Íria Roriz Madeira | Jornal de
Notícias | opinião
Está ainda em todo o lado e não é
só no fibrocimento. Existe em tintas texturadas, pavimento vinílico em mosaico,
mosaico hidráulico, tetos falsos, divisórias, nos fios de eletricidade e
condutas, apenas para enumerar alguns dos materiais. Pelo facto de ter sido
proibido a partir de 2005 existe a sensação de que o amianto é um problema do
passado. Efetivamente não é assim. Na euforia da reabilitação, nas últimas
décadas, muitos resíduos de construção e demolição contendo amianto foram
seguramente encaminhados e tratados como resíduos não perigosos contaminando
meio ambiente e expondo transeuntes e trabalhadores a uma matéria cancerígena.
Das profissões consideradas de
risco no manuseamento deste material o arquiteto, apesar de estar na linha da
frente no processo da edificação, não é, ainda, tido em conta. Este é o agente
de mediação entre a obra, dono de obra e empreiteiro. A forma como em Portugal
a obra é tratada deixa espaço para alguns erros: desde o dono de obra que
acredita poder levar a cabo a reabilitação do seu espaço sem contratar
profissionais (ou chamando apenas o empreiteiro), ao empreiteiro que deixa os
resíduos de construção e demolição (RCD) em locais ilegais e sem triagem, não
propiciando a sua valorização onde possível. Há ainda uma grande falta de
formação em particular e iliteracia no geral, no que diz respeito aos
intervenientes deste setor de atividade (construção civil). Estes desconhecem
os perigos a que estão expostos e a que expõem transeuntes e habitantes. De
forma transversal parece ainda haver uma desvalorização do papel e trabalho do
arquiteto, que fica confinado ao de desenhador quando o alcance do seu saber
permite a integração das várias áreas e o planeamento da obra. No que diz
respeito ao conhecimento dos materiais, por exemplo, este tem ainda,
historicamente, o saber da prática aplicada à utilização dos materiais em
diversos contextos e locais privilegiando a identidade do espaço onde se
justifica ou delatando a presença de materiais tóxicos ou contextos
inadequados.
O desconhecimento sobre a
existência e consequências do contacto com esta substância pode originar erros
fatais no entanto parece estarmos a descansar sobre o hiato de tempo em que
esta demora a ser detetada. O período de latência das doenças provocadas pelo
amianto vai de 10 a 60 anos. Num intervalo de tempo tão alargado a associação
da causa da doença à exposição a este tipo de material pode ser tarefa árdua.
Sendo os mesoteliomas e as asbestoses hoje seguramente ligados à exposição ao
amianto, vários tumores podem ser diagnosticados sem, no entanto, se conseguir
diretamente associação à sua presença desde o cancro do pulmão, ao
gastrointestinal, esófago ou ovários.
Segundo a Organização Mundial de
Saúde não há um número mínimo de partículas de amianto abaixo do qual possamos
considerar a nossa exposição segura. A possibilidade de qualquer um de nós ter
sido exposto ao amianto é enorme. Bastaria vivermos, termos vivido ou
trabalhado em edifícios construídos entre 1940 e 2005 onde podem existir
materiais que contêm esta matéria perigosa, termos frequentado uma escola ou passarmos
com frequência junto a um desses equipamentos com as placas de fibrocimento
degradadas, sermos frequentadores de um edifício público com amianto em
condutas, vivermos numa casa reabilitada onde se conservou o mosaico hidráulico
ou termos contacto com o vinílico do pavimento do centro de saúde que
frequentamos com os nossos filhos e pais para estarmos sujeitos ao risco de
contaminação. O Amianto está, potencialmente, em todo o lado.
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