Paulo Baldaia | Jornal
de Notícias | opinião
Que o país arda no verão e se
afunde no inverno não pode ser uma inevitabilidade, mesmo que secas e dilúvios
pareçam castigo de Deus. Que tenha de morrer gente até que se descubra uma
forma de mudar o nosso destino deveria ser causa para uma penitência coletiva,
mesmo que às vezes pareça que isto são só alguns políticos a gozar com a nossa
cara. Será apenas incompetência?
Apenas dois factos:
1 - Em 2016, foi anunciado, com
pompa e circunstância, um investimento superior a 30 milhões de euros na linha
do Norte. Agora, que a estação de Alfarelos acabou debaixo de água, ficamos a
saber que fomos vítimas do enésimo embuste governamental. Entre o anunciado e o
executado vigora a lei da cativação, onde estava previsto um alteamento da
via-férrea, houve uma simples renovação da via. Se as gravuras não sabiam
nadar, imaginem os comboios.
2 - Como bem notou o JN, o Estado
depois de ter pago quase um milhão de euros por um sistema que devia avisar a
população, através de SMS, sempre que o perigo estivesse iminente, optou por
não utilizar o dito sistema no momento da passagem da tempestade Elsa.
Explicação do responsável pela Proteção Civil: havia outros meios de alerta
mais eficazes. Com a garantia de que não se tratou de enviar sinais de fumo,
nada eficazes no meio do dilúvio, imagino que Duarte da Costa se estava a
referir ao serviço público que os órgãos de Comunicação Social prestam nestas
alturas. Voltamos a sentir a diferença entre o anunciado e o executado, só que
desta vez o que ficou cativo foi o serviço que já estava pago.
Assim sendo, o que esperam que o
povo pense? Que é tudo obra de Deus e do Diabo? Se chove é porque chove, se não
chove é porque não chove. É tão demagogo considerar que só há cheias e
incêndios porque os políticos não fazem o seu trabalho, como é a tentativa de
desculpabilizar os governantes, como se fosse mesmo inevitável acontecer tudo o
que acontece. Os dois exemplos que deixo neste texto são isso mesmo, apenas
dois exemplos. A ação dos governantes, ou a inação em muitos casos, é tão
flagrantemente contrária aos interesses do povo, que já era tempo de haver
penalizações para determinados comportamentos.
P.S. Há responsabilidade do
Governo que tem a obrigação de atenuar ao máximo as consequências destas
alterações climáticas profundas e há a responsabilidade geral dos políticos que
devem cooperar para avançar com uma revolução na política ambiental.
*Jornalista
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