Não quero discutir a alienação, a
incompreensão e o desleixo do andar de cima (na expressão do meu amigo Elio
Gaspari) com o drama vivido por milhões de brasileiros desempregados ou sem
trabalho.
João Guilherme Vargas Netto, São
Paulo | Correio do Brasil | opinião
Mas busco explicação para a
passividade aparente daqueles milhões que sofrem com o desemprego em uma
sociedade cada vez mais desorganizada e não se manifestam com atos coletivos
expressivos de resistência, de denúncia ou de revolta. Como explicá-la?
Um primeiro elemento de uma explicação
ainda parcial é o colchão social sobre o qual a massa de milhões consegue
amortecer o desamparo e se virar.
É a rede de relações de
parentesco e amizade, é a rede de igrejas e suas filantropias, é o parco
excedente acumulado ou o endividamento, é a rede pública de proteção e é o
exercício de atividades económicas precárias e individuais.
Um outro elemento a se levar em
conta é a estabilização do quadro económico e social do desemprego alto mas sem
grandes e dramáticas acelerações.
A curva que descreve o fenómeno
dispara verticalmente para cima nos anos 2014/2015 e a partir daí mantém-se em
uma faixa relativamente estável. Para todos os efeitos a reação a esta subida
abrupta, a “vingança”, se manifestou nas eleições de 2016 e 2018 e no
impedimento da presidente Dilma.
Bolsonaristas
Além disto, deve-se levar em
conta a presença nas massas populares dos bolsonaristas enredados no discurso
da ordem e da segurança impedindo que a verdade da causa da mala vita se
esclareça e oriente ações.
É trágico constatar que os
partidos políticos, principalmente os de oposição, enredam-se também cada vez
mais em suas próprias teias de preocupações egoístas e não aplicam a linha Mano
Brown afastando-se do povão e de seus problemas reais. Brincam de fazer
política sem orientar ações reivindicatórias e sem organizar as lutas dos
desempregados.
E, por último, pesa sobre o fundo
do quadro dos brasileiros um medo difuso das forças repressivas que, por
insistentes declarações e exemplos de mandatários, são insufladas à violência.
Ainda que não haja um quadro institucional de repressão ativa às manifestações
(de classe média) o povo pobre desempregado tem medo do “tiro na cabecinha”.
Até quando isto durará, não sei.
Como e quando se efetivará a explosão depende muito do que acontecerá nas cinco
ordens de explicações que procurei listar ao constatar a passividade aparente.
*João Guilherme Vargas Netto, é consultor
sindical de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo.
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