Acusa governos de facilitarem tráfico de droga
O Presidente guineense e
recandidato ao cargo nas eleições de 24 de novembro, José Mário Vaz, afirma que
nunca será líder partidário depois de deixar a Presidência, mas que não poupará
forças para ajudar o seu país.
José Mário Vaz afasta assim a
hipótese de se candidatar à liderança do Partido Africano para a Independência
da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que o apoiou na sua candidatura em 2014, mas com
o qual está em guerra aberta.
O Presidente demitiu em 2015 o
Governo chefiado por Domingos Simões Pereira, depois de o PAIGC ter conquistado
a maioria absoluta um ano antes e desde então já recusou duas vezes o nome do
líder do partido para o cargo de primeiro-ministro. "Nunca serei líder de
nenhum partido político após a minha saída como Presidente da República, mas
tudo o que eu puder fazer para o bem do meu país, para o bem do meu povo, não
pouparei forças", disse em entrevista à agência Lusa em Lisboa.
Agradecido ao partido
Jomav, como é conhecido, refere
que enquanto Presidente está "acima dos partidos políticos", mas diz
que não é ingrato e que nunca vai esquecer que chegou a chefe de Estado
"graças ao PAIGC".
Questionado sobre o isolamento
político por também não ter sido apoiado pelo Partido da Renovação Social (PRS)
nem pelo Movimento para a Alternância Democrática (Madem G15), José Mário Vaz
considera isso não vai comprometer a sua reeleição, argumentando que a sua
candidatura "está entregue ao povo". "Não estou preocupado com
isso [...] Tenho confiança no meu povo", refere.
Em relação aos motivos da sua
candidatura, José Mário Vaz reclama que conquistou no primeiro mandato
"paz civil, tranquilidade interna e liberdade de expressão, de
manifestação e de imprensa", mas admite que é preciso fazer mais pelo
desenvolvimento económico e social do país. Destacando que foi o primeiro
Presidente a terminar o mandato, diz que se orgulha porque "ninguém morreu,
ninguém foi espancado", referindo-se ao histórico de conflitos e golpes de
Estado na Guiné-Bissau, e que por isso foi "um Presidente diferente".
O candidato aponta entre as suas
prioridades a educação, saúde e infraestruturas, e considera que a agricultura
"é um setor nevrálgico" porque "80% da população guineense vive
no campo" e esta pode ser uma área de oportunidades para os jovens.
"Podemos tirar os jovens da cadeira para o mundo do trabalho, formá-los e
prepará-los para se tornarem empresários agrícolas para o bem importante para
nossa terra", propõe.
Alvo de vingança
Sobre se teme, caso não seja
reeleito, vir a ser acusado formalmente num processo em que é suspeito do
desvio de cerca de 12 milhões de dólares (10,78 milhões de euros) e pelo qual
chegou a ser detido em 2013, José Mário Vaz diz que este é um caso "de
vingança" e um "cavalo de batalha política", acrescentando que o
valor que consta na acusação é o equivalente "a 600 mil euros".
"Esse dinheiro nem eu usei,
nem o primeiro-ministro usou. O dinheiro foi usado nas despesas correntes do
país naquele momento", afirmou, justificando que a vingança se deve à
recusa em voltar a ocupar o cargo de ministro das Finanças e depois de
primeiro-ministro após o golpe de Estado de 2012, que depôs o Governo liderado
por Carlos Gomes Júnior, que integrava.
José Mário Vaz refere ainda que
não fica preocupado se não for eleito Presidente porque tem o seu trabalho.
"Eu antes de ser Presidente da República já era um empresário de
sucesso", recordou, referindo que pode "até varrer a
estrada".
Desvio de dinheiro para campanhas
O Presidente da Guiné-Bissau e
recandidato nas eleições presidenciais de 24 de novembro - na
qual concorrem 12 nomes - acusa o atual Governo de financiar campanhas
eleitorais com dinheiro do Estado, questionando o destino de cerca de 16
milhões de euros em títulos do Tesouro.
"O Governo faz a emissão de
títulos de Tesouro num montante aproximado de 20 mil milhões de francos CFA,
significa 32 milhões de euros. Desses, 16 milhões já receberam na primeira
tranche e eu pergunto: para onde levaram esse dinheiro, esse dinheiro é para quê?",
questionou José Mário Vaz.
Referindo que o executivo
"não paga salários a tempo e horas", o chefe de Estado manifesta
também dúvidas sobre o destino das verbas que o Governo arrecada através da
Direção-Geral das Alfândegas, da Direção-Geral de Contribuições e Impostos, dos
fundos autónomos ou do apoio orçamental. E acusa: "O dinheiro que devia
ser utilizado nas escolas, nos hospitais, nas infraestruturas, no saneamento
básico, esse dinheiro está a ser desviado para o financiamento das campanhas".
Questionado sobre como vai
financiar a sua campanha, uma vez que concorre como independente, José Mário
Vaz refere que vai "pedir apoios", tal como fazem os outros
candidatos, mas que será uma "campanha pobre", "sem opulência".
"Há candidaturas que têm muito
dinheiro, muito dinheiro mesmo [...] mas ter dinheiro não significa ganhar as
eleições, sobretudo quando o dinheiro é o dinheiro do tesouro público",
referiu, manifestando a confiança de que "o povo irá castigar as pessoas
que utilizam incorretamente os seus recursos".
Instado a comentar as acusações
de Domingos Simões Pereira, candidato apoiado pelo PAIGC, de que faz entrar no
país dinheiro de origem duvidosa, José Mário Vaz respondeu: "Dinheiro de
origem duvidosa eu não conheço". E devolve as acusações, referindo que
Domingos Simões Pereira paga, sobretudo a jovens, "para dizer mal do
Presidente", "tanto em Portugal como na Guiné-Bissau". "Eu
sou um empresário de sucesso, mas só tenho uma casa em Portugal e ele, num
curto espaço de tempo, em seis ou oito meses, já tem muitas casas aqui em
Portugal", continua.
Governos facilitaram tráfico de
droga
O Presidente da Guiné-Bissau,
José Mário Vaz, responsabiliza "os últimos governos" do seu mandato
pelo aumento do tráfico de droga, acusando-os de "prepararem todas as
condições" para a entrada da droga no país. "Se repararem bem, quando
é que o fenómeno da droga volta novamente a ganhar nome, dinâmica na
Guiné-Bissau? Foram os últimos governos quase no fim do meu mandato",
acusou o chefe de Estado.
Jomav não referiu nomes, mas os
dois últimos governos do seu mandato foram chefiados por Aristides Gomes, do
Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
"Eu só estou a dizer que
existem essas figuras bem envolvidas nisto, que prepararam todas as condições
para a entrada de droga na Guiné-Bissau, mas garanto-lhe que a comunidade
internacional está a acompanhar e sabe exatamente quem são", asseverou.
Referindo que vai usar
"todos os poderes" para localizar e levar os responsáveis à Justiça,
José Mário Vaz considera ainda que se o Presidente e chefe do Estado-Maior
General das Forças Armadas não estiverem envolvidos no tráfico de droga, o combate
a este crime "torna-se fácil".
As autoridades guineenses fizeram
em 02 de setembro último a maior
apreensão de droga da história do país - quase 2.000 quilos de
cocaína -, na chamada Operação Navarra, e em 09 de março, na véspera das
eleições legislativas, apreenderam quase 800 quilos.
Forças Armadas
deram "lição" aos políticos
O Presidente da Guiné-Bissau,
José Mário Vaz, disse ainda que tem "muito orgulho" nas Forças
Armadas da Guiné-Bissau porque estão a "dar uma lição" aos políticos,
mantendo-se afastadas das querelas entre os partidos. "Estão-nos a dar
lição a nós, os políticos", comentou o chefe de Estado, acrescentando que
as Forças Armadas estão a "defender a integridade territorial", que é
a sua "missão clara, consagrada na Constituição", com "muito
profissionalismo". O Presidente diz, por isso, que as Forças Armadas
guineenses "são um grande orgulho" porque estão a afastar-se de
"querelas a nível político".
A história recente da
Guiné-Bissau tem sido marcada por constantes golpes de Estado e instabilidade
política.
Guiné-Bissau e Angola
"juntos" no combate à corrupção
O Presidente guineense, José
Mário Vaz, elogiou também o seu homólogo angolano, João Lourenço, pelo combate
contra a corrupção, referindo que os dois países "estão juntos" nessa
luta. "É uma coisa que me é comum com o Presidente João Lourenço, que
[...] está num combate sério à corrupção. Eu estou mais do que num combate
feroz contra a corrupção", opinou José Mário Vaz.
Referindo que na Guiné-Bissau se
diz "dinheiro do Estado no cofre do Estado" em vez de corrupção, o
Presidente admite que se trata de "uma luta bastante difícil", mas
que "vale a pena esse combate". "Quando olharmos para trás,
vamos dizer que valeu a pena a nossa passagem nesta cadeira porque a nossa
passagem permitiu o desenvolvimento do país e permitiu o bem-estar do nosso
povo", referiu.
Questionado sobre as relações com
Angola, José Mário Vaz diz que se trata de "um país irmão" e que
"por isso não há razão nenhuma para que não haja boas relações".
Deutsche Welle | Agência Lusa, nn
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