domingo, 1 de dezembro de 2019

REINTERPRETAR O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA – IX


Martinho Júnior, Luanda 

SUBSÍDIOS EM SAUDAÇÃO AO 11 DE NOVEMBRO DE 2019

Uma das maiores deficiências de que sofrem os africanos duma forma geral e os angolanos em particular, é a ausência de reflexão própria sobre os fenómenos antropológicos e históricos afectos ao seu espaço físico, geográfico e ambiental.

Essa falta de vontade e de perspectiva abre espaço ao conhecimento que chega de fora, em prejuízo do conhecimento que tem oportunidade de florescer dentro, ou seja: subvaloriza o campo experimental próprio, quantas vezes para sobrevalorizar as teorias injectadas do exterior!

Isso permite que outros não abram o jogo sobre essas interpretações dialéticas em função de seus interesses, manipulações e ingerências, aplicando a África, por tabela a Angola, as interpretações estruturalistas de feição, de conveniência e de assimilação!


Esta série pretende reabrir dossiers que do passado iluminam o longo caminho da libertação dos povos da América Latina e Caribe, de África e por tabela de Angola, sabendo que é apenas um pequeno contributo para o muito que nesse sentido há que digna e corajosamente fazer!

Abrir os links permite complementar com fundamentos, muitas das (re)interpretações do autor.

Nota: Esta série tendo como horizonte o 11 de Novembro de 2011, propiciará continuidade para outra que a ela se vai seguir.




33- As condições conjunturais do surgimento do movimento de libertação em África estão intimamente associadas a correntes religiosas e messiânicas, contrárias ao próprio carácter fascista e colonial e à sua acção de contínua opressão, repressão e obscurantismo nos territórios colonizados. (https://www.academia.edu/11791280/Igrejas_crist%C3%A3s_e_nacionalismo_angolano_o_paradoxo_cat%C3%B3lico?email_work_card=thumbnail).

“Dilatar a fé e o império” (http://bmgil.tripod.com/mgfm23.htmlhttps://www.monarquia.org.br/mensagem-denatal-2018.htmlhttps://journals.openedition.org/carnets/3540), uma evocação que foi continuada pelo fascismo e colonialismo nos próprios termos de sua conduta, do seu pensamento e de sua acção, só poderia gerar contraditórios, desde logo na sensibilidade religiosa, quando ainda-por-cima e como recurso, se evocava a Concordata e o Acordo Missionário com a Santa Sé de 7 de Maio de 1940, firmados num período de ascensão do nazismo e do fascismo na Europa e reflectindo desde logo esse tipo de correntes ideológicas no interior das duas entidades que o assinaram!... (http://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/archivio/documents/rc_seg-st_19400507_missioni-santa-sede-portogallo_po.htmlhttps://www.jstor.org/stable/41011290?seq=1).


Esse tipo de enredos foram desse modo também inspiradores do carácter da superestrutura ideológica do “Le Cercle”, uma inequívoca aptidão das “redes stay behind” da NATO desde a sua fundação e com um papel a desempenhar no seu flanco sul no âmbito da internacional fascista, para dentro do continente africano!... (https://apokalypsnu.nl/2019/04/24/operation-gladio-nato-cia-stay-behind-secret-armies-light-on-conspiracies-revealing-the-agenda/https://www.voltairenet.org/article170466.html;  http://www.avante.pt/pt/1966/temas/115672/http://www.avante.pt/pt/1967/temas/115757/http://www.avante.pt/pt/1968/temas/115849/).

A evolução do modelo de informações português em Angola (de 1961 a 1974), dá-nos uma ideia da conjugação de esforços civis e militares no âmbito da guerra psicológica, de contrainsurgência e acção integrada, que reflectia a aptidão do “Le Cercle” já com o Exercício Alcora em desenvolvimento, o que permitia capacidade de intervenção até em sectores religiosos instalados no território angolano e sobretudo por dentro da igreja católica, tendo em conta os quesitos da “defesa” da Concordata e o Acordo Missionário com a Santa Sé de 7 de Maio de 1940… (https://www.academia.edu/28643723/Modelo_de_Informa%C3%A7%C3%B5es_Portugu%C3%AAs_no_Teatro_de_Opera%C3%A7%C3%B5es_de_Angola_1961-1974).

Quero com isto dizer que, se no clero originário do “indigenato” formado ao abrigo dessa corrente e da assinatura da Concordata, paulatinamente (e ao longo do processo de tentativa de assimilação) foi germinando o desacordo com o carácter do colonialismo e os seminaristas tornavam-se invariavelmente abertos aos pressupostos da luta pela independência, sem abdicarem porém das relativas fórmulas inerentes à superestrutura ideológica da doutrina religiosa “conformada” àquela época ultraconservadora em que foram “educados”, por que não alimentaram a necessária chama duma tão “incómoda” luta armada numa conjuntura como aquela, pejada de armadilhas, de escolhos, de obstáculos, de etno-nacionalismos rampantes e de imensos sacrifícios auto consentidos! (http://wizi-kongo.com/historia-do-reino-do-kongo/os-bakongo-de-angola-a-nacionalidade-na-fronteira/;  https://www.revistas.usp.br/africa/article/view/74410https://www.revistas.usp.br/africa/article/view/74410/78038http://pagina--um.blogspot.com/2010/11/1975-guerra-pela-independencia.html).

Sair do aconchego dos claustros para uma guerrilha nas selvas e nas savanas era demais para muitos deles!

Essa constatação facilitou até ao 25 de Abril de 1975 as intervenções discretas mas influentes dos SCCIA e da PIDE-DGS nas próprias missões católicas e protestantes (com a utilização por vezes dos Flechas, quando os missionários eram marcadamente hostis – https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=27158:os-flechas-o-exercito-secreto-da-pide-em-angola&catid=9&lang=pt&Itemid=1078), nos próprios seminários onde eram “filtrados” os padres angolanos, quantas vezes por via indirecta (usando correias de transmissão como autoridades administrativas, ou mesmo oficiais dos Serviços de Informação Militar), sabendo que os seminaristas (futuros padres, ou futuros quadros administrativos), quando da prestação do serviço militar obrigatório, recebiam instrução ao nível de oficiais milicianos subalternos (no caso de Angola na Escola de Aplicação Militar de Angola, EAMA, na cidade do Huambo). (https://www.facebook.com/groups/437075123133307/;  https://www.youtube.com/watch?v=wa0SnyyZt9s;  https://arquivos.rtp.pt/conteudos/juramento-de-bandeira-em-nova-lisboa-2/https://www.revistamilitar.pt/artigo/515).


34- No princípio (desde o início da década de 50), a repressão foi brutal, algo que foi evidenciado pela advogada Maria do Carmo Medina, não só em livro (“Angola, processos políticos da luta pela independência” –  http://virtualbss.com/book/angola-processos-politicos-da-luta-pela-independencia/;  https://www.portaldeangola.com/2016/01/08/processo-dos-50-processos-politicos-da-luta-pela-independencia/), mas também na entrevista que deu à Rádio LAC de Luanda que resultou no livro de José Rodrigues, “Entrevistas com a história”. (https://www.facebook.com/luanda.antena.comercial/posts/1219313754922285/).

Entre as respostas na entrevista à muito digna advogada Maria do Carmo Medina (considero-a uma das imprescindíveis heroínas de Angola), selecciono estas duas, que revelam o ambiente sociopolítico e humano da época, tendo em conta que foi a consciência crítica em ruptura dos assimilados que os fez mover duma forma geral convictamente contra a opressão e a repressão colonial em finais de 1959, arrostando com todos os riscos que isso na época implicava a cada um e às respectivas famílias:

… “Eu tive uma orientação que foi uma excepção e é evidente que quando eu fiz a minha defesa, fi-la de acordo com a minha apetência profissional.

Cada um de nó era um profissional de foro e cada um orientava a defesa como melhor entendia.

As minhas linhas de defesa eram bastante claras.

Primeiro: houve panfletos, houve relatórios que foram enviados para a Organização das Nações Unidas e outras entidades que a PIDE e o promotor de justiça, em acusação, diziam que eram factos falsos, atentórios do bom nome e prestígio de Portugal.

E nós dizíamos: não, não eram factos falsos.

São factos verdadeiros – o trabalhador era explorado, o angolano era deportado, existe a categoria de indígena e assimilado, que abrange uma pequeníssima margem da população, etc.

 Depois, havia um aspecto processual muito importante em que nós, digamos, fazíamos finca-pé, que era dizer que os presos eram levados pela PIDE, eram torturados, sujeitos à tortura da estátua e à pancadaria e, quando quisessem ditar as suas declarações para as actas, era-lhes impedido.

Portanto, quem escrevia a declaração para os presos era a PIDE.

E se o preso dissesse eu não disse, isso era esmagado pela tortura e pela coacção.

E o outro elemento fundamental era impugnar a aplicação do famigerado artigo 141º do Código Penal que dizia: aquele que intentar a integridade do país e quiser em meios fraudulentos e com auxílio do estrangeiro separar partes da mãe pátria é acusado de crime de separatismo, condenado de 20 a 24 anos de cadeia e medidas de segurança infinitas.

Portanto a defesa era dizer que não há mãe pátria, nem há parte de mãe pátria.

Angola é um território autónomo, não falava e devo dizer e aí também é preciso que se note não dizia que Angola tinha direito à independência, senão eu, já me faria julgar e condenar, então aí, não tinha havido nenhum apelo nem agravo.

Dizia: Número 1 – Angola tem direito à autodeterminação, não é parte da metrópole.

Número 2 – os factos denunciados não são falsos, são verdadeiros.

3º - o que está nos volumes de acusação, que era um volume, oito, nove, dez, onze volumes, não corresponde às declarações  dos presos.

São obtidos através de tortura e quem escrevia era o escrivão da PIDE.

Normalmente, quer dizer, estas eram, digamos, as linhas que eu entendi defender”…

… “Eu tinha uma fórmula deontológica que sempre foi aplicada rigorosamente.

A família dos presos vinha ter comigo, pedia-me para eu aceitar a defesa, eu tinha uma disponibilidade para defender X arguidos, porque, depois, vinham muitos mais e eu já tinha, digamos, alguns a defender e não ia defender todos.

Depois deslocava-me às cadeias da PIDE ou à Casa de Reclusão para recolher elementos.

Tenho ainda alguns autógrafos escritos por estes presos e nunca perguntei nem qual era a sua ideologia política nem qual era a sua crença religiosa.

Perguntava e confirmava é que eram nacionalistas integrados na corrente de luta.

Todos eles entraram na cadeia, saíram da cadeia, porque lutaram por causa do nacionalismo e por amor à pátria.

É evidente que se eles, já a meio d caminho, mudassem de rumo, a coisa poderia ser diferente.

É evidente que havia o respeito total pela forma como eles se integraram na luta pela independência”…

… A luta armada de libertação em África provocou por via da consciência crítica em relação ao colonialismo, essa alentadora ruptura nos processos de assimilação até à consumação do Programa Mínimo do MPLA em Angola, acabando todavia e mesmo por ter dentro do próprio MPLA, por haver manifestações contraditórias (entre o conformismo do claustro e o inconformismo militante), por via de figuras históricas como o padre Joaquim Pinto de Andrade e o seminarista Mário Pinto de Andrade, componentes da Revolta Activa e figuras que antes foram proeminentes fundadores!... (https://www.dw.com/pt-002/mpla-em-d%C3%ADvida-com-m%C3%A1rio-pinto-de-andrade/a-45335412https://www.buala.org/pt/autor/mario-pinto-de-andrade;  http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_3944).

A lógica com sentido de vida que se impunha no rumo que encetou António Agostinho Neto, obrigando à segurança vital, à organização, ao rigor; à negação da “lei do menor esforço” e à disciplina do próprio núcleo duro no entorno do líder, por que havia antes de tudo o mais que dar o exemplo, com o andar dos anos tornou-se insustentável para quem não queria arriscar inequivocamente o “todos para o interior” e a continuação da luta contra o colonialismo na luta contra o “apartheid”, intrínseca vontade do “pensamento estratégico de Agostinho Neto”! (http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=358:namibia-homenageia-agostinho-neto&catid=77:2010&Itemid=246).


35- Recorda ainda e a propósito, a historiadora Maria da Conceição Neto em relação ao que foi desencadeado em 1961 e anos seguintes, nos alvores da luta de libertação em Angola (https://www.academia.edu/11791280/Igrejas_crist%C3%A3s_e_nacionalismo_angolano_o_paradoxo_cat%C3%B3lico?email_work_card=thumbnail):

… “Uma coisa é a doutrina, outra a estratégia política e o Vaticano não estava disposto a abdicar, a curto prazo, da aliança com o regime colonial de Salazar. O caso dos padres angolanos desterrados [p. 197] em Portugal continuou praticamente silenciado nos órgãos oficiais da Igreja Católica. Em Julho de 1969, o MPLA, a FRELIMO e o PAIGC, numa carta aberta enviada à Conferência Episcopal Africana reunida em Kampala a propósito da primeira visita do Papa a África, incitavam os Bispos africanos a solicitarem de Paulo VI uma clara tomada de posição anticolonial. O texto, assinado por Agostinho Neto, Uria Simango e Amílcar Cabral, destacava que a guerra que Portugal trava nos nossos três países realiza-se com o apoio explícito da Igreja Católica em Portugal e que a repressão atingia os próprios padres africanos. Apesar de reconhecerem algumas atitudes de oposição ao regime e ao colonialismo no seio dos Católicos portugueses, a carta afirmava não se poder dissociar Roma da Igreja Católica em Portugal, se Roma em si não o faz. E alertavam: a posição futura dos nossos povos face à Igreja Católica dependerá em grande parte da posição que a Igreja tomar hoje em relação ao problema fundamental que se põe aos nossos povos, a saber, o pro­blema da reconquista da nossa dignidade e da nossa sobe­rania de povos africanos, BRAGANÇA e WALLERSTEIN 1978, I: 273-275.

A 1 de Julho de 1970, o papa Paulo VI recebeu em breve audiência Agostinho Neto do MPLA, Marcelino dos Santos da FRELIMO e Amílcar Cabral do PAIGC. O gesto era um pequeno mas simbólico sinal de mudança na atitude pública do Vaticano a respeito das colónias portuguesas e assim o entendeu também o governo português, que protestou energicamente, pouco satisfeito com as justificações e explicações de Roma”… (http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/580466-quando-paulo-vi-recebeu-no-vaticano-48-anos-atras-tres-lideres-de-movimentos-armados-amilcar-cabral-agostinho-neto-e-marcelino-dos-santoshttps://www.rtp.pt/noticias/mundo/urss-deu-grande-importancia-a-audiencia-de-paulo-vi-a-movimentos-de-libertacao-das-colonias-portuguesas_n209251https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/africa/2015/2/10/Italia-Conferencia-Roma-assinala-anos-independencias-dos-PALOP,6c96795d-4527-443a-a1cd-f9711429d6c0.html).

Foram precisos mesmo assim 30 anos, (1940 – 1970), para o Vaticano se decidir por “um pequeno mas simbólico sinal de mudança na atitude pública do Vaticano a respeito das colónias portuguesas”… imagine-se quanto custa ao Vaticano abordar publicamente a sua cumplicidade com o tráfico de escravos desde a plena época colonial de sua rentabilização sob o rótulo da dilatação da fé e do império, até aos nossos dias em plena e rendável globalização do império da hegemonia unipolar!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/10/reinterpretar-o-movimento-de-libertacao.html).

Imagine-se também quanto a superestrutura ideológica de que se serve o “Le Cercle” (https://www.youtube.com/watch?v=-3FJQy7k9kI&fbclid=IwAR39YGm5wvFJs4mDGqux1Fd-4mP3zf5L2cpukHHyZw4Y0GEsG0PDheclSfg) se tem vindo a refinar no sentido camaleónico do termo, isto é, sem deixar de se identificar com os sectores mais ultraconservadores não só da Igreja Católica Apostólica Romana, mas também, transversalmente, das igrejas protestantes e fundamentalistas cristãs!... (https://www.youtube.com/watch?v=rgQMhAZPysohttp://wizi-kongo.com/luta-de-libertacao-de-angola/os-protestantes-na-guerra-angolana-depois-da-independencia/).

Essa identificação do “Le Cercle” tinha na década de 60 um peso especial sobre África, a ponto de se tornarem possíveis contenciosos como a Guerra do Biafra que os investigadores consideram um episódio à parte, quando tinha tanto que ver com as práticas de conspiração ao longo das décadas de 60, 70 e 80 do século XX… (https://ionline.sapo.pt/artigo/649588/fernando-cavaleiro-ngelo-todos-tiveram-responsabilidades-nesta-catastrofe-que-houve-em-africa-?seccao=Portugal_i).


36- O Exercício Alcora (em curso entre 1964 e 1974), o acordo secreto entre o colonialismo português e os racistas da Rodésia e África do Sul, (https://www.revistamilitar.pt/artigo/1234) tem tudo a ver com essa “corrente” do “Le Cercle” e manteve-se praticamente secreto até 2016, por que os laços do “Le Cercle” são por si um enorme camaleão agindo de forma subtil, “transversal” e silenciosa, simultaneamente na Europa, na América e em África, numa longevidade que se prende às múltiplas estruturas das igrejas cristãs e sensibilidades afins desde a IIª Guerra Mundial, identificáveis quase sempre pelo seu anticomunismo primário e claramente pró-NATO!... (https://www.dailymaverick.co.za/article/2017-10-24-declassified-apartheid-profits-le-cercle-the-phantom-profiteers/).

A fluência da síntese da “Mensagem” de Fernando Pessoa e dos “Lusíadas” de Luís de Camões, dá-nos também uma introdução à dimensão e intensidade dos processos ideológicos de assimilação que chegaram embarcados nessa cada vez mais refinada trajectória de séculos até aos nossos dias, agora sob a expressão da globalização capitalista neoliberal e seu arsenal “soft power” de argumentos que usam as novas tecnologias!... (http://apoioptg.blogspot.com/2007/04/sntese-da-mensagem-e-d-os-lusadas.html).

Trasladar ideias referentes à “dilatação da fé e do império” colonial português, para a vassalagem ao império da hegemonia unipolar, é já uma “imagem de marca” nos processos correntes de assimilação sob fundo sociocultural!!

… Constate-se a propósito a intensidade cultural e ideológica, assim como de mobilização humana, palpáveis nos relacionamentos propiciados pelo Centro Cultural Camões, à ilharga da própria Embaixada de Portugal em Luanda e em pleno século XXI!... (https://www.facebook.com/camoesluanda/https://www.educartis.co.ao/centros/instituto-camoes-centro-cultural;  https://www.luanda.embaixadaportugal.mne.pt/pt/a-embaixada/centro-cultural-portugues).

… Foi assim, nesse cadinho, que desde 1966 se esmerou também a doutrina de contrainsurgência e acção psicológica, no âmbito do “modo português de fazer a guerra”, que se reflectiu aliás no “spinolismo” conforme ao “Portugal e o futuro” (o general António Spínola foi um dos generais portugueses membros do “Le Cercle”, https://owg.livejournal.com/49462.html) e se tem reflectido no “modo português de fazer a paz”, ou seja, nos relacionamentos dos sucessivos governos do “Arco de Governação” desde o 25 de Novembro de 1975, para com os sucessivos governos angolanos (veladamente hostis em relação à República Popular de Angola, cada vez mais “próximos” e “bonançosos”, particularmente desde o acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991, “favorecendo” os governos considerados de democráticos e multipartidários que se lhe foram sucedendo em Angola desde 4 de Abril de 2002)!…

Constate-se a “ficha” do general António Spínola numa investigação sobre o “Le Cercle”… (https://isgp-studies.com/le-cercle-membership-list)

“Spinola, Gen. Antonio de    Source(s).

October 1989 – Issue 18, Lobster Magazine, The Pinay Circle and Destabilisation in Europe.

Born in an old aristocratic and wealthy family in 1910. Entered Colégio Militar in 1920, a military school in Lisbon, Portugal.

Joined Portugal's Military Academy in 1928.

Fought as a volunteer for General Francisco Franco in the 1930s Spanish civil war.

Fought with Hitler's armies on the Russian front in World War II.

August 14, 1996, Chicago Tribune, General Spinola, led coup in Portugal: Gen. Spinola was encouraged in his military career by dictator Antonio Salazar [dictator of Portugal 1932-1968; strong Roman Catholic; supported by the former King Manuel II of Portugal; supporter of Franco; close friend of Ian Smith, who headed the illegal Rhodesian white minority government], a family friend.

Trained under Spanish dictator Gen. Francisco Franco and Hitler's Russian front generals, Gen. Spinola earned a reputation for toughness and valor and became Portugal's most decorated officer.

A hero of the old regime's wars against independence movements in the African colonies... Service in Angola 1961-1964 where he reached the rank of Brigadier-General.

Governor and Chief of the Army Forces in Portuguese Guinea 1968-1973.

Here he followed a policy of bombing defenseless villages, destroying crops and burning hayfields at the end of the dry season to prevent the resistance (and anyone else) to construct huts for the rain season.

Invited to become Minister of the Colonies in 1973, but refused.

Vice Chief of Staff of the Armed Forces 1974.

Director of Companhia Uniao Fabril (CUF), which dominated Guinea-Bissau's economy, had large interests in Africa, and owned 10 percent of Portuguese industrial capacity.

Director of Champalimaud, a steel and banking giant, also with extensive interests in Africa.

Champalimaud and CUF were seen as two of maybe 5 or 6 companies that controlled virtually the whole economy of Portugal at the time. In the late 1960s and early 1970s, the continuing wars in the colonies not only began to take a heavy toll on the morale in the Portuguese Army, but also with the citizens at home.

The economy in Portugal also suffered from the war and the large corporations in Portugal criticized Marcello Caetano, the follow up of dictator Antonio Salazar, for not pushing hard enough free market (or better, monopolist) policies. In February 1974, Spinola's book Portugal and the Future was published in which Spinola claimed the colonial wars could not be won by force. Instead, he argued that a moderate black elite should be created in the colonies who would cooperate within a federation, headed by Portugal.

The book, published by Companhia Uniao Fabril (CUF), became enormously popular in the weeks ahead. In March 1974, Spinola was fired by Caetano for writing the book. His superior General Francisco da Costa Gomes was also fired for his support of Spinola.

On April 25, 1974, the Movement of the Armed Forces (MFA), a group of of lower-ranking officers opposing the colonial war and the fascist regime (who took advantage of the book's momentum), headed a coup against Caetano.

Spinola knew about the upcoming coup.

The plotters intended to make him commander of the armed forces while the more moderate Gomes would be head of the transitional government. In the end, the coup succeeded, but the plotters had failed to capture Caetano, who then demanded he would only surrender if Spinola became his successor.

According to Caetano, Spinola was the only man who could save Portugal.

To avoid a bloodbath, the plotters accepted, and Spinola became head of the national junta of the MFA.

He became president of Portugal in May 1974.

Spinola, however, strongly disagreed on most points with the with MFA and was generally only interested in a renovation of the economy and the policy pertaining to the colonies. He completely resisted the MFA's efforts in giving independence to the colonies, but he forced to comprise in almost every instance because of the powerful influence of moderates and the left.

The people of Portugal had risen up en masse after Caetano had been driven out, had dismantled the secret police and taking out their frustration on anyone who had ever repressed them or caused some kind of grief.

Socialism and Communism became very strong movements and Spinola, together with his fascist friends, did everything in their power to contain and reverse the situation.

Spinola met with Nixon, a later Cercle participant, in the Azores (considered a key location for NATO forces) in June 1974. In July 1974, Spinola appointed a former fascist cabinet member as ambassador to the UN, which provoked large street demonstrations.

Spinola confined leftists troops to their barracks on July 6-7 and send troops considered right-wing to break up leftist demonstrations.

An Economic reform bill was issued on July 6 that limited the right to strike, strengthened private property, and encouraged foreign investment.

Thousands of civil servants demonstrated against law on July 8. Spinola was ousted in late September 1974, presumably after having attempted to take full control of the government.

The MFA had prevented this and installed the more moderate General Costa Gomes, their first choice. October 7, 1974, Winnipeg Free Press, Why Spinola Bowed Out: With his resignation, President Antonio Spinola of Portugal has lost a long ideological battle with the Movement of the Armed Forces [MFA] which reluctantly brought him to power...

According to young officers of the Movement [MFA], a coup d'etat was planned by right-wingers, some of them protesting loyalty to Gen. Spinola, who had been storing arms, indulging in economic sabotage, and creating an emotional climate of tension [sounds like Gladio]...

So the Movement surrounded the presidential palace with tanks, took over the national radio and ordered newspapers to suspend publication. A sniper's rifle with telescopic sights is said to have been found in a house opposite the home of the prime minister, Brigadier Vasco Goncalves...

Estimates of the right-wingers who have been detained vary from 70 to more than 300. Those arrested include Franco Nogueira, a longserving foreign minister to the late dictator Antonio Salazar,...

Nuno Alves Caetano, son of the prime minister who was deposed by the April 25 coup, and Antonio Champalimaud, heir to Portugal's most powerful banking and industrial empire and son of Gen. Spinola's economic adviser...

Gen. Spinola wanted to increase press censorship, ban strikes, enhance his own power and disband the Movement's co-ordinating committee.

The Movement believed that if it allowed this to happen, its promises of democracy would not be carried out and the elections in March would be called off. Many of the members of the Movement not only believed that it was a disaster to appoint Gen. Spinola; they also believed that if real disaster was to be averted, he had to be removed.

They feared that he would take Portugal back to something akin to what is now called the ancien regime with a dictatorship ruling in the interests of the capitalisl interests...

The young officers of the Movement are erroneously cast as left-wing and a few may be; but the majority at the centre of the Movement includes monarchists and conservatives.

October 3, 1974, Winnipeg Free Press, Leftist Takeover Feared: Top Portuguese financier Antonio Champalimaud warned in an interview published here of the dangers of a totalitarian takeover in Portugal on orders of Moscow...

Turning to the economic situation, the financier said that it was essential for Portugal to collaborate with other nations and in particular extend its link with the Common Market. This sounds very much like a propaganda effort ala Le Cercle of which Spinola is said to have attended meetings.

In March 11, 1975 Spinola tried to get back with a vengeance with a (failed) right-wing coup attempt, aided by Nixon's national security advisor Henry Kissinger (Le Cercle) and US ambassador to Portugal Franck Carlucci (CIA).

Spinola and 18 others fled to Spain and then to Brazil.

The attempted rightist coup by Spinola caused another major leftist countermovement, a wave of nationalizations of banks and other businesses, and the seizure of many large farms in southern Portugal.

1977, Phil Mailer, Portugal, the Impossible Revolution, chapter 8: For three days the left and workers group exercised total power.

An article about Spinola in the Parisian paper Temoignage Chretien (March 6) had said that US ambassador Frank Carlucci (who had CIA connections) had given the go-ahead for a right-wing take-over in Portugal.

Otelo's [head moderate MFA] remark on March 11 that Carlucci had better have plans to leave the country or face the con-sequences was seen as related to the failed coup.

Kissinger, according to a Sunday Times (London) report, had sanctioned the use of the CIA.

April 23, 1975, Winnipeg Free Press, Mini-Cold War Weakens Portugal, NATO Ties: [Soviet] Ambassador Kalinin's task has been made easy by U.S. and North Atlantic Alliance hostility toward the ruling leftwing military, who have made it clear that they cannot govern Portugal without sharing power with the Portuguese Communist party...

Moscow is carefully moving into the power vacuum caused by the loss of influence and prestige during its [the US's] long association with the deposed dictatorship and its apparent support for Gen. Antonio de Spinola.

Spinola's hostility to his former revolutionary associates led to an attempted coup last month... [US ambassador] Carlucci's image has been tarred with allegations that he is a top CIA operative assigned to destabilize Portugal and reverse the Socialist thrust of the revolution... Recently Dr. Kissinger contradicted the essence of the Carlucci speech in which he had expressed a measure of understanding for the idealism of the officers who deposed Portugal's rightist dictatorship last year...

Ruling military moderates, among them senior advisers of President Francisco da Costa Gomes, are frankly distressed by a situation forcing them to strengthen Portugal's ties with the Soviet Union because "Nobody in the West is willing to help us so long as Washington remains aloof.

They added: Before our revolution, nobody wanted to help us because we were a right-wing colonialist dictatorship. Now that we are freeing the colonies and trying to create a pluralistic democracy, nobody wants to help us because we're left-wing.

Aginter Press was the name of the CIA-supported Stay Behind network in Portugal. It was founded in 1966 by Guerin Serac (anti-communist Catholic; did assassinations and terrorism for Franco; co-founder OAS that tried to assassinate De Gaulle and destabilize peace in Algeria; worked for Portugal's secret police; friend of Florimond Damman, who was appointed by Cercle founder Jean Violet to run the Belgian Académie Européenne des Sciences Politiques) and Stefano Delle Chiaie (fascist; friend of Licio Gelli, official head P2; P2 member; undermined Italian politics by assisting in coups and terrorism; associate of Prince Valerio Borghese, who worked with former Nazi commander Otto Skorzeny; associate of former Nazi officer Klaus Barbie; involved in Operation Condor and the cocaine wars in the Americas) to counter leftist influences in Portugal.

They supported Spinola. 2005, Daniele Ganser, NATO's Secret Armies, p. 121: Upon learning that left-wing officers within the Portuguese military were planning a coup to start the Revolution of the Flowers, Aginter operatives plotted with right-wing General Spinola against the Portuguese centrists.

Their plan was to occupy the Portuguese Azores islands in the Atlantic and use them as an independent territory and offshore base for covert operations against the Portuguese mainland.

Unable to realize their plan Aginter Press was swept away together with the dictatorship when on May 1, 1974 the left-wing of the Portuguese military took over power and ended the dictatorship which had lasted for almost half a century.

Three weeks after the revolutionary coup, on May 22, 1974, special units of the Portuguese Police on the orders of the new rulers broke into the Aginter Press headquarter in the Rua das Pracas in Lisbon in order to close down the sinister agency and confiscate all material. But by then the premises were deserted.

With good relations to the intelligence community all Aginter Press agents had been warned and had gone underground and nobody was arrested. Leaving their offices in a hurry some documents were left behind.

The special police units were able to collect a large amount of criminal evidence, proving that the CIA front Aginter Press had very actively engaged in terrorism." Spinola was able to return to Portugal in 1976. Appointed Field Marshal in 1981. Named a member of Le Cercle in 1989 by Lobster Magazine.

Died in 1996.”

… A intervenção discreta mas contínua dos instrumentos do poder fascista e colonial nas missões e seminários católicos, era impossível ser aplicada com a mesma refinação nas missões protestantes fossem elas baptistas, metodistas, ou congregacionistas, pelo contrário: fazia parte obviamente da identidade dessas sensibilidades a repulsa em relação a qualquer aproximação emanada do colonialismo, ainda que discreta ou velada, por que as autoridades coloniais se orientavam duma forma ou de outra também pelos termos da Concordata com o Vaticano! (http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/realcado_o_papel_da_igreja_metodista_na_luta_pela_independencia_de_angola;  https://journals.openedition.org/cea/135;  http://faan.og.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=1132:intervencao-do-bispo-emerito-da-igreja-metodista-unida-rev-emilio-de-carvalho-dialogos-em-familia&catid=37:noticias&Itemid=206).

As cisões protestantes em relação ao Vaticano, foram antropológica e historicamente sentidas em África na fase final do colonialismo português ao longo do século XX, inerentes aos seus contraditórios, em especial em Angola e Moçambique e enquanto perdurou o “Estado Novo” e sua interconexão afim à dilatação da fé e do império, com o próprio Vaticano das décadas de 40, 50 e 60 do século passado!

Em 1961 as missões protestantes e os seus membros angolanos pagaram bem caro a ousadia de serem oposição ao colonialismo, apoiadas por sensibilidades socioculturais e políticas (inclusive das agências de inteligência), sobretudo dos Estados Unidos e do Canadá! (https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/sociedade/2014/3/16/Historia-Libertacao-Angola-confunde-com-Igreja,4d6c7e21-6cf4-4b82-a359-8e67bdcec0c3.html).

Após as prisões de 1961 e até ao 25 de Abril de 1974, muitos seminaristas católicos que não chegaram a padres, foram por seu turno sendo cultural e ideologicamente assimiláveis nesse cadinho de relatividade e ambiguidade, enquanto quadros e funcionários da própria administração colonial, muito mais assimiláveis do que os quadros provenientes das igrejas protestantes!

A título de exemplo e por dentro do próprio MPLA, na composição da Revolta Activa (https://africa21digital.com/2017/06/18/adolfo-maria-sobre-o-livro-joaquim-pinto-de-andrade-uma-quase-biografia/) isso teve a sua influência contra o “comunista” António Agostinho Neto, quando chamou a si irrevogavelmente o papel de guia do rumo do movimento de libertação em luta armada, em busca de autodeterminação e independência e no âmbito do seu vigoroso “pensamento estratégico” que exigia luta no interior, num caminho que levava não só à independência, mas à luta contra o “apartheid” até ao seu colapso final!...

… A reinterpretação que a Revolta Activa fez, encaixava em correntes de interpretação distendidas desde França e presentes no Congo Brazzaville, tendo Henri Lopès (https://en.wikipedia.org/wiki/Henri_Lopes_(Congolese_politician)https://www.babelio.com/auteur/Henri-Lopes/62419https://journals.openedition.org/genesis/609) como um dos seus funcionais vínculos e mentores, desde logo no conformado campo intelectual, mas sem dúvida trazia em si um sinal inequívoco do “Le Cercle”… (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/rosa_coutinho_faleceu_ontem_em_lisboa).

A identidade secular entre Portugal e a Igreja Católica Apostólica Romana, pouco depois de colocados os padrões sinaléticos de posse territorial em finais do século XV, havia propiciado a aproximação da monarquia portuguesa ao cristianizado reino do Congo, a ponto de, precisamente na região onde havia o seu cofre-forte (Luanda, onde na sua ilha se recolhia o zimbo do mar), se instalar na baía contígua o maior embarcadouro de escravos (considerados infiéis) de toda a costa ocidental africana (no princípio não súbditos do Rei do Congo), para a América e Caraíbas, com a cumplicidade de algumas famílias de assimilados africanos, assim como de alguns mestiços assimilados das gerações “crioulas” de então (séculos XVI, XVII, XVIII e XIX)… mas sobretudo era algo que tinha a ver com a silenciosa e silenciada cumplicidade da Igreja Católica Apostólica Romana! (http://www.mundamba.com/2014/04/o-reino-do-congo-a-conquista-conversao-ao-cristianismo.html).

O crescimento do tráfico de escravos e as rupturas na sucessão ao trono no Reino do Congo, acabaram por fazer soçobrar a entidade africana que se havia instalado em São Salvador, influenciando no abandono daquela localidade e no ocaso do Reino do Congo!… (https://www.algosobre.com.br/historia-da-africa/cristianizacao-e-escravidao.htmlhttps://pt.slideshare.net/Mariinazorzi/reino-do-congo-22987257).

A lógica com sentido de vida inerente ao “pensamento estratégico de Agostinho Neto” e ao rumo em intrépida busca de autodeterminação e independência por via de luta armada, nada tinha a ver com esses tão cínicos quão transversais métodos de assimilação, refractários ao progresso e escondendo um caudal de cumplicidades dessa natureza eminentemente colonial e imperialista, por que assentava sua psicologia num degrau de consciência crítica e patriótica de onde, para os fiéis que souberam consumar a segurança vital do líder, se tornava impossível voltar!

Martinho Júnior -- Luanda, 1 de Dezembro de 2019

Imagens:
01- Neto e o almirante Cardoso assinam o acordo de tréguas – 21 de Outubro de 1974 – https://cc3413.wordpress.com/2011/11/12/agostinho-neto-a-vida-e-a-obra/;
02- Da guerra colonial à independência - 'LÚCIO LARA - TCHIWEKA - Imagens de um percurso' - Luanda 2009 – Acordo de Lunhameje – 21 de Outubro de 1974 – http://livrosultramarguerracolonial.blogspot.com/2015/06/angola-mpla-da-guerra-colonial.html;
03- Neto e o almirante Cardoso assinam o acordo de tréguas – 21 de Outubro de 1974 – https://cc3413.wordpress.com/2011/11/12/agostinho-neto-a-vida-e-a-obra/;
04- 1ª delegação oficial do MPLA chegou a Luanda há 44 anos – 8 de Novembro de 1974 – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/59568/1-delegacao-oficial-do-mpla-chegou-a-luanda-ha-44-anos;
05- Agostinho Neto, um “imprescindível” na história contemporânea universal – 4 de Fevereiro de 1975 – https://paginaglobal.blogspot.com/2016/10/agostinho-neto-um-imprescindivel-na.html;

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CONTINUA


Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Do céu puxando as cadentes mais bonitas
Com lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Com os nomes mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Juntam fapula com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar
Divide a chuva miudinha por o milho
Multiplicam o vento pelo poder popular
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Porque meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade
Assim contentes à voltinha da fogueira
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Novas palavras para fazer redações
Escapando ao se esvadeio ao machado
Para os meninos também são constelações
Constelações que brilham sempre sem parar
Palavras deste tempo sempre novo
Multiplicam o vento pelo poder popular
Porque meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Porque meninos inventaram coisas novas
Que até já dizem que as estrelas são do povo
Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

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