Vítor Santos | Jornal de
Notícias | opinião
A greve dos motoristas de
matérias perigosas transformou-se numa espécie de jogo de xadrez, mas com
regras novas. São vários contra um e o tabuleiro tem fundo totalmente corado a
negro, a cor da vergonha, neste caso. Se calhar porque estamos em pré-campanha
eleitoral, a paralisação acabou transformada em bandeira política, erguida por
um Estado musculado como há muito não assistíamos.
Depois de ter sido acusado de
andar a dormir na primeira investida, António Costa acordou desta vez a tempo
e, provavelmente, fez aquilo que se impunha, criando condições para um país
tantas vezes movido a carvão não ficar parado por causa da falta de combustíveis.
A crise energética quase não o
foi, pelo menos até agora, e isso acontece, sobretudo, porque as medidas para
contrariar a paralisação resultaram. É fácil perceber porquê, sobretudo se
pensarmos num contra-ataque gizado em três momentos: serviços mínimos de
entrada, requisição civil como prato principal e ameaça de detenção. Este menu,
cuja sobremesa nenhum motorista no seu perfeito juízo vai querer engolir, deixa
escassa margem de manobra à luta deste sindicato bebé, que, note-se, é tudo
menos criança ingénua, até no tipo de pressão pouco saudável que utiliza como
arma. Certo é que o Governo resolveu o problema, mais ou menos como lhe
competia, não cedendo à chantagem. Esperemos que António Costa requisite também
os patrões, obrigando-os a dialogar com os grevistas, que agora se resumem aos
afetos ao Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas. Isto porque
a Antram - entretanto em modo perrice -, recusa voltar à mesa das negociações
se a greve continuar. Se António Costa não conseguir dobrar os donos dos
camiões, ficaremos sempre a pensar que este é um Governo forte com os mais
fracos e fraco com os mais fortes.
*Editor-executivo
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