Inês Cardoso* | Jornal de
Notícias
O meu médico de família tem
sempre tempo e um sorriso para os seus doentes e está disponível para os
atender em vários canais fora do horário de trabalho.
Apesar de não ter ligações ao
concelho, instalou-se numa pequena vila de quatro mil habitantes e dedica-se a
tempo inteiro ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). É, a julgar pelo que mostram
as estatísticas, um caso cada vez mais raro e que tende a ser pouco seguido
pelos jovens médicos.
É num contexto de dificuldades em
fixar os especialistas no SNS que o Governo inscreve no seu programa a promessa
de criar um regime de permanência no serviço público para todos os que terminem
o período de especialização. Não se sabe ainda como, nem por quantos anos.
Apenas se fala num "pacto" com os profissionais, o que pressupõe uma
negociação e contrapartidas para essa dedicação.
O problema é que não se trata
apenas de oferecer mais dinheiro. Não faltam profissionais que se dedicam ao
serviço público, mesmo perdendo rendimentos em relação a colegas que fazem
carreira no privado. A questão é que os hospitais deixaram de ter condições de
trabalho e os médicos sentem-se muitas vezes de mãos atadas pelas limitações na
resposta dada aos doentes. Há um problema de recursos humanos, sim, mas
profundamente ligado à degradação dos próprios serviços.
A saúde é o exemplo mais gritante
das consequências da falta de investimento acumulado nos últimos anos. Primeiro
por causa da troika, depois porque o equilíbrio das contas públicas tem vindo a
ser feito à custa de cativações e equilibrismos. Não adianta entrar num
discurso político que responsabiliza os profissionais pela falta de recursos -
seja na saúde ou na educação, onde dificuldades de outra natureza dificultam a
fixação estável de professores. Se houver serviços públicos de qualidade e
políticas globais que os valorizem, o mais simples será atrair profissionais.
*Diretora-adjunta
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