segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Portugal | Carlos Alexandre, o juiz com semelhanças a Sérgio Moro - sugere Louçã


Louçã sai em defesa de António Costa no caso Tancos: “Espero que o juiz Carlos Alexandre não se esqueça que há uma Constituição em Portugal”

Francisco Louçã critica Carlos Alexandre por ter trocado a reserva e discrição que se impõe aos juízes por intervenções públicas e políticas. Sugere semelhanças com Sérgio Moro, e critica o 'superjuiz' por não se demarcar dos grupos de extrema direita que o apoiam nas redes sociais

Francisco Louçã esteve entre os conselheiros de Estado que, de forma unânime, decidiram que António Costa prestará esclarecimentos por escrito ao tribunal, no caso Tancos. O juiz Carlos Alexandre pretendia que o primeiro-ministro o fizesse presencialmente mas, considera Louçã, “não há nenhuma justificação para esse pedido”. Trata-se de mais um episódio em que o chamado ‘superjuiz’ se esquece dos seus deveres de reserva e discrição e resvala para a política e o justicialismo, sugere Francisco Louçã.

No programa semanal que tem na SIC-Notícias (no vídeo entre os minutos 11.55 e 18:34), o ativista do Bloco de Esquerda e atual conselheiro de Estado foi questionado sobre se, ao decidir que António Costa apenas responderia por escrito ao tribunal, o Conselho de Estado não fez um favor ao primeiro-ministro. Louçã contextualizou que António Costa foi convocado na condição de testemunha, apenas, e lembrou que, estando em causa titulares de órgãos de soberania, a tradição tem sido sempre essa e, por isso, o pedido de Carlos Alexandre não tem “nenhuma justificação”.

Depois, partiu ao ataque. Desde logo para sublinhar o método seguido pelo juiz. “Ele tornou público que pedia a presença do primeiro-ministro muitos dias antes, creio que mesmo duas semanas antes de enviar o pedido ao Conselho de Estado. Ou seja, quis fazer um ato público sobre essa questão”(…) o que é uma coisa bastante estranha na relação entre um órgão de soberania, um tribunal, com outro órgão de soberania”. Além disso, terá invocado que precisava do primeiro ministro presencialmente porque havia documentos que tinham de ser justificados, o que também é “estranho”, porque “se quer a opinião do primeiro-ministro sobre um documento coloca isso nas perguntas”. “Tudo isso é um pouco forçado” (…) e mais não é do que “um jogo para criar um incidente politico que merece alguma ponderação, porque os tribunais não costumam fazer isto”, diz Louçã.


O conselheiro de Estado descreve ainda o perfil de Carlos Alexandre, um juiz que gosta de dar entrevistas, que recusou ser candidato a um partido politico, como não podia deixar de ser, mas só depois de ter mantido o tema em “consulta pública” durante alguns dias, e que nas redes sociais tem uma legião de apoiantes de extrema direita, das quais não se demarca: “É num site do Facebook de apoio ao juiz Carlos Alexandre que estão algumas dezenas de milhares de seguidores do Chega e outros grupos de extrema direita. Eu creio que isso nunca foi suficiente para ele manifestar alguma distancia em relação a esse tipo de matérias”, aponta Louçã. Isto fora dos tribunais.

Na vida judicial Louçã também encontra algumas originalidades no percurso de Carlos Alexandre, e “talvez a mais significativa delas tenha sido entrar em choque com outro juiz para tentar assegurar para si próprio a função de juiz de instrução para validar as decisões que ele próprio já tinha tomado. E fez disso um conflito interno na magistratura, que é coisa nunca vista”, recordando o seu embate com Ivo Rosa, com quem partilha a contragosto o Tribunal de Instrução Criminal.

Francisco Louçã considera que “a atuação de um tribunal deve ser discreta e legalista e não é publica nem política” e faz uma analogia com Sérgio Moro, “que afirma aquela ideia antidemocrática de que é preciso acabar com a politica e impor uma espécie de justicialismo”, também ele politico.

Em jeito de declaração de voto público, o conselheiro de Estado remata dizendo que “o que o António Costa faz é absolutamente razoável. É a jurisprudência portuguesa, é a tradição” e que o que não tem nenhum sentido é tentar criar “alguma forma de tensão entre órgãos de soberania que têm poderes próprios e funções próprias bem delimitadas pela Constituição da República Portuguesa. E espero que o juiz Carlos Alexandre não se esqueça de que há uma Constituição democrática em Portugal”.


Expresso

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