A jovem tem 15 ou 16 anos, por
aí, e já é um símbolo na imperiosa luta contra o não menos famoso aquecimento
global. A adolescente chama-se Greta e é sueca. Ela afirma que estamos tramados
se não atentarmos e agirmos contra o dito aquecimento e as nefastas consequências.
Existem os que a apoiam pelo espectáculo (manifestações coloridas) ou pela contestação.
Também existe o suporte dos que cientificamente comprovam que o aquecimento
global vai tramar-nos se nada fizermos para que isso não alastre e aconteça ainda mais –
uma vez que já está a acontecer. Em que ficamos?
No Curto do Expresso pode ler a
prosa de Germano Oliveira. Greta, buraco do ozono, lucros das petrolíferas,
poluição, alterações climáticas, políticos próGreta e políticos prólucros dos
do 1% que se apoderaram o mundo… Ena tantos! Uns contra as bufas do gado vacum
e outros a favor de esburacar e mascarrar o planeta até à nossa extinção… Cada cor
seu paladar. E nessa vem incluído Nuno Melo na sua cor, um alapado prófascista beneficiado
pelas sombras em que sobrevive o CDS, que tem quase sempre passado pelos
intervalos da chuva e está na tabela dos democráticos graças a uns quantos que
por lá estiveram – outros que ainda estão – e que são de facto democratas.
Adiante. Deixemo-nos de nuvens negras e respiremos com máscaras de oxigénio vendido pelos tais dos 1%. A chamada iniciativa privada. A tal que nos trama na maior parte dos exemplos.
Mas há mais no Curto. A Cultura está de parabéns, aqui existe sob a forma de literatura. Curta, barata, que dá que pensar. Está
convidado a descobrir e ler de fio a pavio, caso disponha de tempo para tal.
Coisa que pelo PG escasseia. Avance e inteire-se, sobre Greta e outras rachas que ameaçam a demolição do planeta.
Bom dia. Saúde e Boas festas… Ena, já!
PG
Quem constrói prisões expressa-se
sempre pior do que quem se bate pela liberdade
Germano Oliveira | Expresso
E você, o que tem a dizer sobre
Greta Thunberg? O eurodeputado e vice-presidente do CDS Nuno Melo pensou assim
quando a viu chegar a Portugal: “Já de seguida, muitos deputados de pé,
deslumbrados, aplaudindo a adolescente chorosa que os acusa de roubarem os
sonhos e impedirem de ir à escola, enquanto navega mundo fora com estilo”. Foi
no Twitter e
o líder do PNR, José Pinto-Coelho, decidiu comentar com um autoritário “Concordo.”,
mas nas reações ao tweet de Nuno Melo há sobretudo insultos, sendo que uma das
ofensas mais acentuadas no tom falhou na acentuação, “es um bocado parvo”, e a
seguir há um comentário esteticamente mais elaborado, “😘 Greta, a adulta na sala”
- é uma carícia sarcástica que reencaminha Nuno Melo para este
artigo assinado no Expresso Diário por Daniel Oliveira, que também tem
uma opinião sobre a ativista sueca: “Há um grupo para quem a ideia de que os
recursos do planeta são finitos e que o capitalismo tem, por isso, limites que
devem ser definidos pelos Estados desafia todas as suas crenças ideológicas.
Esperavam, por isso, ter pela frente mais uma fornada de jovens-velhos e
cínicos que percebessem que o seu lugar é na escola a prepararem as suas
carreiras e deixassem a política para quem sabe. Felizmente, não é isso que
está a acontecer. Greta Thunberg está a fazer a sua parte. E ridicularizar o
símbolo serve apenas para ridicularizar este combate”.
Greta, que apreciou o passeio pelos bairros coloridos de Lisboa, é “uma idiota” para o apresentador britânico Jeremy Clarkson, o Chega de André Ventura diz que ela está envolvida numa “palhaçada internacional”, o comentador da Fox News Michael Knowles chama-lhe “doente mental”, são mais análises sofisticadas para juntar à “adolescente chorosa” - há críticos da ativista muito ativos a ver quem é melhor a escolher as palavras piores. Vasco Pulido Valente pratica uma espécie de humor, “era bem feito que o planeta explodisse e atirasse com a menina Greta para Saturno a ver se ela aprendia a não faltar à escola”, enquanto Henrique Raposo escreve sem insultos ou ironias, “não, Greta Thunberg não é um símbolo, é uma criança. Greta, em toda a sua humanidade, é mais importante do que qualquer causa ou meta. Não é uma ideia, é uma menina”, e João Almeida, candidato à liderança do CDS, não fala em palhaçadas mas quase: “O circo montado à volta de Greta e a cedência de muitos políticos a esse triste espetáculo mostra [a] superficialidade dos tempos que vivemos. Um ícone, meia dúzia de palavras de ordem, e tudo fica mais ou menos na mesma”. Todas estas críticas, e ainda os elogios que estão no parágrafo a seguir, aparecem compilados AQUI.
Entre os entusiasmados com Greta e com o que ela representa, Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, está rendido depois de “ela ter mostrado como uma ação individual pode desencadear uma ação coletiva”, Maria Bogonha, líder da Juventude Socialista, diz que “se calhar procuramos isso: símbolos de intransigência e de ousadia” e Francisco Louçã desenvolve: “Tornou-se um símbolo mundial por várias razões e nenhuma delas é passageira. Por ser jovem e falar diretamente. Por exprimir um sentimento e uma razão que eram obviamente tratados com cinismo pelas instituições. E, sobretudo, por mobilizar o conhecimento científico contra um situacionismo calculista e adaptativo. Essa é a sua força principal, a mais radical: ela fala em linguagem direta e em nome do consenso científico que se alarma com a displicência da diplomacia, com o interesse da indústria e com a fuga dos governos à responsabilidade”.
Em entrevista concedida simultaneamente ao Expresso/SIC/RTP no dia em que chegou a Portugal, Greta Thunberg optou por salientar a determinação do que a move em vez de valorizar o que pensam dela: “Não me vejo como um ícone ou uma fonte de inspiração, mas como uma pequena parte num movimento muito grande. O facto de ter esta plataforma de comunicação permite que as pessoas me ouçam, o que me dá uma maior responsabilidade”. Há um sueco como Greta que escreveu sobre isso de se fazer ouvir (voltarei a ele adiante): “Enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo”. Ela dispõe de poder desse tamanho e parece que de força também - e, por isso, “não subestimem a força dos miúdos zangados”.
Greta, que apreciou o passeio pelos bairros coloridos de Lisboa, é “uma idiota” para o apresentador britânico Jeremy Clarkson, o Chega de André Ventura diz que ela está envolvida numa “palhaçada internacional”, o comentador da Fox News Michael Knowles chama-lhe “doente mental”, são mais análises sofisticadas para juntar à “adolescente chorosa” - há críticos da ativista muito ativos a ver quem é melhor a escolher as palavras piores. Vasco Pulido Valente pratica uma espécie de humor, “era bem feito que o planeta explodisse e atirasse com a menina Greta para Saturno a ver se ela aprendia a não faltar à escola”, enquanto Henrique Raposo escreve sem insultos ou ironias, “não, Greta Thunberg não é um símbolo, é uma criança. Greta, em toda a sua humanidade, é mais importante do que qualquer causa ou meta. Não é uma ideia, é uma menina”, e João Almeida, candidato à liderança do CDS, não fala em palhaçadas mas quase: “O circo montado à volta de Greta e a cedência de muitos políticos a esse triste espetáculo mostra [a] superficialidade dos tempos que vivemos. Um ícone, meia dúzia de palavras de ordem, e tudo fica mais ou menos na mesma”. Todas estas críticas, e ainda os elogios que estão no parágrafo a seguir, aparecem compilados AQUI.
Entre os entusiasmados com Greta e com o que ela representa, Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, está rendido depois de “ela ter mostrado como uma ação individual pode desencadear uma ação coletiva”, Maria Bogonha, líder da Juventude Socialista, diz que “se calhar procuramos isso: símbolos de intransigência e de ousadia” e Francisco Louçã desenvolve: “Tornou-se um símbolo mundial por várias razões e nenhuma delas é passageira. Por ser jovem e falar diretamente. Por exprimir um sentimento e uma razão que eram obviamente tratados com cinismo pelas instituições. E, sobretudo, por mobilizar o conhecimento científico contra um situacionismo calculista e adaptativo. Essa é a sua força principal, a mais radical: ela fala em linguagem direta e em nome do consenso científico que se alarma com a displicência da diplomacia, com o interesse da indústria e com a fuga dos governos à responsabilidade”.
Em entrevista concedida simultaneamente ao Expresso/SIC/RTP no dia em que chegou a Portugal, Greta Thunberg optou por salientar a determinação do que a move em vez de valorizar o que pensam dela: “Não me vejo como um ícone ou uma fonte de inspiração, mas como uma pequena parte num movimento muito grande. O facto de ter esta plataforma de comunicação permite que as pessoas me ouçam, o que me dá uma maior responsabilidade”. Há um sueco como Greta que escreveu sobre isso de se fazer ouvir (voltarei a ele adiante): “Enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo”. Ela dispõe de poder desse tamanho e parece que de força também - e, por isso, “não subestimem a força dos miúdos zangados”.
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FRASES
“Ou a nossa comunicação social se encontra em crise ou não se encontra. Eu penso que se encontra em crise económica e financeira, de capacidade de inovação. Quem pensar o contrário terá de demonstrar que os números dos últimos exercícios são bons, que representam a recuperação da crise financeira, que há condições sustentadas de investimento, de pagamento de dívidas acumuladas e de planeamento a médio e longo prazo. Não encontrei ninguém que o conseguisse demonstrar”: Marcelo Rebelo de Sousa no encerramento da conferência organizada pelo Sindicato dos Jornalistas sobre financiamento dos media.
“Quando saí do Governo só quis esquecer”: António Mendonça, ex-ministro das Obras Públicas do PS, que foi ouvido no âmbito da Operação Marquês.
“Ouvi o Presidente Macron dizer que a NATO estava em morte cerebral. Penso que isso é muito insultuoso para várias forças”: Donald Trump no arranque da cimeira da NATO, em Londres
O QUE EU ANDO A LER
Demorei cinco minutos a ler o livro mais pequeno que já comprei, custou-me oito euros num evento literário com um nome cheio de possibilidades, “Tráfico de edições e afins”, paguei portanto quase três cêntimos por cada segundo de leitura ou mais precisamente 32 cêntimos por cada uma das 25 páginas escritas pelo autor, ficava a 80 euros se tivesse 250 páginas, não sei se é caro ou barato e na verdade é irrelevante, a matemática mede-nos o tamanho e o preço do mundo mas é a arte que nos faz eletrocardiogramas à maneira como existimos: “A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer”, pequeno mas profundo ensaio autobiográfico de Stig Dagerman sobre um escritor bloqueado e deprimido com impulsos suicidas, é um exame súbito à maneira como as artérias conduzem ao coração o oxigénio da emoção.
“Sem fé, ouso pensar a vida como uma errância absurda a caminho da morte, certa”: é a primeira frase do livro, os dois pontos a seguir a “certa” são meus porque o autor usa um ponto final, é o sinal de pontuação dos ateus e demais descrentes, ter fé em Deus ou noutra forma qualquer de imortalidade é crer no ponto e vírgula ou no travessão e sobretudo nos dois pontos, são a certeza de que há algo a seguir ao que houve antes, escrever “morte:” é conceber que nada é finito nem a vida um absurdo que antecede um vazio eterno, “morte.” é pressupor que a vida é um acontecimento cínico que precede a inevitabilidade da solidão infinita - e essa solidão subjugante e perpétua pode manifestar-se ainda em vida, eis o Dagerman:
“Decido encher todas as minhas páginas em branco com as mais belas combinações de palavras que seja capaz de engendrar. E depois, porque quero assegurar-me de que a vida não é absurda e não me encontro só sobre a Terra, reúno-as todas num livro e ofereço-o ao mundo. Este retribui-me com a riqueza, a glória, e o silêncio. Mas não sei que fazer com este dinheiro, nem que prazer tirar de contribuir para o progresso da literatura, pois só desejo o que jamais obterei - a certeza de que as minhas palavras tocaram o coração do mundo. É então que me pergunto o que vem a ser o meu talento, e descubro que não passa de uma forma de me consolar da solidão. Risível consolo - que apenas me torna cinco vezes mais pesada a solidão”.
Meses antes de eu ter lido sobre a necessidade de consolo impossível de satisfazer ouvi a experiência oposta: uma mulher contou-me sobre uma promessa que fez a Deus para que Ele lhe protegesse a filha, perguntei porquê, o que as pessoas sacrificam ao que nunca viram é um ato que admiro sempre com alguma incredulidade, e então ela explicou os pormenores da promessa e isso não é relevante aqui mas depois disse-me, e isso já é substancial aqui, “Germano, nunca me sinto só”, justificou-me que ter fé, ela tem tanta, é encontrar em Deus companhia permanente e amparo ininterrupto, é sentir esperança e fazer disso força, é estar em paz pela coragem de querer crer, é transformar a omnipresença Dele na certeza de que não há solidão absoluta - “Germano, nunca me sinto só”, Deus é a necessidade de consolo dela plenamente satisfeita, “Germano, nunca me sinto só” e a seguir sorriu devagar, sem pontos finais, ela tem ponto e vírgula e travessão e sobretudo dois pontos no coração, talvez seja por isso que alguém sem fé num além veja tudo aquém, eis novamente o Dagerman: “Quando, por fim, me apercebo que esta terra é uma vala comum, onde Salomão, Ofélia e Himmler repousam lado a lado, concluo que tanto o crápula como a infeliz têm o mesmo fim que o sábio. Por isso, para uma vida falhada, a morte pode tornar-se uma forma de consolo - e bem atroz, sobretudo para quem na vida queria encontrar forma de vencer a morte”. E adiante: “Parece-me então ser o suicídio a única prova da liberdade humana” (a este propósito, e porque Stig Dagerman se matou aos 31 anos, cito a breve mas iluminada nota dos tradutores que abre o livro: “Não é só a morte. Também o suicídio percorre como um arco o discurso de estar vivo e as palavras que o contam. Recuso-me, enquanto leitor, a olhar um homem e a sua obra como quem cata sintomas. O princípio e o fim são anteriores e posteriores a qualquer patologia; e meter as palavras ou as coisas na ordem desse discurso é acreditar que a nuca pode ver os olhos, é contribuir seguramente para legitimar muita mediocridade e diminuir muita grandeza”).
As 25 páginas leem-se em cinco minutos tão velozes porque há folhas quase vazias como a fé do autor e letras do tamanho da angústia dele, mas nas últimas releituras eu quis procurar indícios de esperança e numa das frases mais notáveis do livro fui quase bem-sucedido: “Assim que o desespero me diz - ‘perde a esperança, o dia não passa de um momento de trevas entre duas noites’, há uma falsa voz que me grita - ‘tem confiança, a noite não é mais que um momento de trevas entre dois dias’”. Se retirássemos o “falsa” antes de “voz” tínhamos um mantra radiante de esperança e assim resta simplesmente a constatação de literatura bem feita por um homem desfeito, mas as releituras acabaram por me proporcionar uma outra perspetiva do texto, que é feito de versículos de desespero mas também de devoção e obsessão pelo ato de escrever, ele faz profilaxia com as palavras e há um parágrafo quase no fim que é o pacemaker adequado após o diagnóstico feito ao coração dos leitores que gostam de escrever e de viver, que é o meu caso: “E enquanto me for possível empurrar as palavras contra a força do mundo, esse poder será tremendo, pois quem constrói prisões expressa-se sempre pior do que quem se bate pela liberdade”. Isto é estimulador cardíaco suficiente para mim.
Tenha um bom dia:
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