sábado, 2 de fevereiro de 2019

Nuclear | Fim do INF é corrida armamentista à vista

Gráfico do Ministério da Defesa russo exibido em apresentação de novo sistema de mísseis
Os americanos se desligaram de fato do tratado que regula as armas nucleares de médio alcance. Com isso, o futuro, sobretudo da Europa, ficou bastante mais sombrio, opina Max Hofmann.

Max Hofmann (av) | opinião

Sem dúvida, segundo todas as informações disponíveis, os Estados Unidos têm razão: com seus mísseis 9M729, a Rússia viola o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF). Segundo informações da DW, diversos serviços secretos ocidentais confirmam isso, independentemente. Então, por que se agarrar a um pacto que não é mais respeitado?

A corda-bamba na qual o mundo se equilibra, no mais tardar desde a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA, perde uma importante rede de segurança. Pois os EUA abandonam o Tratado INF sem que haja uma perspectiva realista para um acordo substituto.

De russos e americanos, escuta-se repetidamente que essa medida na verdade se dirige aos chineses. Estes, de fato, estão basicamente desvinculados de tratados de desarmamento ou outros acertos limitadores e se armam em grande escala. Isso é um problema sobretudo para a Rússia. Do ponto de vista de Moscou, para poder ampliar o potencial de ameaça em direção ao Leste são necessários mísseis de médio alcance baseados em terra.

Também contra isso há pouco a ressalvar, do ponto de vista militar. Os próprios EUA observam com preocupação crescente os gastos armamentistas e militares da China. Mas, façam-me o favor, como é que justamente o abandono de um dos últimos grandes acordos sobre armas nucleares poderá melhorar a situação? Os americanos fazem assim o mesmo que os russos: eles ficam brincando com o pavio do fim do mundo.

Por toda parte, atualmente a mudança climática é invocada como possível golpe fatal para a humanidade. Pode ser, mas uma nova, descontrolada corrida armamentista entre Rússia e EUA, combinada com a China como nova potência militar mundial, faz o futuro parecer ainda mais sombrio.

Todos nós, mas em especial os europeus, enquanto peça no tabuleiro e potencial campo de batalha das superpotências, tivemos uma enorme sorte, na época da Guerra Fria, de que a tensão não tenha desembocado numa guerra nuclear. Durante a crise de Cuba, em 1962, isso quase aconteceu. Um motivo pelo qual esse pavoroso cenário pôde ser evitado foram os protagonistas políticos da época, em especial John F. Kennedy e Nikita Krushov.

Hoje em dia, é incomparavelmente mais difícil encontrar políticos dessa velha, tendencialmente prudente escola por trás dos botões das armas nucleares. Por sorte, até há pouco Trump se mantivera basicamente fora das questões militares, e na Otan insistia antes por dinheiro e contribuições dos parceiros de aliança.

Ao que tudo indica, esse tempo passou. O presidente russo, Vladimir Putin, prefere brincar com fogo no oeste de seu gigantesco império. Pois, por mais que seja convincente a argumentação da ameaça chinesa, isso não justifica que ele fique brandindo seus mísseis de médio alcance na cara dos europeus.

Portanto não só a União Europeia, mas também o resto do mundo, em breve não terá mais o Tratado INF. Dos grandes instrumentos de limitação e desarmamento nuclear, sobra apenas o acordo New START, que sairá de vigor em 2020. No mais tardar aí, teremos exatamente o contrário daquilo de que o planeta precisa, que seria um acordo abrangente, de escala mundial, para controle das armas nucleares. Nada mais tem boas perspectivas de longo prazo, sobretudo considerando-se os muitos países menores que também cultivam ambições nucleares.

Desse modo, os atuais políticos das superpotências estão legando para as gerações futuras um mundo realmente assustador. É certo que muitos na Europa quase não sentem qualquer ameaça, e a maioria nem sabe mais como é uma guerra. Em si, isso é algo fantástico, mas as chances de que permaneça assim pioraram mais ainda após a retirada americana do Tratado INF.

O ser humano tem memória curta, e isso também se aplica às nações e seus presidentes. A Rússia e os EUA precisam se conscientizar o quanto antes sobre quão terrivelmente devastadoras são as forças com que eles estão brincando.

Max Hofmann (av) | Deutsche Welle

Donald Trump foi forçado a desistir?


Thierry Meyssan*

Renunciou o Presidente Donald Trump a mudar a política norte-americana? Submeteu-se ele à anterior classe dirigente do seu país? No decurso dos dois últimos meses, a sua Administração parece ter reorientado o AfriCom, o CentCom e o SouthCom. O primeiro comando militar do Pentágono teria sido autorizado a dar batalha aos projectos chineses no continente africano; o segundo teria sido envolvido na via da divisão do Médio-Oriente Alargado entre árabes e persas, e o terceiro no da destruição das estruturas estatais da Bacia das Caraíbas. Desde já estas novas missões acompanham-se de um retorno dos neoconservadores.

Desde as eleições intercalares, a 6 de Novembro de 2018, o Presidente Trump enfrenta uma pressão extremamente forte. As administrações federais foram fechadas a 22 de Dezembro (shutdown), por causa da oposição parlamentar ao projecto de orçamento que incluísse o financiamento de um Muro na fronteira mexicana. A crise só chegou ao seu final 35 dias mais tarde, a 25 de Janeiro de 2019. O Presidente Trump inclinou-se temporariamente perante as exigências do Partido Democrata. Segundo a S & P Global Ratings, o “shutdown” teria custado mais US $ 6 mil milhões (bilhões-br), ou seja um custo mais pesado que o Muro que seria suposto ter poupado [1].

Durante este período, a Administração Trump multiplicou os sinais de abandono da sua política Externa e de Defesa e apoio ao imperialismo norte-americano. Dado o modo de governança do promotor imobiliário, é possível que essa reviravolta completa seja apenas aparente e destinada a ser posta em causa a 15 de Fevereiro, a data do fim do acordo sobre o orçamento. Seja como for, de momento, inúmeros elementos levam a pensar que Donald Trump teria renunciado a promover a mudança que havia prometido.

- A 13 de Dezembro de 2018, na Heritage Foundation, o Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, expôs a nova estratégia dos EUA em África [2]:

• (1) desenvolver o comércio,
• (2) lutar contra o terrorismo islâmico,
• (3) vigiar a utilização da ajuda norte-americana.

Nada de muito novo, salvo que os objectivos comerciais foram longamente expostos já não como uma rivalidade face às antigas potências coloniais (França e Reino Unido), mas, antes, como um violento combate contra a China e a Rússia.

- A 20 de Dezembro, o Secretário de Defesa, o General James Mattis, enviou uma carta pública de demissão ao Presidente Trump [3]. Contrariamente ao que dizia a imprensa, ele concordava com a retirada de tropas da Síria, mas inquietava-se com a mensagem dada aos Aliados da Coligação anti-Daesh e, partindo daí, do possível fim da liderança norte-americana [4]. Considerando que não havia lição a receber em público, Trump demitiu imediatamente Mattis sem o deixar manter o exercício das suas funções durante o tempo de lhe encontrar um sucessor.

Todavia, cedendo aos seus críticos, o Presidente Trump voltou atrás e admitia que a retirada das tropas seria mais longa que o previsto.

- A 3 de Janeiro de 2019, na abertura da 116ª sessão do Congresso, o representante Democrata Eliot Engels, e o Senador Republicano Marco Rubio apresentavam duas propostas de lei (H.R. 31 [5] e S. 1 [6]) incluindo uma passagem quase idêntica visando lançar sanções que impedem a reconstrução da Síria. Em seguida, Engels (já autor do Syria Accountability Act de 2003) foi eleito Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) da Câmara, enquanto James Rich foi eleito para a Comissão equivalente do Senado. Este último juntou-se imediatamente à proposta de lei contra a Síria.

Os dois textos argumentam que a República Árabe da Síria, e não os jiadistas, teria torturado as vítimas fotografadas no «relatório César», o que justificaria o bloqueio à reconstrução do país. O texto do Senado vai mais longe apoiando, por isso, a ajuda militar a Israel, na altura em que o Estado Hebreu admitiu conduzir uma intensa campanha de bombardeamentos à Síria.

- A 10 de Janeiro de 2019, o Secretário de Estado Mike Pompeo apresentava a nova estratégia para o Médio-Oriente Alargado durante uma conferência na Universidade americana do Cairo [7]. Tratava-se: 

• (1) de lutar contra o terrorismo islâmico,
• (2) de lutar contra o Irão e seus aliados,
• (3) de se retirar militarmente da região em proveito de uma «OTAN» israelo-árabe.

No entanto, para além de que dividir a região entre árabes e persas é ainda mais perigoso do que a situação actual, parece improvável conseguir criar uma aliança militar israelo-árabe apoiando-se em governos que já colaboram secretamente, é certo, mas contra a opinião das populações. Simultaneamente, o Conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, punha de pé uma organização terrorista internacional contra o Irão, incluindo elementos árabes sunitas do Daesh (E.I.) e de Mujaideens do Povo [8].

- No mesmo dia, 10 de Janeiro, o Secretário de Estado, Mike Pompeo, tornava pública uma declaração contra a Venezuela dando o sinal a Juan Guaido para se autoproclamar presidente interino [9]. Seguia-se a crise constitucional que se conhece.

Enquanto a imprensa ocidental e os Venezuelanos interpretavam o conflito como pondo em questão o governo bolivariano, nós anunciamos, um pouco antes dos acontecimentos, que o Pentágono ia aplicar à Bacia do Caraíbas a mesma estratégia que aplicou anteriormente aos Grandes Lagos Africanos e depois ao Médio-Oriente Alargado [10]. Após longos debates em privado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo adoptava a mesma posição [11]. Nomeadamente, Moscovo declarava : «A criação deliberada, e claramente bem orquestrada, de um duplo Poder e de um centro de decisão alternativo na Venezuela abre a via para o caos e a erosão do Estado venezuelano».

- A 22 de Janeiro, o Partido Democrata fez adoptar pela Câmara dos Representantes uma lei interditando o Presidente Trump de se retirar da OTAN [12]. O texto fora redigido em co-autoria por Eliot Engels.

Muito embora esta lei não tenha sido discutida durante a campanha para as eleições intercalares, ela foi considerada pelo Partido Democrata como sendo prioritária em relação aos seus compromissos com o Obamacare. Eliot Engels havia co-redigido, com o Secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, uma coluna de opinião, em Julho de 2018, em prol da Aliança [13].

- A 26 de Janeiro, Mike Pompeo anunciou que o neoconservador Elliott Abrams seria o seu enviado especial para a Venezuela. Ora, Abrams foi o candidato dos imperialistas à Secretaria de Estado há dois anos atrás. O seu nome permanece associado às piores acções secretas dos Estados Unidos na América Latina durante a Guerra Fria.

O neoconservadorismo é uma forma de trotskismo, portanto ideologicamente de extrema-esquerda, que se aliou ao aparelho de Estado dos EUA durante a Administração Reagan. Os seus partidários não cessaram de bascular da esquerda para a direita e vice-versa a cada alternância política. Contudo, eles opuseram-se à eleição de Donald Trump, ao qual agora, no entanto, se juntam.

Houve, pois, um reenquadramento do Africom, do CentCom e do SouthCom, autorizando-os, aos três, a defender já não os interesses do Povo norte-americano, mas, sim os das corporações transnacionais e de Israel. Sempre associados a esta política, os neoconservadores, ou pelo menos um dos mais ilustres de entre eles, estão de volta.

Estes elementos tendem a atestar que o Partido Republicano e a Administração Trump mudam de política radicalmente e regressam —à excepção da recusa em deixar organizações terroristas administrar Estados— à política do Partido Democrata, do Presidente Barack Obama e de Hillary Clinton: o imperialismo militar ao serviço das corporações transnacionais.

Esta renúncia parece ter sido anotada pelos principais doadores do Partido Republicano. Assim, os irmãos Koch acabam de anunciar que não apoiarão a reeleição de Donald Trump [14].


*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Notas:
[2] “Remarks by John R. Bolton on the The Trump Administration’s New Africa Strategy”, by John Bolton, Voltaire Network, 13 December 2018.
[3] “Resignation letter from James Mattis”, by James Mattis, Voltaire Network, 20 December 2018.
[4] “Os Estados Unidos recusam bater-se para os financeiros transnacionais”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 25 de Dezembro de 2018.
[5] “Caesar Syria Civilian Protection Act of 2019”, Eliot Engels, US House of Representatives, January 3, 2019.
[6] “Strengthening America’s Security in the Middle East Act of 2019”, Marco Rubio, US Senate, January 3, 2019.
[7] “Mike Pompeo’s Remarks at the American University in Cairo”, by Mike Pompeo, Voltaire Network, 10 January 2019. .
[8] “A utilização do terrorismo segundo John Bolton”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 22 de Janeiro de 2019.
[9] “US Actions Against Venezuela’s Corrupt Regime”, by Mike Pompeo, Voltaire Network, 10 January 2019.
[10] “Os Estados Unidos preparam uma guerra entre Latino-americanos”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de Dezembro de 2018.
[11] “Russian Foreign Ministry statement on the developments in Venezuela”, Voltaire Network, 24 January 2019.
[12] “House aims to prevent Trump from withdrawing from NATO”, Karoun Demirjian, Washington Post, January 22, 2019.
[13] “President Trump, you need NATO more than ever”, Eliot L. Engel & Anders Fogh Rasmussen, CNN, July 10, 2018.
[14] “Koch network tells donors it plans to stay out of 2020 race, once again declining to back Trump”, Josh Dawsey and Michelle Ye Hee Lee, The Washington Post, January 24, 2019.

O Brexit e a engrenagem autocrática da UE


É difícil, mas indispensável, acompanhar de maneira informada o processo do Brexit. Os grandes media fazem coro a traçar um cenário apocalíptico para o futuro da Grã-Bretanha, e a UE negoceia o processo de forma verdadeiramente chantagista e terrorista. Do que se trata é de desencorajar qualquer veleidade de saída, sobretudo se esta for inconveniente para a Alemanha. Que ela resulte de manifestação da vontade popular é coisa a que a UE, como é sabido, não dá qualquer importância.

José Goulão* | opinião

Sobre o Brexit fala-se e escreve-se muito, diz-se pouco e o essencial, como norma, fica escondido. Avalia-se o processo segundo as pessoas que encabeçam as tomadas de decisão, resume-se o diferendo à oposição entre eurocépticos e europeístas, atribui-se peso político decisivo ao velho mito do antagonismo entre as ilhas e o continente, montam-se elaboradas análises em torno do acessório e assim se vai dissolvendo o fundamental perante uma opinião pública pouco e mal informada: nas ilhas e no continente.

Ora o essencial é o tratamento exemplar que os eurocratas, como servidores dos interesses que mexem os cordelinhos da União Europeia, pretendem dar ao processo de saída do Reino Unido – se chegar a haver uma saída, pois a dúvida ainda é legítima.

Isto é, Bruxelas deseja que a atitude que adoptou perante o Reino Unido, depois de este apresentar a intenção de sair, seja absolutamente dissuasora de qualquer outra tentativa de outro Estado membro para seguir o mesmo caminho. A mensagem transmitida a cada um dos membros da União é óbvia, apesar de implícita: se um país com o estatuto de potência de topo da organização, como o Reino Unido, é obrigado a sujeitar-se a tais humilhações dos seus dirigentes e órgãos institucionais, imagine-se a sorte reservada a um simples plebeu, principalmente um pequeno ou médio país. Se o rolo compressor cilindra o Reino Unido desta maneira, o que não faria a uma Grécia, Portugal, mesmo a uma Itália, Espanha, Polónia se, por absurdo, decidissem requerer a saída. Uma coisa, de facto, é os povos estarem saturados da União Europeia até às raízes dos cabelos e chegarem até a pronunciar-se democraticamente pela saída; outra coisa, bem diferente, seria conseguirem sair e sobreviver nessa condição. A diferença revela quanto valem hoje os mecanismos democráticos.

A engrenagem autocrática da União Europeia não hesita perante o recurso à chantagem e a comportamentos de vendetta, eficazes para servirem de exemplo. Não é por acaso que em Bruxelas se diz à boca cheia, embora no recato dos bastidores, que «na União Europeia entra-se mas não se sai» – assim se definindo a tão alardeada «solidariedade» para que se cumpra «o sonho» dos «pais fundadores». Mais um mito transformado em causa política para que a doutrina ditatorial do mercado prossiga o seu caminho com a menor dose possível de sobressaltos.

Sugar até ao tutano

A generalidade das estimativas, devidamente silenciadas, revela que os povos das Ilhas Britânicas ficaram a perder com a entrada do Reino Unido na Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. Os índices sociais revelam condições de vida hoje bastante mais degradadas para os sectores mais desfavorecidos, enquanto a opulência das grandes fortunas alastrou.

ANTES E DEPOIS

Antes de aderir à CEE, em 1973, o Reino Unido:
- tinha 2,8 milhões de pobres;
- desconhecia o fenómeno dos sem-abrigo;
- não tinha trabalho precário;
- possuía serviços públicos de qualidade e a preço acessível;
- era a 5.ª potência económica mundial

Em 2018, após 45 anos de CEE e UE, o Reino Unido:
- tem 14 milhões de pobres;
- tem 80 mil sem-abrigo;
- tem 10 milhões de trabalhadores em regime precário;
- tem serviços públicos de menor qualidade e mais caros;
- perspectiva-se como a 10.ª potência económica mundial (a manter-se na UE).

As privatizações arrasaram a qualidade e encareceram os serviços essenciais para a vida em sociedade. Hoje são 10 milhões os trabalhadores em regime de precariedade, modalidade que só passou a ser aplicada já com o país na CEE.

No outro lado da escala, se nos anos setenta do século passado a parcela de 20% dos mais ricos tinha um rendimento quatro vezes mais elevado que a dos 20% mais pobres, hoje esses rendimentos são cinco vezes maiores.

O Reino Unido era a quinta potência económica mundial quando entrou na CEE; por este caminho, as projecções actuais atribuem-lhe o 10º lugar em 2030.

Através destes dados percebe-se facilmente que a utilização abrangente do termo «eurocéptico» é mal-intencionada e mistificadora; e se a maioria dos detentores dos rendimentos mais elevados votou da mesma maneira que a maioria dos mais desfavorecidos no referendo sobre o Brexit, as razões foram tão semelhantes como as receitas de um cavalheiro da City e o salário de um trabalhador precário de uma fábrica de componentes para telemóveis.

Dizem igualmente os índices conhecidos, e pouco divulgados, que a economia britânica iria sofrer de facto com o Brexit, mas apenas nos primeiros dois anos; passada essa fase regressaria ao crescimento e a um ritmo que muito rapidamente ultrapassaria o do conjunto dos países da União Europeia.

Não surpreende, portanto, que o preço imposto pelo Conselho Europeu ao Reino Unido para poder sair da União Europeia seja a enormidade de 65 a 70 mil milhões de euros, avaliados por conta de compromissos estabelecidos nos planos plurianuais e que deixariam de ser cumpridos. Brandir uma verba deste tipo não é apenas uma arbitrariedade; é uma sabotagem da decisão assumida pelos povos do Reino Unido no referendo de Junho de 2016. O que é próprio de uma engrenagem autocrática como a União Europeia.

Aliás, segundo as sondagens, a vantagem dos partidários do Brexit sairia provavelmente reforçada em novo referendo – sendo essa a verdadeira razão que tem impedido a sua convocação.

Humilhação

É importante recordar que o governo do Reino Unido levou à União Europeia uma proposta de saída, o chamado Plano Chequers (1), no sentido de permanecer no mercado único, sem livre circulação de pessoas, bens e serviços e sem dependência do Tribunal Europeu do Luxemburgo.

As circunstâncias da rejeição desta opção foram humilhantes, porque a primeira-ministra britânica, Theresa May, chegou a ser obrigada a permanecer no exterior de uma reunião do Conselho Europeu e acabou por aceitar uma cedência total às exigências da União – e que teve como resultado seguinte a derrota na Câmara dos Comuns.

No entanto, a pretensão assumida agora pela maioria dos deputados de Londres para renegociar o acordo é liminarmente rejeitada por Bruxelas, tal como aconteceu ao Plano Chequers.

A comunicação social mainstream usa, por sistema, a metodologia mistificadora da fulanização dos processos de decisão para não aprofundar o que verdadeiramente está em causa.

Seguindo então brevemente por esse caminho, mas alargando o leque dos envolvidos, iremos encontrar a figura do presidente do Conselho Europeu, o neoliberalíssimo polaco Donald Tusk, como o homem de mão dos interesses que transformaram o Brexit num caso exemplar e que impõe a capitulação total do Reino Unido.

É Tusk quem rejeita liminarmente o Plano Chequers e dá a cara por uma manobra de chantagem que é a imagem de marca do processo dito «negocial»: manter a Irlanda do Norte na União Aduaneira, ao contrário do restante Reino Unido, de modo a que não sejam reinstaladas as fronteiras entre aquele território e a República da Irlanda e não se reabram assim as portas do sangrento conflito irlandês. Ou seja, haveria controlos alfandegários entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido, com a particularidade de alguns deputados eleitos por aquele território serem essenciais à existência da coligação que sustenta o governo de May.

Donald Tusk é amigo de infância da chanceler alemã Angela Merkel; não é difícil perceber, portanto, a mão alemã em todo o processo de sabotagem e manipulação, estabelecendo-se, a partir daí, o padrão de comportamento da União Europeia. A Alemanha já terá feito, certamente, as contas aos milhares de milhões de euros de quebra do seu PIB com a saída do Reino Unido.

O que fará ainda mais sentido se ficarmos a conhecer outras figuras que marcaram o processo de «negociações». O francês Michel Barnier, extremamente próximo de Macron (2), foi o chefe negociador; mas teve como sua «número dois» precisamente uma alemã, Sabine Weyang, que desempenhou o principal papel executivo no processo.

Por este caminho da personalização poderíamos ainda tropeçar na figura de Tom Tugendhat, o deputado britânico que chefia a ala anti-Brexit do Partido Conservador de May, e cuja esposa, Anessie Tugendhat, trabalha na Embaixada de França em Londres. França que, a exemplo da Alemanha, está na linha da frente contra o Brexit (3).

Assim se chegou à situação actual: a capitulação de May perante a União foi rejeitada pelo Parlamento de Londres, que pretende o relançamento das negociações para a saída, entretanto já recusada por Bruxelas.

Deste modo, como alternativa ao «Brexit duro» não haverá um «Brexit suave» porque a União Europeia, além de «negociar» impondo, afirma agora que nada mais há para discutir.

E a senhora May, há muito com o seu governo preso por arames, mas sobrevivendo, assumiu uma fuga para a frente ao dizer que «para um mau acordo antes acordo nenhum».

O impasse que a situação sugere é aparente. O governo de Londres já não tem margem de manobra; o Parlamento britânico também não, porque Bruxelas recusa a sua alternativa.

O mais certo é a crise política desembocar em alterações, a prazo, das posições governamentais e parlamentares de Londres, nas quais o Brexit se dissolva como «verdadeiro pesadelo que é», como foi qualificado por um diplomata de um dos 27, oriundo de um país do Leste.

Seja como for, o Reino Unido fará sempre o papel de grande derrotado em todo este processo. Só sairá capitulando, pagando o que tem e o que não tem; ficando, deixará bem claro que a opinião dos cidadãos manifestada em referendo não contou para nada.
Ficou dado o exemplo.

A União Europeia, como engrenagem autocrática, não admite dissidências.

Fonte: https://www.abrilabril.pt/internacional/o-brexit-e-engrenagem-autocratica-da-ue

Notas:
1- O leitor pode aceder na íntegra ao documento oficial britânico aqui.
2- Europeista convicto, Michel Barnier é também próximo de Nicolas Sarkozy e de Durão Barroso, tendo sido conselheiro de ambos. Ministro em vários governos de direita, pertence ao Conselho de Estado françês. Comissário Europeu. Entre cargos governamentais e na UE, esteve ligado a um grupo de negócios francês na área da biologia e dos medicamentos. Fundou o grupo de reflexão Nova República para promover o diálogo entre políticos e empresários sobre as questões europeias.
3- Tom Tugendhat é uma figura do establishment político-militar britânico. Aristocrata, tem dupla nacionalidade britânica e francesa. Além da posição da esposa, Anessie Tugendhat, refira-se que o seu sogro dirige o grupo de observadores da OSCE na Ucrânia. Militar desde 2003, no Intelligence Corps (Serviço de Informações do Exército britânico). Fluente em árabe, fez a guerra no Iraque e no Afganistão, tendo recebido condecorações «operacionais» e a Ordem do Império Britânico. Promovido a tenente-coronel em 2013. Faz parte do Comité dos Negócios Estrangeiros. Considerou publicamente o «caso Skripal» como um acto de guerra russo contra o Reino Unido.

*em O Diário

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Venezuela prende grupo de terroristas contratados pela oposição

Néstor Reverol no decorrer da conferência de imprensa, em Caracas, onde deu detalhes sobre a detenção de um grupo de mercenários contratados pela oposição para realizar acções terroristas Créditos/ Ciudad CCS

As autoridades venezuelanas revelaram ter capturado um grupo de mercenários contratados pela oposição venezuelana para cometer assassinatos selectivos, no âmbito da chamada «Operação Constituição».

Néstor Reverol, ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, disse na quinta-feira que os indivíduos entraram no país a partir da Colômbia, tendo como objectivo promover o caos e o terror entre a população civil.

Numa conferência de imprensa dada em Caracas, Reverol explicou que as investigações levadas a cabo pelas autoridades conduziram à detenção de Miguel Ambrosio Palacio Salcedo, de 44 anos, suboficial desertor da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). Tinha como missão proporcionar a logística e o recrutamento necessário para realizar o assassinato selectivo de políticos e militares venezuelanos, segundo informam a Prensa Latina e a AVN.

Foi também detido o primeiro-tenente na reserva Alberto José Salazar Cabaña, de 43 anos, oficial desertor do Exército Bolivariano desde 2016, que entrou no país a partir da Colômbia acompanhado por mais dois oficiais desertores da FANB, ambos identificados e procurados pelas autoridades.

Néstor Reverol deu ainda conta das detenções dos coronéis na reserva Oswaldo García Palomo, de 54 anos, e de José Acevedo Montañés, de 57, bem como de um indivíduo identificado como Antonio José Iabichela Barrios, de 45 anos – todos envolvidos no plano conspirativo.

García Palomo era procurado pela Justiça venezuelana pela participação no crime de atentado frustrado contra o presidente da República, Nicolás Maduro, cometido em 4 de Agosto último.

Os terroristas, que seguiam numa viatura de cor verde, foram capturados num ponto de controlo da auto-estrada José Antonio Páez, precisou o ministro, explicando que, no processo, foram apreeendidas duas espingardas de assalto AK 103, dois telefones por satélite e 500 braceletes com as iniciais da «Operación Constitución» (OC).

Néstor Reverol sublinhou que o plano conspirativo visava «aumentar a pressão a nível nacional, no âmbito das acções golpistas que têm por fito acabar com o mandato de Nicolás Maduro, apoiadas pela administração dos Estados Unidos e a direita venezuelana».

«Com as investigações realizadas, não restam dúvidas da participação directa no atentado frustrado contra o presidente Maduro dos serviços secretos colombianos, da CIA e de Julio Borges, foragido à Justiça», frisou.

O que eles esquecem


Romain Migus

O presidente francês, Emmanuel Macron, ordena a Nicolas Maduro que não reprima a oposição MAS ELE ESQUECE as 3 300 prisões e os 2 000 feridos ligados à repressão do movimento dos coletes amarelos.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sanchez, dá oito dias a Nicolas Maduro para organizar eleições MAS ELE ESQUECE que não está no seu posto senão graças a uma moção de censura e não por eleições livres.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa Nicolas Maduro de não ser legítimo por o presidente venezuelano foi eleito senão por 30,45% dos inscritos, MAS ELE ESQUECE que apenas 27,20% dos eleitores estado-unidenses o escolheram.

O presidente colombiano, Ivan Duque, grita à “narco-ditadura venezuelana” MAS ELE ESQUECE que 65% da cocaína no mundo é fabricada na Colômbia, sob o olhar complacente das autoridades do país.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está preocupado quanto aos direitos humanos na Venezuela MAS ELE ESQUECE ter declarado que os movimentos sociais que se opusessem à sua política seriam considerados como organizações terroristas.

O presidente argentino, Mauricio Macri, acusa Nicolas Maduro de ser um corrupto MAS ELE ESQUECE que só o seu nome aparece nos Panama Papers, não o do presidente venezuelano.

Portugal deplora a crise venezuelana que, segundo a ONU, empurrou 7,2% dos venezuelanos para os caminhos da emigração MAS ELE ESQUECE que 21% dos portugueses tiveram de abandonar seu país e vivem no estrangeiro, segundo as mesmas fontes.

O presidente peruano, Martin Vizcarra, grita à ditadura na Venezuela MAS ELE ESQUECE que foi nomeado à frente do seu país sem o menor voto popular, apenas em substituição do presidente anterior destituído por corrupção.

No Reino Unido, os dirigentes denunciam os atentados à liberdade de expressão na Venezuela MAS ELES ESQUECEM que mantém, sem nenhum motivo válido, o jornalista Julian Assange em reclusão.

A Bélgica alarma-se com a situação da economia venezuelana MAS ELA ESQUECE que em Bruxelas a empresa Euroclear retém 1,25 mil milhões de dólares pertencentes ao Estado venezuelano.

Estas inversões acusatórias, próprias desta ”Escola do mundo invertido” descrita por Eduardo Galeano, fazem parte do modus operandi da propaganda contra a Venezuela. Elas visam preparar a opinião pública internacional para a legitimidade de uma acção violenta contra o Povo venezuelano.

As bombas mediáticas já começaram a chover.

O original encontra-se em www.romainmigus.info/2019/01/propagande-contre-le-venezuela.html e em www.legrandsoir.info/propagande-contre-le-venezuela.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ - extraído em Pátria Latina

Venezuela recebe equipamentos militares russos do mais alto nível


O presidente reeleito da Venezuela, Nicolás Maduro, disse durante uma entrevista concedida com exclusividade à Sputnik, que recebe equipamento militar da Rússia com regularidade, afirmando ainda que tem pago todos os empréstimos no prazo estipulado.

Questionado sobre a veracidade dos pedidos de ajuda à Rússia, Maduro afirmou que sempre recebeu apoio russo em todos os setores e que há de fato uma cooperação.

“O presidente Vladimir Putin sempre nos forneceu assistência da Rússia em todos os sentidos, e nós a aceitamos com gratidão. O que pedi ao presidente Putin foi que nos mantivéssemos em contato constante, para termos todo o apoio diplomático e político da ONU e para proteger a verdade venezuelana a nível internacional”, declarou o chefe de Estado venezuelano.


Cooperação russo-venezuelana

Maduro afirma que, durante seu diálogo com o presidente russo, Putin disse que ambas as nações reforçariam a cooperação nos setores económico, comercial, petrolífero, militares e em todas as áreas.

“Em termos de cooperação militar, temos equipamentos russos do mais alto nível, na Venezuela se encontram os sistemas de armas mais avançados, eles estão bem posicionados, todo o nosso pessoal está trabalhando, eles foram treinados na Rússia. Temos uma relação muito boa em termos de cooperação militar com Putin”, enunciou.

Ao ser perguntado sobre a proposta de novos pedidos de armamentos, o líder venezuelano alega que a estratégia é sempre melhorar a cooperação para que se avance na segurança do país.”Temos sempre planos para avançar na cooperação para melhorar a defesa aérea, a artilharia e os sistemas de mísseis. Nós sempre avançaremos aqui. A Venezuela receberá os armamentos mais avançadas do mundo”, disse Maduro, adicionando que as armas chegam ao país todos os meses.

Venezuela paga sempre no prazo

“Temos boas relações financeiras com a China e a Rússia, e elas irão se desenvolver, relações sobre o financiamento da cooperação no setor do trigo, por exemplo. [A China e a Rússia] estão financiando e nós estamos pagando no prazo”, expressou.

Maduro declarou ainda que o “trigo russo tem sido muito bem sucedido na Venezuela”, e que essa colaboração garante ao país latino-americano independência alimentar e segurança.

“A China está financiando a produção de petróleo e espera aumentar o financiamento nos próximos meses. Contamos com o forte apoio da China e da Rússia para o desenvolvimento económico da Venezuela.”

“A Venezuela sempre paga no prazo”, respondeu Maduro sobre se os empréstimos concedidos pela Rússia e China serão reembolsados.A crise política venezuelana se agravou no dia 23 de janeiro, depois que o chefe da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, se autodeclarou presidente interino do país durante um ato realizado nas ruas de Caracas.

A Rússia, China, Irã e Turquia reafirmaram seu apoio ao atual governo venezuelano de Maduro, enquanto vários países latino-americanos, alinhados com os EUA e UE, ignoraram o atual presidente eleito, expressando seu apoio a Guaidó. O México e o Uruguai, no entanto, oferecem assistência para mediar uma solução política para a crise.

Pátria Latina | Fotos: 1 - REUTERS / Adriana Loureiro; 2 - Sputnik / Sergei Guneev

Brasil | Vale se preocupa mais com lucro de acionistas do que fiscalizar barragens, diz engenheiro


O Governo Federal informou na terça-feira (29) que vai priorizar o mapeamento de 3.386 barragens que foram classificadas, de acordo com últimos relatórios do setor, com “dano potencial associado alto” ou “risco alto”.

O texto publicado no Diário Oficial da União determina que seja uma avaliação imediata sobre a necessidade de remover instalações que coloquem pessoas em risco. Ainda não há data para que a análise seja concluída.

Para Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro, a tragédia ocorrida em Brumadinho poderia ter sido evitada se tivesse sido feita um monitoramento permanente pela companhia Vale do Rio Doce e pelos órgãos dos governos.

“Eu acho que é uma falha da fiscalização, mas é também uma cumplicidade das autoridades em relação a isso, só isso explica o que pode ter causado os acidentes”, afirmou.

Olímpio Alves dos Santos vai ainda mais longe e diz que, a partir do momento em que foi privatizada, a Vale deixou de atender aos interesses da população para atender somente aos interesses de grupos financeiros.

“A Vale do Rio Doce está muito preocupada em obter lucro para os seus acionistas e não está fazendo o trabalho adequado para fiscalizar as barragens. (…) O objetivo não é a segurança, nem a atividade económica de exploração, mas sim de obter rapidamente o maior lucro possível”, comentou.

O presidente do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro acredita que há um lobby entre as empresas e o poder público para “obter fortes lucros e impedir a fiscalização”.
“Parece que é isso que aconteceu: a compra de laudos para atestar que a barragem está boa, dois engenheiros atestaram que a barragem estava adequada”, comentou.

Dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), divulgados nesta quarta-feira (30), mostram que o Brasil tem hoje quase 200 barragens de mineração com potencial de dano considerado alto, mesma classificação da barragem 1 da mineradora Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

Sputnik | em Pátria Latina

Brasil | ONU pede investigação “imediata e imparcial” de tragédia em Brumadinho


Especialistas em direitos humanos e meio ambiente das Nações Unidas manifestam preocupação com redução da proteção ambiental no Brasil nos últimos anos e pedem que governo garanta segurança de barragens.

Relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) pediram uma “uma investigação imediata, completa e imparcial” sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), apelando a autoridades brasileiras para que atuais processos de licenciamento e inspeção de segurança sejam corrigidos de modo a evitar novos desastres.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira (30/01), três especialistas em direitos humanos e meio ambiente da ONU lembraram que a tragédia é a segunda envolvendo a mineradora Vale em três anos e questionaram as medidas preventivas tomadas após o primeiro acidente, em Mariana (MG).

“Instamos o governo [do Brasil] a agir de forma decisiva em seu compromisso de fazer todo o possível para evitar que essas tragédias se repitam e em levar os responsáveis à Justiça”, frisaram os relatores de direitos humanos e meio ambiente da ONU Baskut Tuncak, Léo Heller e David Boyd.

Eles também pediram que o governo brasileiro não autorize “nenhuma nova barragem de rejeitos nem permita qualquer atividade que possa afetar a integridade das barragens existentes, até que a segurança esteja garantida”, manifestando preocupação com a redução da regulação da proteção social e ambiental no Brasil nos últimos anos.

Tuncak, relator especial da ONU sobre Toxicidades, pediu uma investigação “transparente, imparcial, rápida e competente” sobre a toxicidade dos resíduos, com divulgação dos resultados para o público.

Além disso, os especialistas apontaram que a Vale deve atuar conforme sua responsabilidade para identificar, prevenir e mitigar impactos adversos nos direitos humanos e compensar danos causados.

A avalanche de lama liberada após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão na última sexta-feira deixou ao menos 84 mortos e 276 desaparecidos. Desde 1988, a mina foi alvo de pelo menos cinco multas ambientais.

Em resposta à tragédia, a Vale anunciou na terça-feira que vai eliminar dez barragens semelhantes às que romperam em Brumadinho e em Mariana, todas nos arredores de Belo Horizonte (MG). A mineradora também prometeu uma doação emergencial de 100 mil reais para a família de cada uma das vítimas do desastre.

Em 2015, o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, deixou 19 mortos e provocou o despejo de mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério, o que afetou rios e mata em Minas Gerais e Espírito Santo. A Samarco, mineradora responsável pela barragem, é controlada pela  Vale S/A e pelo grupo anglo-australiano BHP Billiton.

A Samarco ainda não pagou a multa ambiental imposta pelo Ibama e o processo envolvendo executivos da empresa, da Vale e da BHP Billiton ainda não tem data para julgamento.

Deutsche Welle | em Pátria Latina

Na foto: Ponte destruída por avalanche de lama depois do colapso da barragem em Brumadinho

Portugal | Poderia ser ele quem não é?


Jorge Rocha* | opinião

A greve cirúrgica dos enfermeiros, as reportagens com o bastonário da Ordem dos Médicos a ter nos jornalistas, quem lhe segure no altifalante para dizer mal do SNS, ou um «estudo» da DECO a elogiar a qualidade dos hospitais privados, são três vertentes de uma guerra de resultados ainda incertos: ou os interesses dos grandes grupos económicos do setor saem vencedores e agravam ainda mais a situação de sangria dos recursos públicos para que embolsem maiores lucros, ou regressa-se ao projeto original de António Arnaut, dando primazia ao que do Estado não deveria dissociar-se.

Trata-se de uma disputa entre duas visões ideológicas opostas, uma apostando no princípio da incompatibilidade da saúde dos cidadãos com a ideia de negócio, a outra prezando exatamente o contrário. Porque sabemos bem o que isso significa: se a saúde dos cidadãos é razoável, os hospitais privados multiplicam-lhes os dispendiosos exames clínicos para confirmarem o quão bem estão. Mas, tão-só neles detetem doenças graves, que impliquem custos acima do patamar de rentabilidade, logo os enxotam para os hospitais públicos para ser o Orçamento Geral do Estado a arcar com esses encargos. Paralelamente são estes mesmos serviços públicos a garantirem a formação e os estágios aos jovens médicos para, depois, quando dotados de maiores competências, os verem atraídos por quem neles não havia investido um euro que fosse.

Tudo isto vai ficando muito claro aos portugueses que, apesar de bombardeados com notícias de disfuncionalidades do SNS sabem nele ter a resposta devida aos seus problemas de saúde. Daí que surpreenda a imprudência de Marcelo em se colar tão veementemente ao campo dos que pretendem impor os negócios privados aos interesses públicos. Como se viu no «Eixo do Mal» com Pedro Marques Lopes, nem os seus mais confessos apoiantes arranjam justificação para esse alinhamento. Que, porém, não se estranha: como poderia ele ser quem não é? Enquanto se tratar da contradição entre o bem público e o que só diz respeito a uma elite financeira, com quem sempre privou como amigo do peito, Marcelo pende invariavelmente para esta última trincheira...

*jorge rocha | Ventos Semeados

Portugal | Joana Amaral Dias: "A Caixa é um poço sem fundo”


Entrevista

Apareceu na política pela mão do BE, mas agora é na TV que a sua voz se faz ouvir. Ao divulgar o relatório secreto da CGD, agitou o país. E é com o seu Agir que quer mudar a AR

i - Joana Amaral Dias anunciou nas redes sociais que iria divulgar uma bomba e revelou depois a auditoria à Caixa Geral de Depósitos. Acha que havia falta de vontade de divulgar essas informações?

JAD - Certamente porque esse relatório passou pelas mãos de muitas pessoas. A versão definitiva foi entregue em agosto de 2018 e, por alguma razão, o regulador não a divulgou, o governo não a quis ver, os deputados não tiveram acesso. Como é que isto é justificável?

i - Mas agora a polémica anda à volta do facto de o relatório ser preliminar e não definitivo…

JAD - Isso não existe. Aconselho cuidado e caldos de galinha a quem diz isso porque uma das coisas que justamente o Ministério Público está a investigar é o ocultamento do passivo e das imparidades e a tentativa de branqueamento das contas do banco. A informação a que tenho acesso – além de ter acesso ao relatório também tenho acesso a outra informação – é que o relatório final, pelo menos na altura que foi entregue, não diferia em nada substantivo dessa versão.

i - Os valores não diferem muito?

Acha? Então como é que as pessoas que dizem isso vão justificar os seis mil milhões de euros que foram injetados desde 2012 na Caixa Geral de Depósitos? Vão justificar com que razão? Injetámos mais ou menos 20 mil milhões de euros na banca nos últimos dez anos; destes, seis mil milhões de euros foram para a Caixa. Recordo que, em 2012, a Caixa não fez parte do escrutínio da troika e logo nesse ano foram injetados pelo governo de Pedro Passos Coelho 1,5 mil milhões de euros sem qualquer auditoria. Agora não há imparidades no banco? Vão justificar esses 6 mil milhões como? E esta auditoria da EY é de 2000 a 2015 porque é óbvio que antes de 2000 exatamente a mesma promiscuidade se passou na Caixa Geral de Depósitos, não há dúvidas. Teve momentos melhores, teve momentos piores, talvez este momento tenha sido pior, sobretudo depois de 2005, mas isso não foi um vírus ou um bug do milénio. A Caixa sempre foi este poço sem fundo, serviu como braço forte do poder político para basicamente comprar aliados, para arquitetar uma perigosa rede clientelar que contribui para que Portugal seja campeão da corrupção.

Sónia Peres Pinto e Vítor Rainho | Jornal i

Leia a entrevista na íntegra na edição de fim de semana do i, já nas bancas

António Costa admite invadir a Venezuela mas rebusca uma falsa definição, uma mentira


Em declarações de ontem o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho,” admitiu o envio de tropas para a Venezuela para garantir a segurança dos milhares de cidadãos portugueses e luso-descendentes que lá vivem.” Não é difícil interpretar que Portugal perspetiva invadir a Venezuela com militares lusos se não obtiver a concordância do governo legítimo do país visado. Que se saiba tal concordância, tal autorização não existe. Até porque o governo português optou por se alinhar com a política de terra queimada de Trump e sua trupe de terroristas ao reconhecer Guaidó – um títere dos EUA – como presidente venezuelano auto-nomeado via EUA. Rejeitando o presidente legítimo, eleito pelos venezuelanos, Nicolás Maduro.

António Costa, os do governo português e outros pseudo democratas enchem as bocas com palavras recorrentes a democracia mas na realidade constata-se que recusam a vontade expressa pela maioria dos eleitores venezuelanos e optam por reconhecer um fulano que se anuncia presidente da Venezuela sem se submeter a eleições de acordo com a Constituição venezuelana. Ou seja: Maduro venceu eleitoralmente e é o presidente legítimo mas porque os EUA e os oligarcas e os barões do petróleo e de outros recursos naturais querem apoderar-se dessas fortunas à laia dos “Piratas das Caraíbas”, roubando, Costa e os seus apaniguados do governo e da direita enveredam pelo servilismo aos EUA, barões e falcões, declarando que afinal as eleições em que Maduro venceu não valem e que querem novas eleições, reconhecendo antecipadamente um auto-proclamado presidente Trump-venezuelano que nunca se sujeitou a eleições presidenciais porque não quis. Estranha forma de defender e ser exemplo de democracia.

Afirma Costa que os militares portugueses não vão invadir a Venezuela, como consta em peça mais em baixo, mas somente proteger os portugueses naquele país. O PM de Portugal, tão democrata e da “esquerda de escabeche e fora do prazo” (merece ser assim rotulado) deve estar a esquecer-se que se não tiver autorização legítima para que um militar português ponha um só pé que seja na Venezuela está a invadir o país. Maduro é o presidente legítimo porque na realidade foi eleito pelos venezuelanos, em eleições conturbadas pela direita e outros venezuelanos manipulados pela CIA norte-americana instalada no terreno, pelos que ao serviço dos EUA semeiam a desestabilização. E Costa sabe isso muito bem. Sabe como “elas” se fazem. Também em Portugal um Frank Carlucci, dirigente da CIA e embaixador dos EUA, se alinhou com salazaristas, outros fascistas e bombistas para desestabilizar Portugal logo após o 25 de Abril de 1974.

Sendo verdade que Nicolás Maduro e o regime que vem desde Chávez cometeu e comete erros nada conduziria ao alegado, empolado e manipulado descalabro com que “pintam” a situação na Venezuela, sabendo-se por antecipação que se não existissem as operações da CIA e o terrorismo a que conduz, a instabilidade e os roubos de grandiosos valores em bancos estrangeiros, nos EUA e na UE, nada das dificuldades que os venezuelanos ou os portugueses ali viventes experimentam teriam as porproções atuais, que são aflitivas. Que deixariam de existir se a comunidade internacional se deixasse de preferir a linha seguidista do obtuso, tresloucado e reles ser humano que está na presidência dos EUA, acompanhado pelos que detêm as maiores fortunas do mundo literalmente conseguidas (roubadas) por processos semelhantes aos que estão a aplicar na Venezuela Bolivariana de que Maduro é legítimo presidente.

Se na realidade António Costa sabe isto tudo, quem não sabe que ele sabe (?), porque motivo alinha com Trump e os trumpistas da UE? Porque se expõe, assim como ao governo e ao país, a cometer o crime de invadir a Venezuela. De modo semelhante a Durão Barroso quando alinhou com Bush, Blair e Aznar na invasão ao Iraque sob falsos pretextos que abriram as portas a crimes contra a humanidade e muitas mais violações do Direito Internacional. É isso que António Costa quer? Também espera depois ser premiado com um "lugar ao sol" como Durão Barroso, Blair e Aznar? E quem mais no governo de Costa quer exatamente isso ou muito mais?

Nestes dias de agora são muito mais frenéticas as operações para assassinar Nicolás Maduro e os seus fiéis companheiros mais relevantes. A CIA e outros mercenários do terrorismo estão hiperativos e obcecados no objetivo de matar Maduro e receber o prémio chorudo pelo assassinato – cabeça a prémio como no faroeste. Portugal vai ser cúmplice dos EUA e da UE em mais aquele crime, como o foi no Iraque e na matança de Saddam Hussein e de muitos milhares de iraquianos.

Esta é a guerra dos EUA e de Trump, apoderar-se de toda a América Latina e do resto do mundo. Portugal é cúmplice, por via de ganâncias de pseudo democratas que a seu tempo serão recompensados por altos cargos em corporações internacionais. Assim tem acontecido com uns quantos portugueses que de quase zés-ninguém ascenderam a posições mundialmente relevantes e muitíssimo bem pagas. Uns senhores… do crime internacional.

Por fim seguem-se duas peças retiradas do Jornal de Notícias com declarações de personalidades que demonstram terem decorado a bíblia pseudo-democrata e pseudo-humanista, mas que não engana os mais atentos, nem os que, à portuguesa, chamam os bois pelos nomes. 

Redação PG com fotos 1 e 2 da Google


Costa garante: "Não vamos invadir a Venezuela"

O primeiro-ministro garantiu, esta sexta-feira, que se for necessário será posto em marcha o plano de contingência para auxiliar os luso-descendentes que vivem na Venezuela, pois já estão definidos e articulados com a embaixada portuguesa.

"Temos acompanhado permanentemente ao longo dos últimos dois anos a situação junto da nossa comunidade na Venezuela. A nossa primeira prioridade é preservar a segurança e é garantir a segurança dos portugueses que vivem nesse país. Temo-lo feito através das instâncias consulares e de idas regulares do nosso secretário de Estado das Comunidades Portuguesas à Venezuela", disse António Costa numa visita a Mogadouro.

"Esperamos que a Venezuela retome a sua normalidade democrática, o que passa pela realização de novas eleições. Nós agimos concertados no âmbito da União Europeia, que é a forma de termos mais força para agir sobre o regime de Nicolas Maduro ", acrescentou.

O primeiro-ministro afirmou que há um prazo fixado [oito dias, que termina domingo] e que o governo está a trabalhar com um conjunto de países da União Europeia para que, em conjunto com outros países da América Latina, estarem ativos para o apoio técnico e a garantia de total isenção e imparcialidade na realização de novas eleições. "Vamos deixar que o prazo seja cumprido e na sequência disso serão tomadas as ações devidas e já anunciadas", explicou.

O plano de contingência poderá envolver diferentes graus em função da situação concreta, podendo, no limite, haver situações de evacuações, mas esses canais estão todos estabelecidos e articulados com os países da região para que se for necessário aconteçam de forma mais segura e rápida possível. "Serão envolvidos os meios necessários, mas não se prevê uma intervenção militar. Não vamos invadir a Venezuela", afirmou António Costa.

Jornal de Notícias


Portugueses não querem sair da Venezuela, querem fim do impasse político

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, vincou que "não há nenhum problema com a comunidade portuguesa" na Venezuela e que os portugueses residentes no país não querem sair, mas sim o fim do "impasse político".

"Não há nenhum problema com a comunidade portuguesa e não tenho nenhuma informação relativa que me possa dizer que a segurança e o bem-estar da comunidade portuguesa na Venezuela esteja em perigo", declarou o governante, falando aos jornalistas em Bucareste, na Roménia, à entrada para uma reunião informal com outros homólogos da União Europeia (UE).

Recordando que, no início da semana, houve assaltos a estabelecimentos portugueses na Venezuela, "mas sem nenhuma sequência", e que existe um lusodescendente ferido, Augusto Santos Silva notou que, "fora isto, não há nenhum problema", pelo que "a questão que agora se põe não é ajudar os portugueses a sair da Venezuela".

"Os portugueses, como a imensa maioria dos cidadãos que vivem na Venezuela, não querem sair de lá, querem é sair deste impasse político", acrescentou.

Já lembrando o ultimato europeu ao Governo do presidente Nicolás Maduro para a realização de eleições livres na Venezuela, para o qual foi estipulado um prazo de oito dias que termina no fim de semana, o governante disse esperar que a reunião que hoje arranca em Bucareste e que termina na sexta-feira sirva para definir os passos seguintes por parte da UE, caso o apelo não tenha sucesso.

Haverá "o reconhecimento [da nova liderança], certamente, e depois consequências do ponto de vista político e diplomático", referiu.

O Parlamento Europeu reconheceu esta quinta-feira Juan Guaidó como o "presidente interino legítimo" da Venezuela e exortou a UE e os seus Estados-membros a assumirem uma posição semelhante, enquanto não for possível convocar eleições presidenciais.

Em reação, Santos Silva defendeu o respeito pelo prazo dado. "Na minha opinião, temos de ser credíveis e, portanto, nós dissemos que havia um prazo de alguns dias para que o presidente Nicolás Maduro pudesse associar-se a este processo e, portanto, esperaremos que esse tempo decorra", assinalou.

Já falando sobre o anúncio feito pelo Uruguai e pelo México relativo à realização de uma conferência internacional, em 07 de fevereiro em Montevideu, reunindo os países e organizações que têm uma "posição neutral" sobre a crise na Venezuela, o responsável disse que, neste momento, "não é possível ser neutro sobre a Venezuela".

Isto porque "não há outra solução se não iniciar um processo de transição pacífica, com eleições livres, sob a autoridade da Assembleia Nacional", apontou.

Ainda assim, o governante português realçou que, "evidentemente, que se o presidente Maduro se quiser associar a este processo, como ele tem o controlo do aparelho estatal venezuelano, isso seria uma garantia suplementar para a natureza pacífica da transição".

"É muito importante ter noção que este é um processo político [...] que procura evitar duas coisas que ninguém na UE quer: qualquer intervenção externa na Venezuela e qualquer risco de confrontação interna", adiantou Santos Silva.

A crise política na Venezuela agravou-se com a autoproclamação de Juan Guaidó, no passado dia 23.

Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300 mil portugueses ou lusodescendentes.

A reunião desta quinta-feira decorre no palácio do Banco Nacional da Roménia, numa altura em que a Presidência da UE é assumida por este país.

Jornal de Notícias | Foto 3 de Cristian Hernández/epa

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