Inês Cardoso | Jornal de
Notícias | opinião
2019 termina como começou. Só no
mês de janeiro foram mortas oito mulheres em contexto de violência doméstica.
Nestes últimos dias do ano, sucedem-se homicídios e explicações que mostram o
quanto o sentimento de posse continua a dominar as relações.
"Ele era muito ciumento. Não
queria que ela trabalhasse, nem que falasse com ninguém", conta uma amiga
de Helena, a mulher de 34 anos degolada à frente dos dois filhos.
Somam-se outras notas dos dias
com a desigualdade retratada em números. Duplicaram as queixas de trabalhadoras
do comércio junto da Comissão para a Igualdade. Reclamações devido a diferenças
em função do sexo, horários e salários. As desigualdades no acesso ao emprego
agravaram-se e, ao ritmo atual, teremos de esperar até ao ano 2276 para que
homens e mulheres estejam nivelados.
Há 30 anos, sonhavam-se viagens
ao espaço, tecnologia inovadora, capacidade de teletransporte, um mundo de
ciborgues. Tirando a perigosa utilização de dados pessoais em múltiplos setores
e aplicações, a realidade está bem afastada dos caminhos imaginados pela ficção
científica. E, ainda assim, não fomos dominados por máquinas, mas estamos longe
de atingir o respeito integral pela vida e pela pessoa humana.
Somos, na era das redes e da
conexão permanente, rápidos a disparar mas nem sempre ponderados a refletir.
Gritamos muito sobre os problemas, mas tardamos a encontrar soluções. Não se
vislumbra um sinal de alteração de comportamentos ou de decréscimo nos números
da violência doméstica, por mais que o assunto tenha enchido páginas e estado
no centro do debate público nos últimos meses. Na viragem para um novo ano,
projetamos desafios da ciência, do ambiente, da política. Falta aquele que é o
objetivo aparentemente mais simples, transversal a todos os outros: mais
humanidade em tudo o que fazemos e idealizamos. No que isso significa de
atenção a todos e ao valor absoluto de cada um.
*Diretora-Adjunta
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