quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Portugal | Centenas de novos crimes vão 'engordar' acusação contra Rui Pinto


As acusações do Ministério Público contra Rui Pinto não se vão limitar ao caso da Doyen / Sporting. As autoridades têm provas de "centenas" de outros crimes de acesso ilegal a e-mails

Cristiano Ronaldo, magistrados do Ministério Púbico - entre eles o anterior diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Amadeu Guerra, e o procurador da República Pedro Verdelho -, escritórios de advogados (como o da Vaz Serra Associados e o da PLMJ, este último que defendeu o Benfica no caso 'E-Toupeira') e funcionários do Ministério da Administração Interna e da PSP estão entre alguns dos alvos da pirataria informática de Rui Pinto, cujos casos o Ministério Público (MP) quer incluir na acusação que terá de concluir até 22 de setembro.

O DN confirmou junto de fonte que está a acompanhar o inquérito, titulado pelo DCIAP, que o processo que começou com o caso da Doyen / Sporting e com o 'hacker' a ser indiciado e detido por acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa coletiva e extorsão na forma tentada, pode ter um "considerável crescimento de volume, com parte das centenas de novos crimes entretanto detetados a integrarem o despacho de acusação" - cada acesso ilegal conta como um crime; e há muitos, a vários alvos.

Depois desta acusação, as autoridades vão preparar novos processos para completar a lista de alegados crimes e formularem novas acusações.


O MP já tinha tentado alargar o inquérito a estes novos crimes - detetados na análise da PJ ao material informático que foi apreendido a Rui Pinto - quando pediu ao juiz de instrução criminal que declarasse a especial complexidade do processo, o que daria mais seis meses à investigação, mas foi negado.

A procuradora responsável, Patrícia Barão, sustentava que "o sucesso da presente investigação depende do alargamento do respetivo prazo de inquérito, pois só assim é possível o cabal esclarecimento dos factos, com o apuramento da total dimensão da atuação do arguido Rui Pinto, a qual, demonstradamente, não se cingiu ao SCP e à Doyen, nem tão pouco a entidades desportivas".

Além das entidades já referidas, o MP descrevia também acessos ilegais a "organismos do meio futebolístico, tal como FIFA, Confederação Sul-americana de Futebol, Clube Desportivo Nacional e Futebol Clube do Porto".

Segundo a magistrada, da análise feita ao material informático "existem indícios da presença de muitas outras caixas de correio eletrónico, tendo sido possível determinar que o arguido se encontrava habilitado a usar software e ferramentas ofensivas destinadas a explorar acessos remotos ao sistema das vítimas que entendia poderem conter elementos que considerasse de interesse".

Apesar do indeferimento do tribunal, o MP acabou por conseguir juntar ao processo os novos crimes com uma oportuna 'ajuda' da Hungria. Isto porque o Mandando de Detenção Europeu (MDE) ao abrigo do qual Rui Pinto foi detido e extraditado pelas autoridades húngaras só dizia respeito ao processo da Doyen, o que, na prática, limitava a recolha de provas apenas às relacionadas com esse caso.

No entanto, na semana passada a Hungria deu luz verde ao pedido de Portugal para alargar o âmbito do MDE, o que na prática quer dizer que o MP já pode acrescentar quaisquer novos crimes detetados.

Rui Pinto, 30 anos, em prisão preventiva desde 22 de março, é defendido por várias entidades e personalidades internacionais, que o consideram um 'whistleblower' (denunciante) pelo seu papel na denúncia da corrupção no futebol, através da plataforma Football Leaks.

Apesar dos seus apoiantes, entre os quais a ex-eurodeputada Ana Gomes, garantirem que está a ajudar as autoridades de vários países a combater a corrupção no futebol, entre as quais as de França, criticando Portugal por não fazer o mesmo, fonte da investigação portuguesa garante que cá essa não tem sido a atitude do 'hacker': "Nunca colaborou", sublinha.

Valentina Marcelino | Diário de Notícias

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