Líder da RENAMO pediu à
comunidade internacional que impeça a "ditadura monopartidária" em
Moçambique. Ossufo Momade terminou uma visita à Holanda, este sábado (07.12), a
apontar o dedo ao Governo da FRELIMO.
De acordo com os resultados
preliminares das eleições moçambicanas de 15 de outubro, a Frente de Libertação
de Moçambique (FRELIMO) ganhou com maioria qualificada no parlamento e o atual
Presidente, Filipe Nyusi, foi reeleito, resultados que a Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO) não reconhece, assegurando ter provas de fraude.
Caso o Conselho Constitucional
confirme os resultados, o maior partido da oposição moçambicana irá reunir
"os órgãos do partido: a comissão política nacional e o conselho nacional",
porque a decisão de tomar posse dos lugares eleitos não pode resultar de
"um posicionamento apenas do presidente", disse Momade à agência
Lusa, numa entrevista por telefone.
Em dezembro, "os órgãos vão
reunir e vão decidir qual vai ser a decisão do partido", explicou o líder
da RENAMO, que terminou hoje uma visita à Holanda.
Na viagem, Ossufo Momade levou
uma caixa com "boletins que estão fora do circuito da Comissão Nacional
Eleitoral (CNE)" e que estão pré-preenchidos com uma cruz nos candidatos
da FRELIMO.
"Desta vez, nós trazemos
elementos que provam fraude eleitoral", disse Momade, considerando que os
observadores internacionais "não podem ficar calados" perante
"evidências tão claras".
"Em Moçambique, está
instalado um regime que não quer abandonar o poder e, para não sair do poder,
usa a polícia" contra a oposição, afirmou, acrescentando: "É uma
coligação: polícia, a CNE, o STAE [Secretariado Técnico de Administração
Eleitoral] para manietar a RENAMO".
Na Holanda, Ossumo Momade
reuniu-se com parceiros internacionais do seu partido, entre os quais o
Instituto Holandês para a Democracia Multipartidária.
"Nós temos confiança na
comunidade internacional na medida em que não gostaríamos que voltássemos aos
erros do passado", em que o país viveu uma situação de guerra civil, disse
à Lusa.
"A democracia está
tremida" em Moçambique, afirmou o líder do maior partido da oposição no
país.
"Não gostaríamos de voltar
para o monopartidarismo", mas vive-se "uma situação muito alarmante,
na medida em que as eleições não foram justas livres e transparentes",
acrescentou.
Ataques no centro do país
Ossufo Momade classificou de
"desertor" Mariano Nhongo, líder da autoproclamada Junta militar da
RENAMO, e acusou-o de estar a promover ataques a civis no centro do país.
"Nós nos distanciámos logo
da Junta Militar", afirmou.
O líder da RENAMO aponta o dedo à
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ao acusar o Governo de ter
permitido o crescimento deste grupo dissidente armado no centro do país.
"O Estado não tomou
precauções no início porque queria prejudicar politicamente a RENAMO",
acentuando a divisão, e hoje está a deparar-se com vários ataques nas vias do
centro do país, considerou Momade.
O dirigente da RENAMO afirmou que
quem apontar responsabilidades ao seu partido nesses ataques "está
errado": "Nunca violámos as regras do nosso antigo e saudoso
presidente [Afonso] Dhlakama [líder histórico da RENAMO]."
Mais falhas do Governo
Ossufo Momade acusou ainda o
Governo de Moçambique de ter falhado ao contratar mercenários russos para
liquidar insurgentes islâmicos no norte do país, ignorando o real problema das
populações.
"O Governo de Moçambique foi
à Rússia e trouxe de lá mercenários", mas "esses que fizeram a
intervenção militar hoje já não estão lá" porque "viram que alguma
coisa está errada", não conseguindo resolver os problemas, que "têm
razões profundas" e mostram as divisões sociais e económicas daquela
região, afirmou Ossufo Momade.
"O envolvimento dos
estrangeiros está a diluir aquilo que é o pensamento dos moçambicanos"
sobre os conflitos sociais e religiosos que estão na origem dos ataques a alvos
civis ou ligados ao setor petrolífero, que está a fazer fortes investimentos na
província de Cabo Delgado, considerou.
O dirigente da RENAMO disse
também que "a primeira coisa" que "queria que o Governo fizesse
era apresentar o caso do conflito de Cabo Delgado na Assembleia da
República", promovendo a discussão sobre o melhor modo de resolver os problemas,
"mas ainda não fez".
Estima-se que haja centenas de
mortos vítimas dos ataques e, para lidar com esses problemas, a "União
Europeia tinha um outro pensamento", que previa investimentos sociais e
económicos junto das comunidades para obter "um bom resultado em Cabo
Delgado", destacou Momade.
"Nós não concordamos com uma
intervenção militar", acrescentou Momade.
"Cada dia que passa,
moçambicanos morrem, as suas residências são destruídas, mas ninguém sabe o que
se está a passar em Cabo Delgado" e "esta situação está a alastrar-se
para outros distritos", concluiu.
Deutsche Welle | Agência Lusa, cvt
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