Jorge Rocha* | opinião
Existe sério risco de os
portugueses se terem habituado a tão invariável sucessão de notícias sobre os
méritos da governação socialista à luz dos indicadores - sempre muito
positivos! - emitidos pelas mais variadas e insuspeitas instituições, que lá
virá o dia do surgimento de algum menos bom, passível de, então, ser
utilizado pelas direitas, e seus altifalantes, como questão quase catastrófica.
Vem isto a propósito de mais uma
evidência dessa qualidade governativa: como resultado das medidas tomadas em
sua intenção a taxa de pobreza e exclusão em Portugal baixou finalmente para
nível inferior ao da média da União Europeia. Depois de quatro anos dedicados
por Passos Coelho & Cª a empobrecerem uma parcela significativa de
portugueses, o governo de maioria parlamentar da legislatura agora concluída
infletiu essa queda no abismo com eficiente determinação.
Há, porém, quem se revele
inconformado com tal evolução: mostrando não ter cabimento no Partido de que
foi influente dirigente, Francisco Assis decidiu prosseguir na deriva para as
direitas, onde possa ser acolhido de braços abertos. Numa lamentável entrevista
à Renascença não só menorizou a vitória de António Costa há quatro anos -
considerando a dita «Geringonça» apenas como solução de recurso para escamotear
a derrota que ele tanto desejara! - e junta-se aos profetas da desgraça dando
como tempo limite de vida deste governo os dois anos. Triste é o que se pode
sentir ao lerem-se tais desaforos!
Podemos conjeturar o que possa
ter sucedido com a cabeça de Assis para tomar tão teimosa escusa à
interpretação racional da realidade, mas uma causa poderemos ilibar: a da
poluição que terá causado a morte prematura de seis mil portugueses
em 2016 devido em grande parte ao tráfego rodoviário. Ora, como ele se
encontrava então a recato de tão inquietante ameaça na sinecura europeia
proporcionada pelo Partido, que agora parece enjeitar em definitivo, outras razões
servirão de explicação.
Acontece que, se uns descem para
as catacumbas da irrelevância, outros sobem e bem alto: as notícias dão agora
conta do aumento da influência de Pedro Nuno Santos que vê o seu ministério
ampliar-se com a responsabilização da área dos portos e dos transportes
marítimos. Serão lautos milhões do orçamento de Estado para gerir e
rentabilizar de forma otimizada, tornando-o no protagonista de uma das mais
importantes vertentes de sucesso do governo nos próximos quatro anos: os
investimentos nas infraestruturas. Mas, inteligente como é, António Costa
igualmente atribui a Pedro Nuno Santos a tutela sobre algumas das classes
profissionais mais reivindicativas e com as quais importa potenciar os
reconhecidos dotes negociais do ministro.
Abrem-se, pois, bons augúrios para
o novo governo.
*jorge rocha | Ventos Semeados
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