Manuel Molinos |
Jornal de Notícias | opinião
Em outubro passado, questionava,
neste mesmo espaço, quem eram os ex-políticos que recebiam subvenções
vitalícias. A pergunta colocava-se porque o Governo tinha suspendido a
publicação da lista onde figuravam os 332 nomes com direito a pensão dourada,
usando o escudo do novo Regulamento Geral de Proteção de Dados.
A resposta demorou quase um ano.
Antes, o Governo recuou, deixou cair a tese de que era preciso uma nova lei que
tornasse a publicação da lista obrigatória e aprovou, em agosto, o decreto para
a sua disponibilização. Mas, a perplexidade mantém-se. E a pergunta muda de
direção. Porque é que antigos primeiros-ministros, deputados, ministros,
autarcas e juízes do Tribunal de Constitucional ainda beneficiam destes
privilégios, que vão desde os 883,59 euros até aos 13 607 euros?
A verdade é que todos nós, os
contribuintes, pagamos as subvenções vitalícias de políticos cuja conduta de
alguns é, como sabemos, muito duvidosa. Este ano custam 7,17 milhões de euros
aos cofres do Estado. Nomes, por exemplo, como Armando Vara e Duarte Lima
recebem estas pensões. Mas também vamos pagar, para sempre, dois mil euros por
mês a José Sócrates. Não é fácil para o comum dos trabalhadores perceber.
A lista de felizes contemplados
chega aos 318, e à exceção do BE, que, na verdade, propôs o fim do pagamento
das subvenções, todos os outros partidos com assento parlamentar deviam
aproveitar a campanha para explicar aos eleitores as razões pelas quais ainda
há quem mantenha estas dádivas. É certo que não haverá atribuição de mais
pensões, mas o que justifica manter as antigas?
Numa altura em que, mais do que
nunca, é preciso combater os movimentos populistas que se aproveitam de todas
as oportunidades para descredibilizar a classe política, é preciso coragem para
não aumentar o descontentamento da população. E, como as campanhas não podem
servir só para distribuir brindes nas feiras nem para jantares de lombo assado,
seria útil explicar porque é que o Estado distingue filhos e enteados.
*Diretor-adjunto
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