A forma como lidou com Trump, Irão e Amazónia na cúpula na cidade litorânea prova que o presidente francês domina
as ferramentas da política. Tudo indica que a Europa ganha seu novo "homem
forte", opina Barbara Wesel.
O presidente francês, Emmanuel
Macron, investiu enorme trabalho preparatório e capital político para que a
atual cúpula do G7 não fosse uma derrocada absoluta e um fracasso total. Ele
trouxe convidados extras e colocou outros temas na pauta, a fim de quebrar o
formato engessado. Acima de tudo, porém, não queria ficar pessoalmente como
perdedor. E, com algum esforço, nisso ele teve sucesso.
Macron, de fato, conseguiu dar a
volta no recalcitrante e atravancador presidente dos Estados Unidos em relação
à política para o Irão. O que não é uma vitória pequena, pois mais uma vez
Donald Trump se revelou um convidado mal-educado em Biarritz, tendo prazer em
confundir imprensa e observadores, por exemplo, quanto à política comercial.
Por um lado, ele se queixou da
mídia por noticiar sobre as tensões no encontro – qualquer palavra sobre as
guinadas, a irresponsabilidade e as distorções trumpistas é uma palavra fora de
hora. Ele se comportou simplesmente como sempre.
Não é para se ter grandes
esperanças, mas numa situação em que paira a ameaça latente de um conflito
militar, toda tentativa de solução pacífica é bem-vinda. Isso vale também para
os signatários europeus do acordo nuclear com o Irão, que em 2018 o presidente
americano abandonou, sem mais nem menos.
O presidente francês de 41 anos
encontrou a abordagem certa também em relação aos incêndios na Amazónia. De
início, ameaçou seu homólogo, Jair Bolsonaro, de não ratificar o acordo de
livre-comércio entre o Mercosul e a UE se ele não desse fim às queimadas na
Floresta Amazónica. Na cúpula, então, conseguiu dos demais participantes a
promessa de ajudar o Brasil e seus países fronteiriços na extinção do fogo e no
reflorestamento.
Aqui ele mostrou que domina o
método adequado para lidar com populistas e antidemocratas: conversa com todos,
mas permanece inflexível. E Bolsonaro provou que o princípio "açúcar e
chicote" funciona, pois ele cedeu e enviou militares para o combate às
chamas.
Para conseguir motivar o
brasileiro a uma política ambiental mais responsável, será realmente preciso
muito mais pressão: a UE, associações ambientais e, no fim das contas, os
consumidores têm que desempenhar um papel, caso se chegue ao ponto de boicotar
os produtos brasileiros.
Os EUA ficaram furiosos por
Emmanuel Macron colocar na pauta o tema clima e fogo na Amazónia: eles se
sentiram postos para o lado, explicaram diplomatas. Com isso, o governo em
Washington apenas provou mais uma vez que age com total irresponsabilidade na
política climática, de modo que os demais países do G7 repetidamente fazem os
americanos de bobos.
Macron provou que domina as
ferramentas da política e pretende ascender à liderança na Europa. Numerosas
iniciativas importantes, do imposto digital à política do clima, partem de
Paris. A Alemanha, em contrapartida, faz uma figura cada vez pior: ao que
parece, o crepúsculo dos deuses político em Berlim também paralisou a
experiência e a vontade de liderança da chanceler federal alemã.
O enfraquecimento de Angela
Merkel leva a uma mudança de comando na UE. Já na eleição da nova presidente da
Comissão Europeia, foi Macron quem mexeu os pauzinhos. Ele está a caminho de se
transformar num novo "homem forte" da Europa. Só é preciso tomar
cuidado para não se superestimar, e perder o chão sob os pés. Após esta cúpula
do G7, contudo, por enquanto se pode ter a sensação de estar em boas mãos, com
Macron.
Barbara Wesel | Deutsche Welle |
opinião
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