Justiça angolana pede ao Brasil
partilha de informações do processo "Lava Jato", principalmente
ligadas à empresa Odebrechet.
A informação sobre o pedido de
partilha de dados foi veiculada este fim-de-semana, por Adão Adriano António
vice-procurador-geral da República de Angola e vice-presidente do Conselho
Superior da Magistratura do Ministério Público.
O escândalo de corrupção
conhecido por "Lava Jato" já levou para cadeia dezenas de cidadãos
brasileiros incluindo o ex-Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em declarações a DW África,
Osvaldo Mboco analista angolano e professor de relações internacionais,
considera normal o pedido, mas espera que sejam respeitadas as leis
internacionais.
"É importante frisar também
que essa solicitação deve obedecer alguns instrumentos legais internacionais.
Se de facto existir um acordo ou um protocolo de troca e partilha de
informações entre o Estado angolano e o Estado brasileiro, parece-me ser
normal".
Silêncio em Angola
Se no Brasil a Lava Jato já levou cidadãos
para a cadeia, em Angola reina um silêncio.
Osvaldo Mboco vê como razão da
partilha destas informações, o facto de a Odebrechet ter
trabalhado por muito tempo em Angola e muitos cidadãos nacionais serem citados
no escândalo da "Lava Jato", no Brasil.
"Durante muito tempo na
'operação Lava Jato', vários nomes e várias figuras angolanas foram arroladas
nos casos ligados à própria Odebrechet. Então, me parece que são essas as
razões que motivaram que se fizesse uma solicitação deste género".
Por seu turno, Nelson Euclides,
ativista cívico angolano, mostra-se cético e diz que os implicados no caso
Odebrechet em Angola já estariam a ser investigados mesmo sem esta partilha de
informação com o Brasil.
Falta de confiança na justiça
Recentemente, a justiça
portuguesa mandou para Angola, o processo de Manuel Vicente ex-vice-Presidente
angolano na governação do antigo chefe de Estado José Eduardo dos Santos. Mas
também reina um silêncio, lembra o ativista.
"A justiça angolana não é
para se confiar tanto. É uma justiça que só depende das pessoas que estão lá
porque se fosse o que a lei manda, todos nós estaríamos convictos de que depois
de recebermos essas informações que o Brasil vai prestar, teríamos uma
novidade, mas não, na verdade não é isso que acontece no nosso país".
Nelson Euclides vai mais longe e
diz que alguns cidadãos que administram a justiça
em Angola, também estão implicados em casos de corrupção.
"Porque não sei se em
Angola, há mesmo pessoas com vontade de trabalhar para a justiça porque os
mesmos juízes, os mesmos procuradores, os mesmos que fazem a tal justiça, na
sua maioria estão envolvidos nesses processos. E alí cresce as nossas dúvidas
porque se um aperta o outro, o outro grita e cita o nome dele. Nesse caso é o
medo que eles têm na sua maioria", concluiu o ativista cívico.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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