Hong Kong, China, 16 ago 2019
(Lusa) -- A Polícia de Hong Kong autorizou a grande manifestação marcada para
domingo, mas proibiu a marcha de protesto, disse hoje à agência Lusa a
porta-voz de um dos movimentos que organiza a iniciativa.
A vice-coordenadora da Frente
Civil de Direitos Humanos, Bonnie Leung, adiantou que a decisão vai ser alvo de
um recurso ainda hoje por parte daquela organização que junta várias
organizações não-governamentais e partidos políticos.
A proibição levanta sérias
dúvidas sobre a forma pacífica como pode decorrer a concentração, explicou a
ativista, já que, ainda que se perca o recurso, "muitos manifestantes vão
quer fazer a marcha e não se sabe como pode reagir a polícia", sublinhou.
O objetivo da manifestação e da
marcha passa por exigir que o Governo responda a cinco reivindicações: retirada
definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as
ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito
independente à violência policial e a demissão da chefe do Executivo, Carrie
Lam.
Na quinta-feira, a PSP de Macau
proibiu a realização de um protesto no território contra a violência policial
em Hong Kong.
Numa resposta enviada à Lusa, a
PSP alegou que não podia autorizar uma iniciativa de apoio ao que considerou
serem "atos ilegais" como os ocorridos em Hong Kong.
Autorizar a realização de uma
manifestação desta natureza, sublinhou a PSP, "poderia enviar uma mensagem
errada à sociedade de Macau", com as pessoas a poderem vir a expressar as
suas reivindicações em oposição à lei do território, com previsível impacto na
segurança pública e no Estado de Direito.
A PSP referiu-se aos confrontos
ocorridos em Hong Kong, entre manifestantes antigovernamentais e as forças de
segurança, como "atos de alguns manifestantes radicais" que afetaram
a ordem social e o Estado de direito na região administrativa especial chinesa.
A manifestação estava agendada
para segunda-feira a partir das 20:00 (13:00 em Lisboa).
Há mais de dois meses que Hong
Kong é palco de protestos maciços.
O mais concorrido, segundo a
organização, aconteceu a 16 de junho, quando cerca de dois milhões de pessoas
(mais de um terço da população) saíram à rua para protestar contra a lei que
permitiria a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições com as quais
não existem acordos prévios, como é o caso da China.
Os protestos têm sido marcados
por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que tem usado balas
de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo.
A 01 de julho, alguns
manifestantes invadiram mesmo o parlamento de Hong Kong.
Mais recentemente, o aeroporto de
Hong Kong foi palco de manifestações, com as autoridades a serem obrigadas a
cancelar centenas de voos na segunda e na terça-feira naquela que é uma das
infraestruturas aeroportuária mais movimentada do mundo.
Os defensores da lei argumentam
que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para
países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para
criminosos internacionais".
Já os manifestantes dizem temer
que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra
cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a
salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e
Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente,
decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que
os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões
administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com
elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o
Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.
JMC // SB
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