quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Minas antipessoais voltam a causar mortes em Moçambique


País foi considerado livre de minas a partir de 2015, mas sete artefatos já foram localizados na Zambézia neste ano. Duas mortes foram registadas nesta semana na província.

A comunidade de Morrumbala, no sul da província moçambicana da Zambézia, foi surpreendida com a morte de duas adolescentes pela detonação de uma mina antipessoal. As vítimas estavam numa machamba quando o artefato explodiu.

Desde Setembro de 2015, Moçambique é considerado um país livre de minas antipessoais. A desminagem ocorria de forma intensiva desde 1992 com esforços de organizações não governamentais, doadores internacionais e governo. A região sul da Zambézia foi integrada aos projectos de desminagem.

Poucos dias antes da explosão em Morrumbala, a Polícia da República de Moçambique (PRM) já havia desativado duas outras minas em Naciaia, no distrito de Namacurra.

Segundo a PRM, a morte das jovens teria ocorrido devido à explosão de minas morteiro 82mm. "Pelos fragmentos dessa mina, nota-se que foi ativada depois que foi tocada por uma inchada”, esclareceu o porta-voz da PRM, Sidner Lonzo.

A polícia recebeu sete notificações da população sobre o encontro de artefatos neste ano. Os objetos explodem ou são achados pelos camponeses em locais onde nunca houve bases militares durante a guerra civil. "Não existia nenhuma base militar num raio de 500 metros. É uma situação que ainda vai ser apurada”, ressalta Lonzo.


O risco nas machambas

A reportagem da DW África esteve no povoado de Naciaia, em Namacurra, onde a denunciou a existência de minas, que foram desactivadas por agentes de segurança.

São objetos que geram surpresa às comunidades e, muitas vezes, são localizados por crianças. Geralmente crianças e adolescentes da região trabalham nas machambas. As inchadas acabam tocando nos objetos.

"Ela foi chamar a mãe, e a mãe foi chamar o secretário do bairro após ver a mina. Mais tarde, foram todos chamar a polícia. A mina explodiu e não houve problema”, contra a agricultora Elsa Falso, que testemunhou a desativação de uma mina em Naciaia.

Gabriel Chavier teme morrer pela explosão de uma mina. O agricultor, no entanto, não quer abandonar a aldeia nem acredita que os outros moradores de Naciaia deixarão de ir às machambas por causa disso. "Na verdade sentimo-nos mal porque temos crianças. A pessoa pode encontrar uma mina, accioná-la e sair sem perna. É terrível”.

Chavier lembra que os camponeses são impotentes diante da existência de minas escondidas, uma vez que não há como saber onde os explosivos podem estar no campo. "Não pode fazer nada porque vivemos da machamba”, lamenta.

Lonzo acredita que as minas ressurgiram com as cheias recentes na Zambézia. "Naturalmente esta questão pode trazer engenhos explosivos que encontravam-se à profundidade considerável, e as máquinas podem não ter conseguido detetar anteriormente”, diz o porta-voz da PRM.

Marcelino Mueia (Quelimane) | Deutsche Welle

Sem comentários:

Mais lidas da semana