O líder da APU-PDGB apoia um
candidato, mas a direção do partido puxa pelo adversário. Partidos estão
divididos sobre quem apoiar na segunda volta das presidenciais guineenses. A
campanha eleitoral começa na sexta-feira.
A direção da Assembleia do Povo
Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) revelou na
segunda-feira à DW África que vai apoiar o candidato do Partido Africano para a
Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos
Simões Pereira (DSP), na segunda volta das presidenciais,
prevista para 29 de dezembro. A decisão do partido vem assim contrariar a
do seu líder Nuno Gomes Nabiam, que assinou um acordo político com Umaro
Sissoco Embaló à margem dos estatutos de APU-PDGB.
Em entrevista à DW África,
Armando Mango, segundo vice-presidente do partido APU e também segunda figura
no Governo de Coligação no país, disse que o partido vai fazer campanha para
pôr DSP na Presidência da República pela coerência e pela estabilidade
governativa.
"Vamos apoiar o engenheiro
[Domingos] Simões Pereira. Esta é a decisão do partido em conformidade com o
acordo de incidência parlamentar que tínhamos assinado com o PAIGC. O partido
vai continuar a respeitar aquilo que aprovou pelos seus órgãos, que é
alinhar-se com o PAIGC nos próximos quatro anos para garantir a
estabilidade governativa do país e fazer com que DSP seja eleito Presidente da
República para manter essa estabilidade", disse o dirigente político.
Domingos Simões Pereira e Umaro
Sissoco Embaló disputam a presidência da Guiné-Bissau, na segunda
volta, marcada para 29 de dezembro. A campanha eleitoral começa na sexta-feira,
13.
Na semana passada, Nuno Nabiam,
presidente do partido APU, declarou apoio a Umaro Sissoco Embaló, candidato
suportado pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15, líder da
oposição). Mas os órgãos de decisão do partido acusam Nabiam de agir sem os
consultar e de apoiar um candidato que, em caso de vitória, vai derrubar o
Governo em que seu partido faz parte.
"Sabemos que o Umaro Sissoco
tinha declarado que se for eleito irá demitir o atual Governo. Nós como somos
legalistas e democratas, somos pelo Governo que saiu das eleições e não o
Governo inventado, só porque alguém foi eleito Presidente. Vamos continuar a ser
aquele partido que sempre defendeu a legalidade, democracia e a meritocracia e
não os golpes de baixo nível”, afirmou Armando Mango, para justificar que
Domingos Simões Pereira seria um Presidente capaz de garantir a estabilidade
governativa.
Militantes do lado da direção
Armando Mango avança que o
partido tem muito a debater depois das presidenciais, na sequência das posições
tomadas pelo seu líder contra o Governo. A direção diz que os militantes do APU
continuam do seu lado e conhecem as regras do partido. É Nuno Nabiam quem deve
submeter-se aos estatutos do APU, segundo Mango.
"APU continua a ser um
partido coerente, que defende a verdade em que todas as decisões são tomadas na
base dos órgãos do partido. Uma vez que Nuno Gomes Nabiam, apesar de ser o
presidente do partido, foi envolver-se num acordo sem passar pela discussão dos
órgãos do partido, só pode ser uma coisa: essa decisão é apenas de Nuno Nabiam
e não a do partido. Porque APU não foi tido nem achado nesta decisão”, declarou
o também ministro da presidência do Conselho de Ministros e porta-voz do
Governo liderado por Aristides Gomes.
A DW tentou sem sucesso ouvir a
versão de Nuno
Gomes Nabiam sobre o assunto. Nabiam foi o terceiro candidato mais
votado na primeira volta das presidenciais, a 24 de novembro, com 13,16%
dos votos.
Cada um por si
A divisão no seio dos partidos e
candidatos derrotados tem-se multiplicado. O Partido da Renovação Social (PRS)
apoia Sissoco e um grupo de dirigentes, incluindo um membro fundador, Ibraima
Sorri Djaló, apoia Domingos Simões Pereira.
O Movimento Patriótico Guineense,
que suportou o candidato independente, Carlos Gomes Júnior, na primeira volta
diz que ficará neutro na segunda, apesar de Carlos Gomes Júnior apoiar Umaro
Sissoco Embaló.
O analista político Luís Petit
fala em falta da maturidade e coerência política por parte dos políticos.
"Significa que ou uma parte está aliciada ao poder, não só poder político,
mas também aos ganhos económicos, ou há outros benefícios subjacentes a todo
esse apoio. Nuno Nabiam andou a criticar Sissoco deste 2014 como um perigo para
o país, mas hoje associou-se a ele", lembra.
"Falta coerência"
O analista critica também a
posição do Presidente cessante, que falhou a sua reeleição. José Mário Vaz vai
apoiar Umaro Sissoco Embaló na segunda volta. "Aos políticos
guineenses falta uma grande dose de coerência política. José Mário
Vaz, depois de ter vangloriado Sissoco como melhor filho da Guiné-Bissau,
aquando da sua nomeação como primeiro-ministro, deu uma volta de 180 graus,
dizendo que o mesmo é perigoso, num áudio que vazou e que não desmentiu. O que
corresponde à verdade. Se Sissoco fosse inteligente, não aceitaria o apoio
de Jomav", considera Luís Petit.
O analista argumenta que o facto
de José
Mário Vaz não atingir a segunda volta, estando na presidência,
significa que o povo fez uma avaliação dos seus cinco anos de mandato e deu-lhe
o "cartão vermelho". Por isso, deveria tentar "salvar" a
sua honra e ficar de fora na segunda volta, sem declarar apoio a ninguém. Petit
entende que as alianças que se fazem contra o candidato do PAIGC só trarão
benefícios a Domingos Simões Pereira. Porque esses candidatos derrotados acabam,
desta forma, por reconhecer a sua derrotada antecipada e não conseguem
imigrar-se com a sua máquina de apoio no terreno.
As sétimas eleições presidenciais
guineenses são tidas como cruciais para a estabilização política da
Guiné-Bissau, que realizou legislativas em março.
Braima Darame | Deutsche Welle
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