Em semana decisiva para o
processo de divórcio, primeiro-ministro britânico adverte que parlamentares de
seu partido podem ser expulsos caso apoiem os esforços da oposição para impedir
saída da UE sem acordo.
O primeiro-ministro do Reino
Unido, Boris Johnson, ameaçou nesta segunda-feira (02/09) expulsar os
parlamentares do Partido Conservador que se unirem à
oposição trabalhista e tentarem bloquear uma provável saída sem
acordo do país da União Europeia (UE).
O aviso surge numa semana que
deve ser decisiva para o processo do Brexit, enquanto algumas das
principais figuras do partido governista se esforçam para encontrar um meio de
impedir que Johnson force o chamado hard Brexit em 31 de outubro,
quando se encerra o prazo dado por Bruxelas para evitar um cenário traumático
para ambos os lados.
Johnson insiste em manter em
aberto a opção do no deal (divórcio sem acordo com a UE), na
tentativa de forçar Bruxelas a fazer concessões de última hora e aceitar
um acordo que seja mais favorável economicamente ao Reino Unido.
Ainda nesta segunda-feira,
Johnson convocou seu gabinete para um reunião de emergência para tratar de uma
possível antecipação das eleições parlamentares no Reino Unido. A ideia
de antecipar o pleito foi o assunto do dia entre o meio político em Londres.
Johnson disse oficialmente que é contra uma eleição antecipada.
“Eu não quero uma eleição, vocês
não querem uma eleição", disse. Mas ao mesmo tempo o primeiro-ministro deu
sinais de que pode contemplar a possibilidade de convocar um pleito
antecipado caso os deputados consigam bloquear a opção de deixar a UE sem um
acordo até o fim de outubro. Segundo a imprensa britânica, Johnson avalia que
uma nova eleição seria preferível a mais um adiamento do Brexit.
Enquanto Johnson falava em
Downing Street 10, a
sede do governo britânico, era possível ouvir gritos de manifestantes que
entoavam “detenham o golpe!” nas proximidades.
A decisão do PM, na
semana passada, de suspender
as atividades do Parlamento britânico por cinco semanas, a partir de
10 de setembro, acirrou ainda mais as tensões e gerou uma onda de protestos pelo
país. Muitos acusam Johnson de atentar contra a democracia.
A manobra deixa os parlamentares
pró-UE com poucos dias para tentar impedir uma ruptura dolorosa com a União
Europeia. Em recesso de verão desde 25 de julho, o Parlamento britânico retoma
suas atividades nesta terça-feira, 3 de setembro, e será suspenso novamente na
próxima terça-feira.
Desde que assumiu o cargo em
julho, após a renúncia de sua antecessora, Theresa May, Johnson
promoveu uma reviravolta nas tradições políticas do país e inflamou os ânimos
tanto das correntes favoráveis quanto das contrárias ao Brexit.
A estratégia de bater de frente
com seus opositores internos e de apostar em blefes contra Bruxelas fez com que
a popularidade de seu partido voltasse a crescer, segundo pesquisas de opinião.
Os conservadores, contudo,
possuem uma frágil maioria no Parlamento. Muitos
especulam que Johnson tenha planos de fazer o Brexit acontecer de
qualquer maneira para, logo em seguida, convocar eleições antecipadas e se
consolidar no poder.
Detê-lo seria algo difícil
para algumas lideranças de seu partido, como o ex-ministro das Finanças Philip
Hammond e o ex-titular da Justiça David Gauke, que manobram nos bastidores para
impedir a estratégia do primeiro-ministro.
Um grupo de cerca de 15
parlamentares conservadores contrários ao no deal tinha uma reunião
marcada com Johnson para esta segunda-feira, num esforço para evitar uma
divisão no partido. Mas, segundo o jornal britânico Financial Times, o PM decidiu "abruptamente" cancelar o encontro, após se reunir com
sua equipe de governo.
"A direita linha-dura tomou
conta do Partido Conservador", disse o ex-ministro Gauke à emissora
britânica BBC, mencionando uma "obsessão quase religiosa" da ala mais
à direita em relação ao cenário do no deal. Ele acusa Johnson de instigar
os membros do partido a votarem contra o governo para que sejam excluídos, em
favor de parlamentares que apoiem a versão mais extrema do Brexit.
Os partidos da oposição querem
aprovar uma lei que exija do governo a apresentação de um novo acordo com a UE
ou force um pedido de extensão da permanência britânica no bloco para além da
data de 31 de outubro.
O líder do Partido Trabalhista,
Jeremy Corbyn, acusa Johnson de "sequestrar" o resultado do referendo
de 2016 em que os britânicos optaram pelo Brexit. "Trabalhamos com os outros
partidos para fazer todo o necessário para remover nosso país da beira do
abismo", afirmou.
Analistas avaliam que, sem um
acordo, o Reino Unido poderá enfrentar um cenário
caótico com a imposição de tarifas e controles aduaneiros entre o país
e os demais 27 Estados-membros da UE, potencialmente causando uma derrubada na
cotação da libra e jogando o país numa recessão.
Bruxelas e Londres já parecem
contar com o cenário de um Brexit sem acordo como o mais provável fim de uma
parceria de quatro décadas entre as duas partes.
O negociador-chefe da UE para o
Brexit, Michel
Barnier, disse não estar otimista sobre a possibilidade de evitar uma saída
sem acordo.
Ele afirma que o chamado backstop irlandês
– uma solução encontrada para evitar uma fronteira dura entre o território
britânico da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, que integra o bloco
europeu – seria o "máximo de flexibilidade que a UE pode
oferecer". A fronteira entre as Irlandas é um dos pontos mais
complexos do acordo negociado entre as partes.
Barnier disse que o backstop entrará
em vigor se Londres e Bruxelas tiverem dificuldade de finalizar um
relacionamento comercial futuro. Através do mecanismo, o Reino Unido integraria
um território alfandegário comum com a UE, mantendo, de fato, a Irlanda do
Norte no mercado único, o que, para Jonhson, seria algo inaceitável.
Deutsche Welle | RC/afp/ap/dpa
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