar a
verdade" sobre suas políticas ambientais.
O presidente da França, Emmanuel
Macron, reagiu nesta segunda-feira (26/08) a comentários que considerou
desrespeitosos sobre sua mulher, endossados em uma rede social
por Jair Bolsonaro, e disse esperar que os brasileiros "tenham
logo um presidente à altura do cargo".
O caso agravou os
desentendimentos entre os dois chefes de Estado, que trocaram farpas nas
últimas semanas tendo como pano de fundo as queimadas na Amazónia.
"Ele fez alguns comentários
extraordinariamente desrespeitosos sobre a minha esposa", disse Macron em
coletiva de imprensa na cidade francesa de Biarritz, onde ocorre a cúpula do
G7. "O que posso dizer? É triste, é triste para ele, primeiramente, e para
os brasileiros."
No sábado, Bolsonaro endossou uma
postagem de um seguidor no Twitter com comentários ofensivos
sobre Brigitte Macron, sugerindo que o francês teria
"inveja" de Bolsonaro. A postagem trazia uma foto de Macron com sua
esposa e, logo abaixo, uma de Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, com a
seguinte legenda: "Entende agora por que Macron persegue
Bolsonaro?".
O perfil oficial do presidente
brasileiro respondeu ao seguidor afirmando: "Não humilha cara.
Kkkkkkk." O comentário em linguagem informal ganhou enorme
repercussão, inclusive na imprensa francesa, que acusou Bolsonaro de sexismo.
"Penso que as mulheres
brasileiras têm, sem dúvida, vergonha de dizer isso de seu presidente. Penso
que os brasileiros, que são um grande povo, têm um pouco de vergonha de ver
esse comportamento. Eles esperam, quando se é presidente, que se comporte bem
em relação aos outros", disse Macron nesta segunda-feira.
"Tenho muito respeito e
admiração pelo povo brasileiro, e espero muito rapidamente que eles tenham um
presidente que se comporte à altura [do cargo]", completou o francês.
Quando concorria à presidência
francesa, Macron teve de rebater críticas em relação à diferença de idade
entre ele e sua esposa, que é 25 anos mais velha que ele. Na
época, afirmou que, se fosse o contrário, se ele fosse mais
velho que Brigitte, "ninguém pensaria que não poderíamos estar
juntos". Bolsonaro tem 64 anos e Michelle, 37.
No mesmo pronunciamento, Macron
ainda reforçou suas críticas às políticas do governo brasileiro sobre o meio
ambiente. "Eu encontrei [Bolsonaro] uma primeira vez e ele me falou,
com a mão no coração, que tudo faria pelo reflorestamento e o engajamento com o
Acordo de Paris para poder assinar o acordo do Mercosul com a União Europeia, e
15 dias depois fazia o contrário demitindo cientistas."
"Pode-se dizer que não me
falou a verdade. Algumas semanas depois, teve um compromisso de urgência no
cabeleireiro quando deveria receber nosso ministro do Exterior [Jean-Yves
Le Drian]. E, ontem, considerou que era uma boa ideia que um de seus
ministros da República fizesse insultos a minha pessoa", afirmou.
Macron se referia ao ministro
brasileiro da Educação, Abraham Weintraub, que no domingo chamou o líder
francês de "cretino" e "calhorda oportunista" em postagens
no Twitter.
Após as declarações de Macron
nesta segunda-feira, Bolsonaro voltou a atacá-lo em mensagens em rede social,
mas sem mencionar as ofensas à primeira-dama da França.
"Não podemos aceitar que um
presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazónia, nem que
disfarce suas intenções atrás da ideia de uma 'aliança' dos países do G7 para
'salvar' a Amazônia, como se fossemos uma colónia ou uma terra de
ninguém", reagiu o presidente.
O episódio deve acirrar
ainda mais os desentendimentos entre os dois líderes, que já ocorrem desde
a cúpula
do G20 em junho no Japão.
Na semana passada, Macron
ameaçou não
ratificar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, afirmando
que Bolsonaro mentiu ao assumir compromissos em defesa do meio ambiente, que
eram condição para o pacto.
O líder da França levou o debate
sobre a Amazónia para a cúpula entre os líderes do G7, que terminou nesta
segunda-feira. Diante disso, Bolsonaro acusou Macron de "instrumentalizar
uma questão interna" do Brasil para "ganhos políticos".
"A sugestão do presidente
francês, de que assuntos amazónicos sejam discutidos no G7 sem a participação
dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século
21", disse Bolsonaro na sexta-feira.
Durante a cúpula, os chefes de
Estado e governo do Grupo dos Sete chegaram a um acordo sobre o envio
de ajuda aos países afetados pelos incêndios na Região Amazónica
"o mais rápido possível".
Na coletiva nesta segunda-feira,
Macron anunciou o envio de uma ajuda financeira de 20 milhões de euros, além de
apoio militar, para combater as queimadas, mas prometeu respeitar a soberania
de cada país da região. A estratégia defendida por ele se baseia em criar uma
governança que inclua entidades de setores diferentes.
Deutsche Welle | RC/afp/ap/rtr
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