quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Cerco aos vírus e liberdade às mentiras da “democracia plena”


Um Curto que fala de cercos e de vírus só pode resultar numa abordagem a temas quentes e de desgraça. Um dos vírus cerca a China e já fez quase duas dezenas de vítimas mortais, além dos gravemente doentes e que só com sorte é que não vão engrossar a estatística da mortalidade. Outro dos vírus abordado aqui no Curto veio de Angola, que fez por lá mortandade e miséria ao longo de décadas, chama-se Isabel dos Santos e o cerco está a ser montado pela justiça angolana.

O antídoto é recuperar os imensos milhões que a dita senhora virose Isabel “abafou” em seu benefício e de mais uns quantos da pandilha de ladrões (entre os quais também portugueses). Além disso convinha pespegar com a vírus Dos Santos a ver o sol aos quadradinhos numa prisão muito rasca em memória aos angolanos que ela engendrou roubar. Ela e todos os apaniguados que contribuíram para o esbulho a Angola. Isso porque só cadáveres, vegetais ou cegos, surdos e mudos não perceberam ao longo de décadas de onde era proveniente a fortuna de Isabel dos Santos… Esperemos sentados para ver  como a Justiça angolana vai desenlear a trama de uma máfia angolana e internacional – onde uns quantos portugueses também ali cabem.

Pronto. Os vírus e os cercos já estão tratados, por aqui. Saiba que no Curto a lavra com que vai deparar tem origem no teclado e massa cinzenta de Raquel Moleiro, jornalista do Expresso, obviamente. Aquele jornal umas vezes conceituado e/ou escorraçado pelos portugueses, dependendo da cor que têm nos convencimentos e esquecendo-se que nada é melhor que aceitarmos ler sem sofismas tudo que apanharmos à mão e olhos porque só assim melhor podemos conhecer alfa e ómega. De salientar, como quase sempre, que o Expresso pertence à Impresa do bem conservado Pinto Balsemão de Bilderberg – aquele grupo semi-secreto que secretamente trama a população mundial em prol de os tais 1% que detêm a riqueza global – é o que dizem os plebeus mais letrados e informados. Pois.

Extra Curto queremos salientar o que nos proporcionou ontem a informação nos vários órgãos, não só no Expresso ou SIC. Título no Jornal de Notícias, que arrastámos para o PG: Portugal tornou-se democracia plena, mas o mundo é menos democrático. Sorte a nossa, em Portugal, azar dos países que no mundo estão a regredir nos direitos que autênticos dirigentes criminosos lhes negam. Porém, convém reconhecer que a considerada e declarada “democracia plena” pelos que elaboraram o ranking e debitaram as considerações relativas a Portugal estão longe da verdade em imensos itens, o débito de democracia é evidente e por vezes até parece que vivemos numa democracia lusitana com cores salazaristas. Principalmente no que toca a oportunidades igualitárias na educação, na saúde, na habitação, no exercício da cidadania correspondente à tal democracia plena referida e por que classificam o regime em Portugal. As desigualdades são dantescas em vários aspetos. Além disso, em qualquer país onde não existe Justiça plena é impossível vigorar a democracia plena. Portugal é aí que se enquadra. “Democracia Plena” como? Os tipos que elaboram e estudam estas coisas, das estatísticas e etc devem chegar a conclusões depois de noites mal dormidas por andarem na borga e a beberricar aqui e ali até se inspirarem e decidirem divulgar classificações erróneas que servem para iludir os papalvos…

Ooh, mas isto tinha pano para mangas. Por isso terminemos aqui e deixemos ao critério dos que assim desejarem classificar a democracia vigente em Portugal, onde a corrupção é mantida como tabu, onde andam ladrões e vigaristas da alta a beneficiar de impunidades e em liberdade plena no lugar de serem recolhidos em celas de prisões – como acontece aos portugueses plebeus e paupérrimos por roubarem umas quantas dezenas de euros ou objetos de valor semelhante. Para não referir em pormenor aquela velhota pobríssima que roubou uma barra de chocolate num  supermercado e que foi condenada a prisão. Ou outros com duas latas de conservas de atum, ou pão…

Democracia plena? Andam a cercar-nos com mentiras, é o que é.

Democracia plena… A sério?

Afinal acima trata de cerco aos vírus e liberdade às mentiras ou avaliações erradas ou incompletas. É a vida… dita democrática.

Bom dia. Até quando regressarmos com mais um Expresso Curto. Pois.

MM | PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

O cerco ao vírus da China e à princesa de Angola

Raquel Moleiro | Expresso

O surto perfeito começou a formar-se na primeira semana de dezembro, em Wuhan, na China. Um homem de meia-idade apareceu num hospital local com um vírus misterioso, que provocava febres altas, dificuldades respiratórias e lesões pulmonares. Até ao dia de ano novo, surgiram na mesma zona 59 casos semelhantes. Só então as autoridades alertaram a Organização Mundial de Saúde (OMS). Tinham passado 23 dias. 23 dias de contágios. Mês e meio desde o primeiro caso, estão confirmadas 17 vítimas mortais e 448 infetados, 441 em território chinês e os restantes na Tailândia, Macau, Hong Kong, Japão, Coreia do Sul e EUA.

Hoje de manhã a Organização Mundial de Saúde decide se declara emergência de saúde pública internacional, como fez nos surtos de Zika, H1N1 ou Ébola. E é fácil perceber porquê. O agente foi identificado como um novo coronavírus, em 89% semelhante ao SARS, que matou 916 pessoas em 2002 e 2003, a maioria também na China.

O “ponto zero” do contágio foi identificado num mercado em Wuhan. A primeira vítima, de 61 anos, era cliente. Mas mais do que a origem exata, é a altura do ano e o cidade que podem alimentar exponencialmente o surto.

No próximo domingo, começa na China o Festival da Primavera. Centenas de milhões de pessoas viajam para celebrar o ano novo lunar. O potencial de proliferação do vírus, que está em mutação e se transmite de pessoa para pessoa, é catastrófico.

Para piorar o cenário, a cidade de Wuhan, com os seus 11 milhões de habitantes, é uma espécie de hub de mobilidade, com ligações aos quatro pontos cardeais da China e 60 destinos internacionais através de comboios de alta velocidade e avião. Porém, à hora a que lê este Curto, já estão todos praticamente parados. Num decisão drástica para cercar e conter o vírus na origem, as autoridades locais decretaram a proibição de saída da cidade a partir das 10h de hoje (2h em Portugal Continental) e sem fim à vista.

As redes de autocarro, metro e barcos de longa distância deixaram de funcionar, e o aeroporto e as estações de comboio só acolhem viagens de chegada. Segundo o South China Morning Post, multidões tentaram sair do epicentro do vírus antes do bloqueio.

Em Portugal, mesmo antes da decisão da OMS, a Direção-Geral da Saúde ativou os dispositivos de saúde pública de prevenção. Estão em alerta o Hospital de São João, no Porto, o Curry Cabral e Estefânia. O Governo emitiu também recomendações para quem viajar para a China.

Não foi o único país a tomar medidas. Aliás, a maioria está a fazê-lo. Num surto o trabalho tem de ser conjunto, articulado, internacional, para que todos os flancos sejam cobertos, e não possa o agente nocivo passar por onde lhe é franqueada a porta. É um bocadinho como na Justiça, quando as investigações parecem ter tantas ramificações quanto os canais de transmissão de um vírus.

Desde que a investigação Luanda Leaks começou a ser revelada, o cerco à volta do universo Isabel dos Santos começou a apertar, e de vários lados. Ontem, a Procuradoria-Geral da República de Angola constituiu a empresária arguida por alegada má gestão e desvio de fundos, durante a passagem pela Sonangol, juntamente com mais quatro portugueses. Um deles, Nuno Ribeiro da Cunha, gestor do EuroBic, foi encontrado com ferimentos graves nos pulsos e no abdómen, numa casa em Vila Nova de Milfontes, no início do mês e a PJ está a investigar.

Hoje mesmo, Hélder Pitta Grós, o general que está à frente da PGR de Angola, chega a Portugal para se encontrar com a congénere portuguesa. O encontro vai decorrer em Lisboa, pelas 15h. Em entrevista ao Expresso e à SIC, o PGR angolano revelou que "se necessário" iria pedir a colaboração das autoridades portuguesas na investigação do império financeiro e admitiu emitir um mandado de captura a Isabel dos Santos.

OUTRAS NOTÍCIAS

Agressão na Amadora. Multiplicam-se explicações e relatos, queixas e inquéritos, mas cada nova peça que surge sobre o episódio de violência que envolveu um agente da PSP e uma mulher de 42 anos parece saída de um puzzle diferente. Nada encaixa. Cláudia Simões diz que foi sufocada e mordeu em reação. O agente Carlos Calha diz que foi agredido e imobilizou Cláudia. A mulher mostra o rosto inchado de hematomas, a PSP diz que “foi usada a força necessária”. Cláudia diz que foi novamente agredida no carro de patrulha, os bombeiros dizem ter sido acionados para um ferido por queda. Por determinação do MAI, a Inspeção Geral vai investigar.

Tribunais. Dados do Ministério da Justiça revelam que, nos primeiros nove meses em que os tribunais de proximidade (reabertos em 2017) fizeram julgamentos cíveis, houve locais sem uma única audiência - noticia o Público

Noivos de Santo António. O Bloco de Esquerda quer que os casamentos de Santo António sejam alargados a casais do mesmo sexo. A proposta será apresentada hoje em reunião do executivo da Câmara de Lisboa. O regulamento atual omite essa possibilidade.

Luto. Corpo do motociclista Paulo Gonçalves, que morreu no Dakar, chega hoje a Portugal. O cortejo fúnebre sai do aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, até Esposende. A homenagem inclui uma concentração de motos na marginal e um minuto de silêncio na Praça do Município.

Holocausto. Só os funerais do primeiro-ministro Yitzhak Rabin e do antigo presidente Shimon Peres atraíram tantos chefes de Estado e dirigentes mundiais a Israel. São mais de 40 os que hoje se encontram em Jerusalém para participar no 5º Fórum Mundial do Holocausto, que assinala os 75 anos da libertação de Auschwitz. Marcelo Rebelo de Sousa também lá está. À margem do encontro, deveria lançar a primeira pedra da futura Praça Aristides Sousa Mendes, mas o atraso das obras impossibilitou a cerimónia.

Para avivar memórias são imperdíveis as reportagens da Associated Press e do Guardian que marcam o aniversário da abertura dos portões do inferno. Lá dentro morreu mais de um milhão de pessoas. No Expresso, lembra-se a vida em Lisboa dos refugiados judeus, que para aqui fugiram para escapar à morte certa.

Madonna. O último concerto no Coliseu dos Recreios está marcado para hoje. Falta só saber se se vai realizar. O estado da lesão que levou a artista a cancelar o espetáculo de ontem e do passado domingo é que ditará a sorte de quem tem bilhete para a derradeira data de Madame X. Após o primeiro cancelamento, a rainha da pop pediu aos fãs para fazerem figas pela sua recuperação, e voltou ao palco. Recomenda-se repetir o truque - mal não faz. Para espreitar o que foram os concertos anteriores, a Blitz mostra aqui. O Miguel Cadete explica em 2:59 como Madonna está a rebentar com a indústria dos concertos.

Cinema. Estreia hoje "1917", do realizador Sam Mendes, um dos favoritos na corrida aos Oscares (dez nomeações) que serão entregues a 9 de fevereiro. Já ganhou os Globos de Ouro de Melhor Realizador e Melhor Filme e foi o grande vencedor dos “Producers Guild Awards”. Falta saber o que lhe reserva os britânicos BAFTA (2 fevereiro), para os quais tem nove nomeações.

O filme conta a história de dois soldados com a missão de salvar a vida de 1600 homens a meio da I Guerra Mundial. Sam Mendes, que é também o argumentista, inspirou-se nas histórias do seu avô madeirense que serviu no exército britânico como mensageiro. Clara Ferreira Alves dedica-lhe a sua última Pluma Caprichosa: “Raramente vemos a guerra desta maneira, não por realismo em excesso, mas por excesso de realidade, e a realidade, já dizia T. S. Eliot, é insuportável”

FRASES

“Ninguém escolhe a família em que nasce”, Coréon Dú, irmão de Isabel dos Santos, a propósito das revelações do Luanda Leaks.

“Simplesmente, não vá a Wuhan. E os que estão na cidade, por favor, não saiam”, Li Bin, vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China.

"Acho que não há personalidade em melhores condições do que Ana Gomes para ser candidata à Presidência da República", Francisco Assis, ex-eurodeputado à Renascença.

O QUE ANDO A LER

Estava numa das prateleiras mais altas da estante. Já não lhe pegava há décadas, mas as saudades fizeram com que me empoleirasse na bicicleta que atafulha o escritório e esticasse o braço quase até ao desmembramento para o tirar. Chama-se "Maria Mim", foi escrito por Nuno de Montemor em 1939, e conta a história da minha avó Augusta.

Não é bem a história dela, mas é como se fosse. É de uma rapariga de Quadrazais, aldeia raiana da Guarda, contrabandista como ela foi, a traficar perfumes e tecidos ricos de Espanha para Portugal, quilómetros andados do lado de cá a fugir à guarda fiscal e do lado de lá aos "carabineiros". Não há ninguém no povoado que não tenha este livro – mesmo que não saiba ler -, reeditado em 2003 pela Câmara Municipal do Sabugal.

A cada página que leio, das mais de trezentas que tem, quase que a oiço a contar-me as mesmas aventuras da Maria Mim - se fechar os olhos ainda te oiço, avó -, a dezena de combinações de seda que vestia debaixo de roupa andrajosa para ocultar as "encomendas" contrabandeadas para os Armazéns do Chiado; as pernas feridas pelo gelo que se formava nas bainhas das saias compridas, molhadas a saltar regatos entre fronteiras; as duas pesetas de azeitonas e alhos-crus-de-volta-com-pão que comia durante as caminhadas de horas; e a gíria do contrabando que lhe codificava as conversas e que eu sei até hoje (o livro tem no fim um pequeno dicionário de sinónimos).

Não confiava estas histórias só aos netos. Contava-as ao mundo. Lembro-me de estarmos no rio (Côa), ela a lavar a roupa (e depois o cabelo enorme que só aí soltava) e chegarem os senhores do Rádio Clube para a gravar. E ela sempre pronta. Nunca teve vergonha - “Trabalhar para sobreviver não é vergonha nenhuma. É orgulho” - nem do contrabando, nem de esconder espanhóis nos anos da Guerra Civil, nem dos tempos em que viveu nas bidonville dos arredores de Paris quando foi a salto para França em fuga à miséria da ditadura.

Quando os anos começaram a pesar inscreveu-se no lar da terra sem dizer nada a ninguém. Quando as pernas lhe falharam pediu um andarilho a que chamava Ferrari. Quando os olhos minguaram e desfocaram as novelas da TVI (adorava as más da fita) começou a esmorecer. A dependência não era para ela. Sentia-se presa num corpo que não lhe respondia mas fiel à sua Fé, que ia determinar a hora certa de partir.

Nunca deixou de contar histórias (as suas). Nem de cantar. Das últimas vezes que estivemos juntas pus o telemóvel a gravar. Enquanto a conseguir ouvir de memória não carrego no play. Faz hoje um mês que lhe disse adeus. Tinha 101 anos.

Escreve a Joana Pereira Bastos, num artigo sobre a Era da Longevidade publicado na primeira revista de aniversário do Expresso (11 janeiro), que ultrapassar a barreira do centenário vai tornar-se vulgar. Estima-se que metade das crianças nascidas agora irá ultrapassar os 100 anos.

Com 47 acabados de fazer, o Expresso por cá continua a dar informação de qualidade, a investigar a fundo e a contar histórias de vidas que merecem ser contadas, como a do avô Alfred do Sam Mendes ou da minha avó Augusta.

Enquanto preparamos a edição impressa do próximo sábado, acompanhe toda a atualidade em www.expresso.pt e também na TribunaBlitz e Vida Extra. Tenha uma ótima quinta-feira.

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