Manuel Carvalho Da Silva
| Jornal de Notícias | opinião
A existência de défices na
qualidade da gestão privada e pública em Portugal é uma realidade há muito
reconhecida. Os portugueses têm muito a ganhar se este tema for debatido com
persistência a partir de conteúdos objetivos, identificado: i) o entendimento
que temos quanto ao que qualificamos de boa gestão, que não é, por certo, a que
foi praticada pela elite de gestores que exauriram a banca, depauperaram
grandes empresas como a PT ou os CTT e montaram as PPP para sacar milhões ao
Estado; ii) as causas políticas, éticas e outras que estão na origem de falta
de rigor no exercício da gestão; iii) o significado do conceito empresa, o seu
papel e responsabilidades na sociedade; iv) as missões atribuídas ao Estado e à
Administração Pública perante os cidadãos, as empresas e as organizações; v) as
conexões entre a qualidade da gestão, a matriz de desenvolvimento, os
condicionalismos e exigências que decorrem do lugar ocupado pelo país no
contexto internacional.
Neste debate é preciso fugir de
apreciações generalistas porque, por um lado, são injustas para grande parte
dos gestores privados e públicos e, por outro, a generalização propicia
comentários oportunistas como muitos dos que, na última semana, se produziram a
propósito de afirmações do ministro Santos Silva no 8.º Fórum Anual de
Graduados Portugueses no Estrangeiro.
Foi elucidativo vermos a CIP
reagir como virgem ofendida, em vez de clarificar águas, de identificar e
assumir (para combater) a parte de responsabilidades que cabe a patrões
retrógrados e a gestores oportunistas, de dar força a setores empresariais e a
pequenos empresários que apostam na modernização, na qualificação e valorização
dos seus trabalhadores. A CIP sabe bem que os patrões com êxito construído a
partir da prática de baixos salários e de apostas numa economia assente em
setores de baixo valor acrescentado (duas características do nosso tecido
industrial e económico em geral), estão de tal forma viciados nessa velha
receita que, como disse Santos Silva, não serão capazes de, "por si
só", perceberem "a vantagem em trazer inovação para o seu seio e a
vantagem em contratar pós-graduados e doutorados".
Os travões à inovação e à criação
de emprego altamente qualificado têm várias e complexas origens e, ao contrário
do que muitas vezes é dito, o problema primeiro não são as reais fragilidades
das pequenas e microempresas, nomeadamente no que diz respeito à deficiente
formação dos seus responsáveis. Quando na onda da desindustrialização,
alimentada por atentismos e dinheiro "fácil" vindos da União
Europeia, ou no processo de privatizações se destruíram empresas de grande
qualidade na metalomecânica pesada e semipesada, no setor energético e noutros
baixou-se a qualidade do emprego. Quando empresas das comunicações e
telecomunicações foram pasto de gestões ruinosas ao serviço de negócios
escuros, atrofiaram-se capacidades de inovar e criar muito emprego altamente qualificado.
Por outro lado, o emagrecimento
dos serviços públicos e a fragilização de instituições do Estado impedem a
contratação de trabalhadores altamente qualificados, ao mesmo tempo que
contribuem para uma opinião pública menos preparada e condescendente face à má
gestão.
Precisamos mesmo de muito melhor
gestão nos setores privado e público.
*Investigador e professor
universitário
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