sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Portugal | Pardal & Pinto, pantomineiros, Lda.


José Manuel Diogo | Jornal de Notícias | opinião

O Pardal Henriques não queria ser deputado, mas o antigo bastonário Marinho Pinto, vendo como ele defendia bem o povo, convenceu-o.

O líder em outsourcing do sindicato dos camionistas de cenas perigosas vai agora ser o ponta de lança da equipa do PDR para as eleições de outubro. Perfeito!

A jogada nem está mal pensada, mas é o cúmulo da esperteza saloia. Se funcionar, e em outubro o povo votar Pardal (ou Pinto), merecemos todos pagar o dobro dos impostos.
É uma cena de filme. Num restaurante da Mealhada, Marinho e Henriques, sócios únicos da Pinto & Pardal, combinam a tática.

Ação!

"Pardal, há aí uns sindicatos com um enorme poder nas mãos e não percebem nada de comunicação", diz Pinto, dando uma garfada no reco tostado.

"Com um treinador Pardal, perdão profissional, convencemos os tansos dos camionistas que ganham mal e montamos aqui uma greve ao gasóleo no fim de semana das férias, que durante uma semana a TV não fala de outra coisa" retorque Pardal.

"Brilhante", remata Pinto, "É uma campanha inteira à borla, vai ser o tal Pardal".

Corta!

A greve dos motoristas de matérias perigosas, entre 12 e 18 de agosto, registou, em apenas 7 dias, um total de 3 475 notícias em mais de 200 horas de emissão de Televisão. (E ainda falta contabilizar as notícias de que Pardal aceita o convite de Pinto). Para termos uma noção da dimensão deste número, Uriel Oliveira da Cision compara-o à semana dos incêndios de Pedrógão, quando, em 2017, as televisões portuguesas dedicaram o mesmo tempo à morte de 66 portugueses.

Cabe-nos a todos denunciar oportunismos básicos. Quem se aproveita da inocência e da fraqueza dos outros não devia ser candidato, devia ser mudo.

*Especialista em Media Intelligence

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