A ONU está preocupada com os
ataques que o Intercept Brasil vem sofrendo e escreveu ao governo
brasileiro sobre a urgência de garantir nossa proteção, punir os responsáveis
pelas ameaças e prevenir uma possível tragédia. Na tarde de ontem o
jornalista Jamil Chade, correspondente na Europa, divulgou uma carta enviada ao
Itamaraty pelo relator das Nações Unidas para a proteção do direito à liberdade
de opinião, David Kaye. O governo Bolsonaro não deu a menor bola.
Recebemos essa notícia na redação
com muita preocupação, mas ao mesmo tempo agradecidos por saber que as
autoridades internacionais estão de olho no que acontece por aqui. Por isso,
achei que era importante compartilhar com você.
Kaye escreveu ao governo
brasileiro para comunicar que tomou conhecimento de uma série de ameaças contra
o Intercept Brasil após as primeiras publicações da #VazaJato. Por
esta razão, o relator se disse profundamente preocupado com a minha segurança e
a de Glenn Greenwald, cofundador e colunista do Intercept, de sua família e dos
demais membros da nossa redação. Diz ele:
Se os fatos alegados estiverem
corretos, constituem uma clara violação dos artigos 19 e 2 do Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, do qual o Brasil é signatário
desde de 24 de janeiro de 1992. Manifesto, sobretudo, minha preocupação com a
hostilidade de membros do Senado e do governos contra as pessoas mencionadas em
reação às revelações feitas por elas.
Os artigos mencionados pelo
relator dizem respeito à liberdade de expressão e de imprensa. Você pode
consultar a íntegra do texto no site do governo federal, já que ele está em vigor no
Brasil por um decreto da presidência da república. É por isso que Kaye alerta o
governo brasileiro que "é obrigação dos Estados instituir medidas eficazes
de proteção contra ataques destinados a silenciar aqueles que exercem o seu
direito à liberdade de expressão".
Desde que começamos as
reportagens da #VazaJato, fomos obrigados a tomar novas medidas de cautela e
investir pesado em nossa segurança física e digital. É uma tristeza que isso
seja necessário, mas sabemos que Brasil é um dos países mais perigosos no mundo
para jornalistas. Aqui, a verdade mata. E desde que o governo atual decidiu
enquadrar a imprensa — e a Constituição Federal — entre seus principais
inimigos, este cenário apenas piorou.
No início de julho, nós
publicamos chats com as reclamações dos procuradores sobre as violações éticas
do ex-juiz Sergio Moro. "Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado
por seus resultados”, disse a procuradora Monique Cheker em uma das conversas
que revelamos.
Cientes destes métodos aos quais
Moro e a Lava Jato costumam recorrer, sob enorme pressão e constantes ataques,
assinei um editorial juntamente com Glenn poucos dias depois.
Tratamos de informações que havíamos colhido com diversas fontes. Àquela altura
era alta a possibilidade de uma operação farsesca da Polícia Federal, com o
objetivo de nos colar a um suposto hacker que teria adulterado o material que
dá origem ao trabalho da #VazaJato.
O relator das Nações Unidas para
a proteção do direito à liberdade de opinião está igualmente preocupado com o
que pode acontecer conosco. E tomou a iniciativa de escrever ao Itamaraty
pedindo que o governo informasse quais medidas estão sendo tomadas para
investigar as ameaças recebidas pelos jornalistas e punir os responsáveis, além
de informação sobre as medidas adotadas para garantir a segurança dos
profissionais envolvidos na cobertura.
O que fez o governo brasileiro
diante da correspondência contundente de David Kaye? Absolutamente nada! O
governo Bolsonaro omitiu a carta da população e não tomou nenhuma providência.
Pelo contrário, 20 dias depois, Bolsonaro foi a público ameaçar Glenn com uma prisão estapafúrdia
A carta da ONU chegou ao nosso
conhecimento ontem (03.09) e vem daí minha preocupação.
O Intercept Brasil está sob ameaça há quase três meses e aparentemente não podemos contar nem com o apelo de organismos internacionais. Nosso endereço foi publicado nas redes da extrema direita, nosso site está continuamente sob ataque, recebemos ameaças variadas e constantes de pessoas anônimas, mas também de congressistas e membros do governo: fomos chamados de criminosos repetidamente por agentes do estado, fomos alvos de processos absurdos, vários veículos da imprensa publicaram boatos e teorias de conspiração alucinadas tentando sujar nosso nome — só para listar algumas das coisas com as quais lidamos desde junho.
O Intercept Brasil está sob ameaça há quase três meses e aparentemente não podemos contar nem com o apelo de organismos internacionais. Nosso endereço foi publicado nas redes da extrema direita, nosso site está continuamente sob ataque, recebemos ameaças variadas e constantes de pessoas anônimas, mas também de congressistas e membros do governo: fomos chamados de criminosos repetidamente por agentes do estado, fomos alvos de processos absurdos, vários veículos da imprensa publicaram boatos e teorias de conspiração alucinadas tentando sujar nosso nome — só para listar algumas das coisas com as quais lidamos desde junho.
Eu quero que você leia a íntegra
do documento que o Itamaraty recebeu, neste link. E te pedir, por favor, para continuar nos
apoiando. Nós só poderemos seguir em frente se pudermos contar com o apoio
massivo e explícito dos nossos leitores. O apoio do público é nossa arma mais
eficaz para nos defender. Eles querem jogar a opinião pública contra nós para
que possam nos silenciar. Cada novo apoiador do TIB é um sinal de repúdio a
esta tática, é uma voz a mais.
Os poderosos têm inúmeros
recursos para nos atacarem. Nós temos a certeza que estamos trazendo a verdade
para o público e o compromisso com a liberdade de expressão do nosso lado. Eu
sei que você considera isso fundamental para o Brasil hoje e por isso quero te
chamar para reagir conosco a essas ameaças. Você pode fazer a diferença agora, apoiando nosso trabalho e
nossos jornalistas. Nós estamos na linha de frente e precisamos de você do nosso
lado. Topa o desafio?
Leandro Demori | Editor executivo
The Intercept
Quarta-feira, 04 de setembro de
2019
Uma enorme coleção de materiais
nunca revelados fornece um olhar sem precedentes sobre as operações da
força-tarefa anticorrupção que transformou a política brasileira e conquistou a
atenção mundial.
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