Estudantes e ativistas
manifestavam-se contra a pretensão do Governo de cobrar propinas no ensino
superior regular a partir de 2020. A manifestação "Propina Não"
juntou mais de duas centenas de jovens em Luanda.
A polícia angolana dispersou
neste sábado (26.10) com bombas de gás lacrimogéneo mais de 200 estudantes
e ativistas que se manifestavam, em Luanda, contra a pretensão do Governo de
cobrar propinas
no ensino superior regular, a partir de 2020.
A manifestação "Propina
Not" ou "Propina Não" juntou no Largo das Heroínas mais de duas
centenas de jovens, que empunhados de cartazes repudiavam a intenção do Governo
angolano em passar a cobrar propinas no ensino universitário.
"Os pobres não devem pagar
pela má gestão dos recursos públicos do país", "não temos dinheiro
para pagar as propinas", "não fomos nós quem saqueou o país" e
"diga não à elitização do ensino superior", lia-se nos cartazes dos
manifestantes.
Depois de marcharem um quilómetro
e sob acompanhamento da polícia nacional, os manifestantes "insurgirem-se
contra os efetivos" da corporação, precisamente no largo 1º de Maio,
centro de Luanda, por alegadamente ter "invertido o percurso da
marcha".
A situação deu origem a momentos
de tensão entre manifestantes e efetivos da polícia, cenário que motivou a
paralisação do trânsito por mais de 15 minutos quando se tentava um consenso
sobre o percurso da marcha.
Além da polícia de ordem pública
e de trânsito, a brigada canina e a polícia antimotim também reforçaram o
cordão de segurança no local.
Os manifestantes tencionavam
marchar até o Instituto Nacional de Luta contra a Sida, enquanto a polícia
direcionava-os para a avenida Deolinda Rodrigues, até ao cemitério da Santa
Ana, o que alterou os ânimos dos manifestantes e em reação a polícia
dispersou-os lançado bombas de gás lacrimogéneo.
"Pisa propinas" e
"nós queremos estudar" eram as palavras de ordem durante a marcha
dispersada pela polícia, onde o estudante Abílio Alfredo marcou presença para
manifestar o seu descontentamento.
"Estamos a manifestar porque
o Estado angolano está a implementar a cobrança de propinas no ensino gratuito
quando sabemos que em várias partes do mundo a propina é gratuita no ensino
superior", disse o estudante de 21 anos.
Adelina Kipaca, estudante de 23
anos, questionou as motivações do Governo angolano em pretender cobrar propinas
no ensino superior, recordando que a "maior parte dos jovens
estão desempregados e os pais não têm condições para suportar
despesas".
"Por isso é que me
identifiquei com a causa e estou aqui a me manifestar", afirmou.
Mais jovens sem estudar
Por seu lado, Ariclenes Gouveia
também respondeu afirmativamente ao apelo do Movimento Estudantil Propina Não,
defendendo que a medida vai concorrer para o "aumento
de mais jovens fora do sistema de ensino".
"Quando infelizmente temos
informação que poderão ser cobradas propinas a partir de 2020 e como cidadão
não posso permitir que isso aconteça", questionou.
Mesmo pressionados pela polícia,
Salomão Panzo, em representação do "Movimento Estudantil Propina Não"
apresentou aos jornalistas o manifesto da marcha recomendando ao Governo
angolano para "não avançar com a medida".
"A primeira razão é a crise
financeira que até agora não tem soluções concretas, porque acabou por
abalar o setor económico causando desemprego. O desemprego aumentou, quer dizer
que os dois anos de governação de João Lourenço não contribuíram para a
melhoria da situação económica", afirmou.
Segundo o manifestante, a crise
económica que o país atravessa tem origem na "má gestão dos recursos
públicos e não pode ser coberta com os bolsos dos pobres. O que quer dizer que
os pobres não podem pagar pela má gestão dos recursos que Angola possui".
Desta feita, acrescentou ainda, o
Movimento Estudantil recomenda o Estado angolano e aos seus parceiros
"para que encontrem outras fontes para financiar o ensino público regular
e não nos bolsos dos pobres".
Deutsche Welle | Agência Lusa
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