O presidente da UNITA, Adalberto
da Costa Júnior, avisa que o seu partido não vai engolir sapos e que estará na
linha da frente do combate por uma Angola para os cidadãos nem que, para isso,
no limite, tenha de sair às ruas. Esperemos para ver e, como é hábito, vamos
ficar sentados mas atentos. Se for para valer, estaremos também (é aí que
estamos desde 1995) na linha da frente.
Na edição da passada sexta-feira,
6, do programa Angola Fala Só da VoA com a participação de muitos ouvintes e
internautas, Adalberto da Costa Júnior acusou o MPLA de manter um regime
partidarizado, que nunca condenou a fraude eleitoral, que mantém controlada a
comunicação social pública e que divide a riqueza do país entre seus dirigentes.
“Não vamos engolir sapos, não
senhor”, reiterou o líder da oposição ante uma pergunta directa de um
internauta, nomeadamente sobre a fraude eleitoral que, para Adalberto da Costa
Júnior, “tem sido prática do regime”, como sempre “foi denunciado pela UNITA”.
As eleições autárquicas e o
programa da UNITA caso ganhe as legislativas em 2022 foram temas recorrentes do
programa, com Adalberto da Costa Júnior a garantir que, apesar de como disse um
internauta “o MPLA não querer realizar as autarquias”, “nós tudo faremos para
que elas sejam realizadas”.
Para o líder da UNITA, o partido
no poder “acostumou-se a governar na vertical, em que decide no topo e todos
obedecem” e, por isso, não quer as eleições autárquicas”.
“As autarquias colocam o poder na
horizontal e o MPLA tem medo da horizontalidade do poder” porque “os cidadãos
são ouvidos e participam na gestão” da sua região, do seu município.
Por isso, “as eleições terão de
realizar-se em todo o país” e não de forma gradual como quer o MPLA e “a UNITA
não abre mão disso”, reiterou o líder do principal partido da oposição que o
MPLA ainda permite que exista.
Nas respostas as questões
concretas colocadas por ouvintes e internautas, Adalberto da Costa Júnior
considerou que “quem incutiu o extremismo em Cabinda foi o Governo”, com a sua
política de desrespeito pela população e “privilegiando a repressão ao diálogo”.
“Há pouco tempo vi uma manifestação
extremada de mulheres em Cabinda”, precisamente por causa das políticas do
MPLA, referiu.
O presidente da UNITA disse
defender uma “ampla autonomia para Cabinda, como ponto de partida” para um
diálogo com todos e prometeu visitar Cabinda no início de 2020.
Justificou, a pedido de um
ouvinte, o facto de não ter estado naquela província durante a campanha por
“dificuldades no acesso a um lugar nos aviões na data prevista”.
Quanto às Lundas, onde dois
ouvintes descreveram a “situação de desrespeito pelos direitos humanos e
pobreza generalizada, com os estrangeiros a enriquecerem com as nossas
riquezas”, Adalberto da Costa Júnior foi duro contra o Governo que, segundo
ele, “tem violado todos os direitos humanos, abandonando a população e
distribuído as riquezas dos diamantes entre os dirigentes”.
A recente publicação do livro
“Heroínas da Dignidade”, da jornalista Bela Malaquias, em que denuncia fortes
violações de direitos humanos, entre outros crimes, do fundador da UNITA, Jonas
Savimbi, levou internautas a pedir a Adalberto da Costa Júnior um comentário às
“ameaças de morte contra a autora”.
“Essas ameaças não vieram da
UNITA, que respeita a liberdade de expressão e de opinião de todos”, respondeu
Adalberto da Costa Júnior, dizendo no entanto “não haver coincidência no facto
do livro ter sido lançado depois de um congresso bem sucedido e a reabilitação
da imagem do dr. Jonas Savimbi com o seu sepultamento”.
Adalberto da Costa Júnior
reiterou que não foge a nenhum tema e que, por exemplo, vai integrar antigos generais
da UNITA nas estruturas do partido, enquanto vai avançar com uma campanha de
pressão para a integração dos antigos militares nas estruturas do Estado.
“O processo está pronto há muito
tempo, na mesa do senhor Presidente da República, basta ele querer”, revelou o
presidente da UNITA, que prometeu, caso não haja uma solução nos próximos
tempos “recorrer aos tribunais angolanos, primeiro, e se não houver resposta,
aos tribunais internacionais”.
Nas grandes políticas, Adalberto
da Costa Júnior apontou como prioridades a educação, saúde, agricultura,
economia, “sempre em auscultação dos angolanos que têm noção da situação” do
país e, “no limite sairemos às ruas”.
E por falar em engolir… sapos
Em 2016, o então líder da UNITA,
Isaías Samakuva, afirmou que estava a “engolir muitos sapos” para preservar a
paz no país, face às constantes provocações que disse visarem o partido. E o
Folha 8 perguntou na altura: Finalmente? Ou apenas fogo-de-vista?
O então líder da UNITA foi um dos
convidados da conferência nacional sobre Paz, Democracia e Direitos Humanos em
Angola, organizada pela Associação Mãos Livres, o Fórum das Mulheres
Jornalistas e a Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD).
No painel sobre a visão dos
partidos políticos na manutenção da paz e consolidação da democracia e dos
direitos humanos em Angola, Isaías Samakuva defendeu que a promoção da paz tem
muito a ver com os discursos.
“E nós notamos com insistência
que há um discurso que dá a impressão que as pessoas têm saudades do conflito,
da guerra, querem voltar à guerra”, disse Isaías Samakuva, sem citar nomes.
Segundo o político, sem querer
fugir às responsabilidades ou culpas, considerou que diante de “um balanço
justo verão que a UNITA até tem estado a engolir muitos sapos”.
“Temos sofrido provocações,
humilhações e é a responsabilidade da manutenção da paz que nos faz calar e nos
faz engolir esses sapos”, afirmou, salientando que os discursos da principal
força política da oposição eram de apelo ao diálogo, à justiça e à manutenção
da paz. O político disse ainda que era várias vezes criticado por não agir em
muitos casos, mas preferia ficar calado e engolir os ditos sapos.
“Eu estou a ter receio quanto a
isso, é que a situação tende a evoluir para um ponto em que nós que estamos a
tentar fazer uma contenção enorme, podemos ser ultrapassados por aqueles que
acham que nós somos moles e que não estamos a fazer nada e um dia aparece um
aventureiro aí e depois tem seguidores e a situação fica muito complicada”,
alertou.
O então presidente da UNITA
considerou que a sociedade civil angolana devia conquistar e ocupar o seu
próprio espaço, para ser digna de se afirmar como parceiro institucional do
Estado, na garantia dos direitos humanos e em especial dos direitos económicos
e sociais dos angolanos.
Samakuva defendeu também que a
sociedade civil deve mesmo inventar novos estudos, projectos e campos de
intervenção social para a afirmação da cidadania económica, social e cultural
angolana.
Onde anda o apito da UNITA?
Recordemos – porque é preciso não
ter medo da memória – quais eram (e, embora maquilhadas, continuam a ser) as
teses do regime, no caso pela pata de Artur Queiroz, um dos mercenários de
eleição do Jornal de Angola, numa espécie de artigo publicado em 2015 sob o
título: “O apito de guerra de Isaías Samakuva”.
Segundo o mercenário-sipaio para
todos os serviços do MPLA, “Samakuva proporcionou aos “quadros” da UNITA uma
formação para se actualizarem no “Guia Prático” e nunca esquecerem que “é
preciso bater onde dói mais ao Povo Angolano”.
“Aos “quadros” da UNITA foi
prometido que iam marchar triunfalmente entre Muangai e Luanda. Depois a rota
mudou para a Jamba. Mais tarde, era do Triângulo do Tumpo até à capital,
levados ao colo pelos racistas de Pretória”, reproduziu o rapazola com, é claro,
todo o rigor na transcrição das “ordens superiores” do MPLA.
“Na guerra que se seguiu às
primeiras eleições multipartidárias, Savimbi prometeu que a rota vitoriosa ia
do Bailundo a Luanda. Uns meses depois corrigiu a bússola e a via triunfal ia
do Andulo à capital “dominada pelos crioulos””, conta o energúmeno, assumindo a
paternidade de um texto encomendado e ditado.
Continua: “Sempre que os bandos
armados da UNITA tomavam uma capital provincial, a UNITA dizia que a rota
triunfal ia dessas cidades a Luanda. Estava Samakuva a tratar dos negócios
alimentados pelo roubo dos diamantes e todas as traficâncias da Jamba, quando a
rota triunfal, traçada pelo chefe entre o Lucusse e Luanda, ficou deserta. O
chefe ficou com o semieixo partido, Sakala estava moribundo, os outros todos
também não se sentiam nada bem e ali acabou a aventura do criminoso de guerra
Jonas Savimbi”.
Estes são os sapos que a UNITA
tem engolido e que, tanto quanto parece, ainda não lhe causaram a indigestão
necessária para os vomitar e então assumir o que dizia, por exemplo, o primeiro
presidente do MPLA e de Angola, Agostinho Neto: O importante é resolver o
problema do Povo. E são 20 milhões de pobres.
Continuemos com as teses do
regime, na circunstância reproduzidas pelo mercenário Queiroz: “Entre eles, é
justo destacar, pela coerência na ameaça e no ódio à democracia, Samakuva.
Ainda há poucos meses, foi ao Huambo, andou pelas montanhas entre a Caála e o
Longonjo, e quando falou aos seguidores, anunciou que a rota vitoriosa estava
para breve, começava no Huambo e acabava em Luanda. Na altura ninguém deu
importância à sua bravata. Mas hoje temos dados que permitem concluir que o
líder da UNITA estava a ameaçar seriamente a paz, a estabilidade e, por isso
mesmo, o regime democrático”.
Ou seja, a UNITA é “presa” por
ter cão e também por não ter cão. Tem a fama mas não tem o proveito. Não
estará, de facto, na altura (e já foi muito o tempo perdido) de ter algum
proveito, de honrar o sofrimento de um Povo que o único “crime” que cometeu foi
ser angolano, embora de terceira categoria?
Continuemos com a tese do MPLA:
“O que se passou a seguir, apenas vem confirmar que Samakuva é inimigo jurado
da paz e da democracia. Ao discursar para os “quadros” da UNITA em formação nas
técnicas de “bater onde dói mais”, o chefe do Galo Negro não poupou nas
palavras: “Eu penso há uns dois meses ou há um mês que da forma como o país
está a andar, da forma como os angolanos estão a ser tratados, da forma como os
nossos governantes violam as leis, da forma como nos governam, um dia nós vamos
tocar o apito da alvorada”.
É claro que, diz o Povo, o apito
deve ter sido engolido juntamente com os sapos, razão pela qual nunca ninguém
mais ouviu falar dele. E é pena. Talvez Adalberto da Costa Júnio o tenha
encontrado…
“Os formandos exultaram, berraram
pelo nome de Savimbi e exigiram que a marcha triunfal começasse imediatamente.
Samakuva, com sorriso cínico, acalmou a turba: “Não nos empurrem, o apito da
alvorada só vai tocar quando nós acharmos que é oportunidade para tocá-lo”. Os
“quadros” ficaram inquietos, berraram ainda mais alto pelo nome de Savimbi e
exigiram que o sangue corresse nas ruas, de imediato. Samakuva, compreensivo,
afirmou: “Nós compreendemos a ânsia das pessoas ouvirem o apito tocar, mas quem
toca o apito tem de ler a situação, tem que fazer uma leitura correcta da situação
e saber qual é a oportunidade de tocar o apito. Alguns não sabem se tocar o
apito leva ar, é preciso arranjar um bom apito, é ou não é verdade? Primeiro
você tem que ter o tal apito, é ou não é verdade? Depois tem que ter a tal
energia para soprar o tal apito, para se ouvir em toda a parte”, recordou o
invertebrado mercenário.
E então?
Conta o pasquineiro que “Samakuva
concluiu o discurso ante os “quadros” que estão a actualizar as formas de
“bater onde dói mais”, com esta tirada: “O que é que vamos esperar de um
Governo que nem sequer consegue tirar o lixo da nossa porta, o que é que
podemos esperar de um Governo que não consegue nos trazer água, o que é que
podemos esperar dele, a maioria está nestas condições. Alguns pensam que isso
acontece por outras razões. Não. Acontece porque eles são incompetentes. Eles
não sabem governar, para eles governar é encher os seus bolsos.”
Mais uma vez o regime mandou o
simiesco escriba recordar que “a maioria democrática que Governa Angola foi
muito competente quando salvou a vida a milhares de quadros políticos e
militares do Galo Negro nas matas do Lucusse e em todo o país. Famintos,
piolhosos, moribundos, todos foram salvos da morte certa. Samakuva devia ser
grato aos que lhe dão o estatuto de líder político em vez de o levarem ao
Tribunal Penal Internacional por conivência com o regime de apartheid da África
do Sul e autor material e moral de gravíssimos crimes de guerra.”
Bem vistas as coisas, o Povo
interroga-se se o facto de Isaías Samakuva ter uma tão grande capacidade para
engolir sapos não é resultado da capitulação, que parece eterna, perante o
regime do MPLA ou, o que vai dar ao mesmo, da substituição da mandioca pela
lagosta.
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