País foi considerado livre de
minas a partir de 2015, mas sete artefatos já foram localizados na Zambézia
neste ano. Duas mortes foram registadas nesta semana na província.
A comunidade de Morrumbala, no
sul da província moçambicana da Zambézia, foi surpreendida com a morte de duas
adolescentes pela detonação de uma mina antipessoal. As vítimas estavam numa
machamba quando o artefato explodiu.
Desde Setembro de 2015,
Moçambique é considerado um país livre de minas antipessoais. A desminagem
ocorria de forma intensiva desde 1992 com esforços de organizações não
governamentais, doadores internacionais e governo. A região sul da Zambézia foi
integrada aos projectos de desminagem.
Poucos dias antes da explosão em
Morrumbala, a Polícia da República de Moçambique (PRM) já havia desativado duas
outras minas em Naciaia, no distrito de Namacurra.
Segundo a PRM, a morte das jovens
teria ocorrido devido à explosão de minas morteiro 82mm. "Pelos fragmentos
dessa mina, nota-se que foi ativada depois que foi tocada por uma inchada”,
esclareceu o porta-voz da PRM, Sidner Lonzo.
A polícia recebeu sete
notificações da população sobre o encontro de artefatos neste ano. Os objetos
explodem ou são achados pelos camponeses em locais onde nunca houve bases
militares durante a guerra civil. "Não existia nenhuma base militar num raio
de 500 metros. É uma situação que ainda vai ser apurada”, ressalta Lonzo.
O risco nas machambas
A reportagem da DW África esteve
no povoado de Naciaia, em Namacurra, onde a denunciou a existência de minas,
que foram desactivadas por agentes de segurança.
São objetos que geram surpresa às
comunidades e, muitas vezes, são localizados por crianças. Geralmente crianças
e adolescentes da região trabalham nas machambas. As inchadas acabam tocando
nos objetos.
"Ela foi chamar a mãe, e a
mãe foi chamar o secretário do bairro após ver a mina. Mais tarde, foram todos
chamar a polícia. A mina explodiu e não houve problema”, contra a agricultora
Elsa Falso, que testemunhou a desativação de uma mina em Naciaia.
Gabriel Chavier teme morrer pela
explosão de uma mina. O agricultor, no entanto, não quer abandonar a aldeia nem
acredita que os outros moradores de Naciaia deixarão de ir às machambas por
causa disso. "Na verdade sentimo-nos mal porque temos crianças. A pessoa
pode encontrar uma mina, accioná-la e sair sem perna. É terrível”.
Chavier lembra que os camponeses
são impotentes diante da existência de minas escondidas, uma vez que não há
como saber onde os explosivos podem estar no campo. "Não pode fazer nada
porque vivemos da machamba”, lamenta.
Lonzo acredita que as minas
ressurgiram com as cheias recentes na Zambézia. "Naturalmente esta questão
pode trazer engenhos explosivos que encontravam-se à profundidade considerável,
e as máquinas podem não ter conseguido detetar anteriormente”, diz o porta-voz
da PRM.
Marcelino Mueia (Quelimane) |
Deutsche Welle
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