Jorge Rocha* | opinião
O fim da suborçamentação do
Serviço Nacional de Saúde, mediante o reforço de 800 milhões de euros no
próximo ano e a contratação de mais 8400 profissionais, constituiu a boa
notícia de ontem, embora se revele ingrata para os que, à custa do setor,
porfiam nas críticas ao governo e para quem faz dele um negócio, já que verá
prejudicadas as previsões de rentabilidade das suas clínicas e unidades
hospitalares.
Será bastante para resolver de
vez todos os problemas anunciados nos últimos anos? De modo algum, porque os
cortes aplicados pelo governo de Passos Coelho não se sentiram com a expectável
gravidade logo a seguir, mas revelaram a virulência no prazo bastante para
todas as responsabilidades serem transferidas dos autores da malfeitoria para
os que nada tinham tido a ver com ela e a tentaram esforçadamente contrariar.
Quem conhece as leis da mecânica ou as da natureza sabe bem como existe um
hiato significativo entre a causa, que produz um mal e o momento em que ele
mais se agudiza. Daí que este orçamento de 2020 seja o que, verdadeiramente,
começará a demonstrar os benefícios das políticas implementadas desde 2016 para
recuperar o combalido SNS.
É natural que João Miguel Tavares
seja um dos que não goste desta notícia e por isso escolha outra para o
persistente exercício de maldizer sobre o governo. Desta feita pega na questão
da delação premiada, badalada nos últimos dias como hipótese de alteração da
legislação sobre as áreas da Justiça, e faz um desesperado lamento sobre a
impossibilidade de se tornar possível entre nós essa prática oficial da bufaria
nos tribunais. Nele se verifica mais uma eloquente demonstração da incapacidade
do escorpião em iludir a natureza tornando-se diferente do que é. E este
Tavares não consegue reprimir as saudades do tempo em que a delação era ameaça
persistente para quem incorria no sério risco de se sujeitar às torturas dos
pides na Rua António Maria Cardoso. Que cómodo seria pagar a dois tunantes, que
afiançassem ter ocorrido uma qualquer vilania por parte de um político socialista
para logo receberem crédito de algum Carlos Alexandre e assim, sem outras
provas, enfiá-lo na prisão de Évora?
O que Tavares quer ostensivamente
ignorar é ter sido durante o período em que António Costa foi ministro da
Justiça, que se produziu a única legislação consistente e coerente destinada a
combater a corrupção em Portugal. Nenhum outro político - mormente os que ele
gostaria de ver novamente no poder - tem tais provas dadas contra algo que,
enganadoramente, quer assacar a uma suposta «cultura socialista», mas tem-se
mostrado particularmente proveitosa para os Dias Loureiros, os Paulos Portas, e
outros que tais, relativamente a quem o mesmo Tavares não se tem mostrado nada
obcecado.
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