Bruna Adamatti*
O presidente da França, Emmanuel
Macron, convidou seus confrades do Normandy Four (“Os quatro da Normandia”, em
tradução livre) a se reunirem em Paris no dia 9 de Dezembro deste ano (2019),
para dar continuidade aos diálogos conhecidos como “Normandy Format” (formato normando), sobretudo para
discutir os conflitos na região de Donbass. Rússia, Alemanha, França e Ucrânia
participarão da cúpula, cujas negociações serão retomadas após três anos de
recesso.
Os líderes das nações
comprometidas a resolverem os conflitos que iniciaram em 2014 no leste da Ucrânia
possuem diferentes expectativas quanto ao resultado do encontro. De acordo com
Steven Pifer, ex-embaixador americano na Ucrânia, enquanto o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pende para
um acordo de paz, Moscou parece interessada em sustentar a guerra.
Neste contexto, o Atlantic Council aponta que o Kremlin afirma
abertamente sua vontade de ter reconhecidas as auto-proclamadas “repúblicas”
russas criadas em Donbass e que o governo ucraniano as incorpore numa Ucrânia federalizada de-facto. Após os
incidentes com a Crimeia, a influência russa na região traz sentimentos de um restabelecimento da União Soviética,
de modo que analistas inferem que, caso Zelensky não seja fortemente interpelado pela França e
pela Alemanha frente a Putin, é tempo de abandonar ou de expandir o formato
normando. Pifer acredita que, caso falhem as negociações, os Estados Unidos
devem intervir junto aos países europeus, tornando o engajamento militar da Rússia mais oneroso, ou mesmo
criando um plano próprio de paz.
A maneira como Macron e Merkel
vão se portar na cúpula não é clara. A chanceler alemã apoia o controverso projeto Nord Stream 2 de
passagem de gás da Rússia para a Alemanha pelo Norte, no Mar Báltico. Macron,
por sua vez, tem se destacado pelas críticas à OTAN e pelo bloqueio da Macedônia para se unir
à União Europeia, movimentos que condizem com posicionamentos políticos
russos.
Zelensky tem adotado uma posição
conciliatória, porém, firme. Tal como o caso em que Kiev recusou-se a negociar diretamente com as administrações em Donetsk e
Luhansk e a garantir anistia a quem cometeu crimes no leste ucraniano.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Vadym Prystaiko, destacou que Kiev está disposta a assumir compromissos, mas não irá mexer em
questões fundamentais. O governo de Zelensky surpreendeu desde o início ao
mostrar resiliência e vontade de cooperar: um cessar fogo de que interveio “durou mais que os anteriores”, “houve troca de prisioneiros de alto escalão e uma retirada
parcial de tropas foi acordada e implementada”.
Gwendolyn Sasse, pesquisadora na Carnegie Europe, afirma
que os países negociadores devem manter em mente que “os residentes dos territórios não controlados pelo governo
expressam preferência por permanecer no Estado ucraniano”. Entre os tópicos
levantados por Kiev a serem discutidos, a lei sobre o status especial de
Donbass, projetada nos acordos de Minsk, é crucial, mas Moscou rebate dizendo ser “inadmissível” a revisão dos protocolos. Para a
próxima Normandy Four, apenas é certo que Putin e Zelensky concordam que a
expectativa maior é que a cúpula produza “acordos de ferro”.
*CEIRI News
Imagem: “Visita Oficial de
Zelensky à Alemanha” (Fonte – Адміністрація Президента України [CC BY
4.0): https://creativecommons.org/licenses/by/4.0)
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