segunda-feira, 26 de agosto de 2019

G7 em Biarritz foi batalha vitoriosa para Macron


A forma como lidou com Trump, Irão e Amazónia na cúpula na cidade litorânea prova que o presidente francês domina as ferramentas da política. Tudo indica que a Europa ganha seu novo "homem forte", opina Barbara Wesel.

O presidente francês, Emmanuel Macron, investiu enorme trabalho preparatório e capital político para que a atual cúpula do G7 não fosse uma derrocada absoluta e um fracasso total. Ele trouxe convidados extras e colocou outros temas na pauta, a fim de quebrar o formato engessado. Acima de tudo, porém, não queria ficar pessoalmente como perdedor. E, com algum esforço, nisso ele teve sucesso.

Macron, de fato, conseguiu dar a volta no recalcitrante e atravancador presidente dos Estados Unidos em relação à política para o Irão. O que não é uma vitória pequena, pois mais uma vez Donald Trump se revelou um convidado mal-educado em Biarritz, tendo prazer em confundir imprensa e observadores, por exemplo, quanto à política comercial.

Por um lado, ele se queixou da mídia por noticiar sobre as tensões no encontro – qualquer palavra sobre as guinadas, a irresponsabilidade e as distorções trumpistas é uma palavra fora de hora. Ele se comportou simplesmente como sempre.

 O chefe de Estado da França, contudo, convocou o ministro iraniano do Exterior, Mohammad Javad Zarif, como convidado-surpresa e partiu para uma iniciativa diplomática à margem da conferência, bem debaixo do nariz do americano. Trump reagiu furioso, insistiu que a linha-dura de Washington é a única estratégia certa. Porém Macron não se deixou intimidar, encontrando-se pessoalmente com Zarif a fim de sondar se há margem diplomática para novas tentativas de solução.

Não é para se ter grandes esperanças, mas numa situação em que paira a ameaça latente de um conflito militar, toda tentativa de solução pacífica é bem-vinda. Isso vale também para os signatários europeus do acordo nuclear com o Irão, que em 2018 o presidente americano abandonou, sem mais nem menos.

O presidente francês de 41 anos encontrou a abordagem certa também em relação aos incêndios na Amazónia. De início, ameaçou seu homólogo, Jair Bolsonaro, de não ratificar o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a UE se ele não desse fim às queimadas na Floresta Amazónica. Na cúpula, então, conseguiu dos demais participantes a promessa de ajudar o Brasil e seus países fronteiriços na extinção do fogo e no reflorestamento.

Aqui ele mostrou que domina o método adequado para lidar com populistas e antidemocratas: conversa com todos, mas permanece inflexível. E Bolsonaro provou que o princípio "açúcar e chicote" funciona, pois ele cedeu e enviou militares para o combate às chamas.

Para conseguir motivar o brasileiro a uma política ambiental mais responsável, será realmente preciso muito mais pressão: a UE, associações ambientais e, no fim das contas, os consumidores têm que desempenhar um papel, caso se chegue ao ponto de boicotar os produtos brasileiros.

Os EUA ficaram furiosos por Emmanuel Macron colocar na pauta o tema clima e fogo na Amazónia: eles se sentiram postos para o lado, explicaram diplomatas. Com isso, o governo em Washington apenas provou mais uma vez que age com total irresponsabilidade na política climática, de modo que os demais países do G7 repetidamente fazem os americanos de bobos.

Macron provou que domina as ferramentas da política e pretende ascender à liderança na Europa. Numerosas iniciativas importantes, do imposto digital à política do clima, partem de Paris. A Alemanha, em contrapartida, faz uma figura cada vez pior: ao que parece, o crepúsculo dos deuses político em Berlim também paralisou a experiência e a vontade de liderança da chanceler federal alemã.

O enfraquecimento de Angela Merkel leva a uma mudança de comando na UE. Já na eleição da nova presidente da Comissão Europeia, foi Macron quem mexeu os pauzinhos. Ele está a caminho de se transformar num novo "homem forte" da Europa. Só é preciso tomar cuidado para não se superestimar, e perder o chão sob os pés. Após esta cúpula do G7, contudo, por enquanto se pode ter a sensação de estar em boas mãos, com Macron.

Barbara Wesel | Deutsche Welle | opinião

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