As acusações do Ministério
Público contra Rui Pinto não se vão limitar ao caso da Doyen / Sporting. As
autoridades têm provas de "centenas" de outros crimes de acesso
ilegal a e-mails
Cristiano Ronaldo, magistrados do Ministério Púbico - entre
eles o anterior diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal,
Amadeu Guerra, e o procurador da República Pedro
Verdelho -, escritórios de advogados (como o da Vaz Serra Associados e
o da PLMJ, este último que defendeu o Benfica no caso 'E-Toupeira') e
funcionários do Ministério da Administração Interna e da PSP estão entre alguns
dos alvos da pirataria informática de Rui Pinto, cujos casos o Ministério
Público (MP) quer incluir na acusação que terá de concluir até 22 de setembro.
O DN confirmou junto de fonte que
está a acompanhar o inquérito, titulado pelo DCIAP, que o processo que começou
com o caso da Doyen / Sporting e com o 'hacker' a ser
indiciado e detido por acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa
coletiva e extorsão na forma tentada, pode ter um "considerável
crescimento de volume, com parte das centenas de novos crimes entretanto
detetados a integrarem o despacho de acusação" - cada acesso ilegal conta
como um crime; e há muitos, a vários alvos.
Depois desta acusação, as
autoridades vão preparar novos processos para completar a lista de alegados
crimes e formularem novas acusações.
O MP já tinha tentado alargar o inquérito a estes novos
crimes - detetados na análise da PJ ao material informático que foi apreendido
a Rui Pinto - quando pediu ao juiz de instrução criminal que declarasse a
especial complexidade do processo, o que daria mais seis meses à investigação,
mas foi negado.
A procuradora responsável,
Patrícia Barão, sustentava que "o sucesso da presente investigação depende
do alargamento do respetivo prazo de inquérito, pois só assim é possível o
cabal esclarecimento dos factos, com o apuramento da total dimensão da atuação
do arguido Rui Pinto, a qual, demonstradamente, não se cingiu ao SCP e à Doyen,
nem tão pouco a entidades desportivas".
Além das entidades já referidas,
o MP descrevia também acessos ilegais a "organismos do meio futebolístico,
tal como FIFA, Confederação Sul-americana de Futebol, Clube Desportivo Nacional
e Futebol Clube do Porto".
Segundo a magistrada, da análise
feita ao material informático "existem indícios da presença de muitas
outras caixas de correio eletrónico, tendo sido possível determinar que o
arguido se encontrava habilitado a usar software e ferramentas ofensivas
destinadas a explorar acessos remotos ao sistema das vítimas que entendia
poderem conter elementos que considerasse de interesse".
Apesar do indeferimento do
tribunal, o MP acabou por conseguir juntar ao processo os novos crimes com uma
oportuna 'ajuda' da Hungria. Isto porque o Mandando de Detenção Europeu (MDE)
ao abrigo do qual Rui Pinto foi detido e extraditado pelas autoridades húngaras só
dizia respeito ao processo da Doyen, o que, na prática, limitava a recolha de
provas apenas às relacionadas com esse caso.
No entanto, na semana passada a Hungria deu luz verde ao pedido de Portugal para
alargar o âmbito do MDE, o que na prática quer dizer que o MP já pode
acrescentar quaisquer novos crimes detetados.
Rui Pinto, 30 anos, em prisão
preventiva desde 22 de março, é defendido por várias entidades e personalidades internacionais, que o consideram um
'whistleblower' (denunciante) pelo seu papel na denúncia da corrupção no
futebol, através da plataforma Football Leaks.
Apesar dos seus apoiantes, entre
os quais a ex-eurodeputada Ana Gomes, garantirem que está a ajudar as autoridades de vários países a combater a corrupção no
futebol, entre as quais as de França, criticando Portugal por não fazer o mesmo, fonte da
investigação portuguesa garante que cá essa não tem sido a atitude do 'hacker':
"Nunca colaborou", sublinha.
Valentina Marcelino | Diário de
Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário