A RENAMO e o MDM e a sociedade
civil moçambicana querem que o Papa Francisco discuta com Filipe Nyusi a
violação dos direitos humanos no país e pedem que não se faça um aproveitamento
político da visita.
O Papa Francisco aterrou quarta-feira (04.09) na cidade de Maputo, one foi recebido com música e
danças tradicionais no arranque de uma visita ao país onde vai manter um
encontro de cortesia com o chefe do Estado, Filipe Nyusi, no Palácio da
Ponta Vermelha, além de celebrar uma missa no Estádio Nacional do Zimpeto, esta
sexta-feira (06.09), seu último dia de trabalho em Moçambique.
Sob o lema Esperança, Paz e
Reconciliação, Jorge Mário Bergoglio, de seu nome completo, Papa Francisco é o
segundo Papa a escalar Moçambique depois de João Paulo II em 1988. Moçambique é
o sétimo país que Francisco visita em 2018, e o 47° desde que chegou ao
Vaticano em 2013.
A igreja
Católica moçambicana considera este momento histórico para o país, e quer
aproveitar a visita do "Santo" padre para fortalecer a
reconciliação nacional, segundo disse em entrevista à DW África, Dom António
Juliasse, bispo auxiliar de Maputo e porta-voz do conselho Episcopal de
Moçambique.
"Este ato e reflexão é feito
no âmbito da igreja, mas os nossos políticos participam nesta discussão e
abrange toda a sociedade", afirma Juliasse, para quem "as
palavras que o Papa Francisco vai pronunciar em Moçambique vão ter uma
repercussão muito grande, para dar mais forças para que os moçambicanos
continuem a buscar a reconciliação nacional".
Os partidos políticos da oposição
e a sociedade civil moçambicana deixam, no entanto, um alerta contra o
aproveitamento político da visita pelo partido no poder, a FRELIMO.
Na sua agenda, o Papa Francisco
tem ainda encontro marcado com a juventude moçambicana - representada por
diferentes congregações religiosas do país.
Violação dos direitos humanos
A Amnistia Internacional pediu ao
Papa que nesta sua primeira deslocação a Moçambique aborde com Filipe Nyusi a
situação da violação dos direitos humanos. E o mesmo pedem os partidos da
oposição moçambicana com assento no Parlamento – a Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM).
José Manteigas é o porta-voz do
principal partido da oposição moçambicana, a RENAMO: "Queremos que no
nosso país vingue a democracia e o respeito pelos direitos fundamentais, por
isso esse apelo da Amnistia Internacional é bem-vindo", disse Manteigas.
Por seu turno, o porta-voz do
Conselho Episcopal de Moçambique, Dom António Juliasse defende que "não
pode haver verdadeira paz, sem liberdade e sem justiça", considerou
Juliasse acrescentando que "tudo que o Santo padre irá dizer sobre o
bem-estar dos moçambicanos, também estará a falar sobre os direitos humanos.
Nós esperamos que ele focalize-se nestes assuntos".
Aproveitamento político
O MDM, na voz do seu porta-voz
Sande Carmona, acusa o partido no poder, a FRELIMO, de transformar na visita de
Papa num momento de auto-promoção e afirma mesmo que "há alguma tendência
de tornar a visita do Papa uma oportunidade para a lavagem de dinheiro dos
cofres do Estado, para financiar a campanha eleitoral da
FRELIMO". Carmona considera que "existe uma roubalheira em nome
da visita da Papa. A FRELIMO com certeza está a fazer desta visita um momento
para a sua campanha eleitoral".
A RENAMO, na voz de José
Manteigas, apela à não partidarização da visita do Papa Francisco a Moçambique:
"Os moçambicanos pela primeira vez vão receber o Santo padre como irmãos
reconciliados e sem partidarizar a sua visita".
Mas Caifadine Manasse, porta-voz
da FRELIMO, diz não perceber como pode ser usada uma visita do Papa para se
fazer propaganda política: "Não compreendo como pode se pensar isso,
porque não se pode pensar que o fato de o Papa aceitar vir a Moçambique neste período
seja por razões políticas e não sei como politicamente se aproveita um assunto
destes", disse Manasse. "Estamos num momento de paz e temos que
aproveitar este momento para a profundar a nossa reconciliação nacional",
conclui.
Entretanto, o MDM diz que o seu
braço juvenil foi excluído do encontro que o Papa vai ter com a juventude
moçambicana, agendado para o princípio da tarde desta quinta-feira, no pavilhão
do Maxaquene, na cidade de Maputo.
A igreja Católica responde às
críticas, lembrando que a organização do encontro inter-religioso é da
responsabilidade do Estado, através do Ministério da Justiça e Assuntos
Constitucionais e Religiosos. E "se haverá alguma manobra política isto
está fora daquilo que tem sido discutido", esclarece Dom Juliasse.
Papa Francisco chegou ontem à
Maputo, por volta das 18:30 minutos locais, acompanhado por uma delegação de 50
integrantes entre Bispos, Cardeais e a guarda suiça.
Amós Zacarias | Deutsche Welle
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