domingo, 25 de agosto de 2019

Lavar as mãos da Amazónia


Ricardo M Santos

Quando se fala no Fundo da Amazónia, patrocinado por países ricos, convém esclarecer quem contribui para esse fundo, no caso, Noruega e Alemanha, juntamente com a Petrobras. No caso da Noruega, ainda em 2018 uma empresa mineira cujo maior acionista é, espante-se, o governo da Noruega, esteve envolvida num caso de contaminação ambiental, que tentou esconder.

De resto, recuando até 2006, o governo do Reino Unido tentou tomar conta da Amazónia, considerando que é património mundial, iniciando assim o que é o movimento eco-imperialista. Os países ricos do Hemisfério Norte a decidirem o que é melhor para a Amazónia. Sem ter em conta, obviamente, o que são os interesses dos indígenas e dos trabalhadores. Já nem coloco aqui a evidente questão da soberania e o direito dos povos à auto-determinação. 

Sobre os incêndios dramáticos da Amazónia, convém olharmos para dentro. É da Amazónia que vem alguma da carne que comemos, da madeira, do cobre, ferro, diamantes, chumbo, estanho e de outros minérios que consumimos. É de lá que saem petróleo e gás natural, bananas, borracha, laranjas, cacau, guaraná, óleos de coco, açaí. Assim, a Amazónia é, ao mesmo tempo, um pulmão do mundo e um pulmão económico do Brasil que é explorado pelos países desenvolvidos. Reduzir a importância económica da Amazónia na economia brasileira impõe uma mudança nos hábitos de consumo do mundo desenvolvido. Por outro lado, seria necessário que o Brasil encontrasse formas de compensar as perdas gigantescas para o povo brasileiro que vive da exploração da Amazónia, empregados por grandes empresas de países ricos ou suas subsididiárias, o que é praticamente impossível no sistema económico vigente. Neste momento, o desmatamento da Amazónia está ao nível dos anos 90 de Fernando Henrique Cardoso, demonstrando que o país recuou mais de 20 anos nesta questão.

Como se vê pelo Fundo da Amazónia, não é o assistencialismo que vai resolver o drama dos povos indígenas da Amazónia e do povo brasileiro que vive da exploração florestal. É a mudança do sistema económico vigente, que nos faz esquecer que também há Amazónia quando não arde e é de lá que vem muito do que usamos todos os dias e nem pensamos nisso. O norte rico quer manter o seu quintal a sul, sem pensar em quem lá vive. Simultaneamente, a ONU continua inerte, tirando o já célebre "Guterres preocupado", desta vez com situação na Amazónia".

O problema da Amazónia e do Mundo é político e económico. E chama-se capitalismo.

23/Agosto/2019

O original encontra-se em manifesto74.blogspot.com/2019/08/lavar-as-maos-da-amazonia.html 

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/

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