O primeiro-ministro são-tomense,
Jorge Bem Jesus, está preocupado com a dívida deixada pelo anterior Executivo.
O governante, ainda em início de mandato, afirma que procura reformas em todos
os setores da sociedade.
São Tomé e Príncipe vai
renegociar com os parceiros internacionais o perdão da dívida externa, que está
acima dos 300 milhões de dólares. O Executivo de São Tomé insiste no combate à
corrupção e assegura que caberá à justiça apurar os responsáveis pela dívida
escondida de 70 milhões de dólares imputada pelo Fundo Monetário
Internacional ao anterior Governo de Patrice Trovoada.
De passagem por Lisboa, Jorge Bom
Jesus, primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, revelou que a dívida oculta de
70 milhões de dólares, contraída pelo anterior Governo de Patrice Trovoada, tem
sérios impactos nas contas públicas.
"Durante muito tempo os
governos, e sobretudo o governo anterior, foi divulgando a dívida externa,
tanto bilateral como multilateral. E a dívida interna foi, de facto, sonegada,
mas as duas dívidas, tanto internas como externas, fazem parte das dívidas do
Estado, que hoje são quase insustentáveis”, afirmou o primeiro-ministro
são-tomense.
O chefe do Executivo são-tomense
diz que os principais mentores da referida dívida devem ser responsabilizados
pela justiça, porque o seu Governo respeita a separação de poderes.
"Nós faremos a nossa parte
administrativa, mas, à semelhança de muitos outros que têm muitas vezes que ver
ora com a corrupção, ora com a sonegação dos números, ora com a sonegação de
outras informações importantes de dossiers do Estado, entregaremos tudo isso à
justiça e caberá à justiça fazer o seu trabalho”, sublinhou Jorge Bom Jesus.
O buraco financeiro que agravou
as contas do país foi descoberto por uma missão do Fundo Monetário
Internacional (FMI), que acusou o executivo anterior de ter escondido a dívida,
correspondente a despesas na ordem dos três por cento do Produto Interno Bruto
(PIB). A dívida total está acima dos 300 milhões de dólares, o que
obrigará à renegociação com alguns dos parceiros externos, entre os quais
Angola, resultante da aquisição de combustíveis.
Entretanto, Jorge Bom Jesus
reafirma o empenho do seu elenco na luta contra a corrupção, com vista a tirar
o país do fosso em que se encontra. "Todos os recursos existem”, disse o
primeiro-ministro são-tomense, "desde os recursos humanos, passando por um
mar imenso, o espaço aéreo e a exploração petrolífera na zona económica
exclusiva, entre outros."
"Reformas necessárias serão
feitas"
O governante reconhece a
necessidade de uma profunda reforma no setor da justiça, um dos quatro eixos da
sua governação, de modo a criar um ambiente propício para atrair o investimento
externo e criação de riqueza.
"Se não criarmos um ambiente
propício para negócio, dificilmente atrairemos os investidores. Portanto, esse
clima tem que ser criado e a justiça tem que funcionar”, salientou o
primeiro-ministro.
Há nove meses em funções, o seu
Executivo tem trabalhado na correção de alguns desajustamentos
macro-económicos, bem como na procura de soluções para os sérios problemas
energéticos do país. "Quando entrámos, por exemplo, encontramos uma
produção energética de aproximadamente oito megawatts. Neste momento, nós
estamos a cerca de 17 megawatts. Portanto, fizemos a aquisição de
novos geradores, ainda na térmica, mas estamos a trabalhar já no sentido
da aceleração para a transição energética, melhor aproveitamento da nossa rede
hidrográfica”, explicou Bom Jesus.
O Executivo está em negociações
com parceiros externos para a instalação de centrais fotovoltaicas. Outro
setor importante é o turismo, pelo seu efeito multiplicador.
"Por via do turismo, seremos
obrigados a investir nos projetos estruturantes do porto e do aeroporto.
Portanto, a própria autosuficiência alimentar, a produção de produtos
biológicos para, justamente, alimentar a cadeia turística”, reforçou o
primeiro-ministro.
"Queremos diáspora mais
interventiva"
Bom Jesus acredita que será
possível fazer crescer a economia a dois dígitos, com recurso a grandes
investimentos como o aeroporto e o porto de águas profundas. O chefe do
Executivo revelou em primeira mão, no encontro de sábado com a comunidade
são-tomense em Portugal, que o seu Governo vai trabalhar para que os
são-tomenses na diáspora tenham uma participação mais direta na vida política
nacional.
"Daí a necessidade da
diáspora poder vir a votar já nas eleições legislativas de 2022. Já o faz ao
nível das eleições presidenciais que nós teremos em 2021. Nós queremos, de
facto, esta diáspora mais interventiva, mais atuante”, exultou Bom Jesus.
O Executivo quer atrair o vasto
leque de competências que a diáspora possui em vários domínios, inclusive para
a mobilização de parceiros portugueses para investirem em São Tomé e Príncipe.
"Nós estamos a discutir com
o governo português a possibilidade de linhas de crédito. Já temos, por
exemplo, junto do BAD – Banco Africano de Desenvolvimento – o 'Programa
Compacto', mas há outros programas junto do FSI – Fundo Social Internacional –,
e do Banco Mundial também, em que a diáspora poderá participar com o seu know-how”,
salientou Jorge Bom Jesus.
Jorge Bom Jesus assegura ainda à
DW África que o seu Governo vai fazer o possível, «com ambição», para cumprir
os desafios que assumiu em 2018, de modo a corresponder às expetativas que
criou junto dos são-tomenses. Nos próximos meses, o executivo deve
preparar o Orçamento do Estado para 2020, que refletirá o conjunto de desafios
com vista a tirar o país do marasmo de mais de 40 anos, após a independência.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
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