No Dia Internacional das Pessoas
com Deficiência, conversámos com vários cidadãos angolanos que falam sobre os
obstáculos quotidianos que têm de superar.
O sapateiro Irineu António, de 48
anos, é uma das mais de 650 mil pessoas com deficiência em Angola, segundo
dados do Censo de 2014.
Conhecido como "Kota
António" ainda pode ser considerado um homem de sorte, porque consegue
trabalhar e garantir o mínimo para a sua sobrevivência. "[Os
clientes] respeitam-nos e procuram os nossos serviços sempre que têm
sapatos para arranjar", destaca.
A compra do material de trabalho,
no entanto, ainda é uma das maiores dificuldades para o sapateiro da província
do Huambo. São objetos e produtos que têm de ser substituídos ou adquiridos
periodicamente e custam caro para quem tem o orçamento apertado. "Se o
Governo nos apoiasse [para garantir o material], ajudaria no sustento das
nossas famílias", conclui.
Já Geraldo Sapeu, de 28 anos,
vive uma situação mais complicada. O jovem conta que não consegue arranjar
emprego porque é cego, e vive de esmolas e da ajuda de familiares.
"Não recebo nada do Governo.
Até o local onde durmo é um problema. Eu preciso de apoio financeiro e uma
residência para resolver as minhas necessidades."
A mobilidade
e a acessibilidade são desafios diários para as pessoas com deficiência na
província de Huambo. Na rua, todo o cuidado é pouco. Sapeu desloca-se
devagar para evitar os riscos de um ambiente urbano que não inclui pessoas como
ele.
"Quem está à frente das
instituições não zela por isso. Temos que ter sempre cautela, porque, se a
gente entrar num buraco e se aleijar, não tem a quem recorrer", lamenta.
A Constituição angolana
estabelece o direito dos cidadãos à assistência na deficiência. Estipula ainda
a integração dos cidadãos com deficiência, o apoio às suas famílias e a remoção
de obstáculos à sua mobilidade.
A lei estabelece quotas para o
acesso das pessoas com deficiência ao mercado de trabalho: 2% para o setor
privado e 4% em entidades públicas. As instituições públicas deveriam
colocar rampas e outras estruturas nos seus edifícios para as pessoas com necessidades
especiais.
Mais do que acessibilidade
O sociólogo angolano Adilson
Luassi critica a letargia na aplicação da lei para que a pessoa com deficiência
se sinta incluída como cidadã e viva sem qualquer restrição. Luassi destaca que
o preconceito é um dos maiores obstáculos para essa camada da população.
"O Estado angolano, ao
empregar novo pessoal, busca eficiência e eficácia, e este é o lado errado do
modelo individualista de se olhar para as pessoas com deficiência".
Luassi acredita que a teoria da
lei deve ser colocada em prática e a sociedade e os próprios agentes públicos
têm de mudar a forma como olham para esses cidadãos. "Não se entende a
pessoa com deficiência como diminuída fisicamente, mas como pessoa inválida,
inútil".
José Adalberto (Huambo) |
Deutsche Welle
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