David Chan | Plataforma | opinião
Após o aparecimento do novo
coronavírus em Wuhan, e da confirmação de alguns casos de infetados em Macau e
Hong Kong, a China, além de medidas de controlo e prevenção, iniciou a
construção de dois hospitais temporários a uma "velocidade chinesa" em
menos de meio mês. Estes servirão de local de tratamento e isolamento para
pacientes infetados e para casos suspeitos. Os Governos de Hong Kong e de Macau
também implementaram algumas medidas de controlo e prevenção, com pessoas de
todas as áreas a trabalhar em conjunto na luta contra o vírus.
No entanto, neste momento
crucial, milhares de trabalhadores da área da saúde, membros da Autoridade
Hospitalar de Hong Kong, iniciaram uma greve (no dia 3 de fevereiro), fugindo à
luta contra o vírus. "Estou determinado em lutar pela erradicação de todas
as doenças humanas, contribuir para a busca pela saúde perfeita, manter a honra
da ciência médica, ajudar os feridos e doentes, não olhando a qualquer
obstáculo, procurando o desenvolvimento da medicina e da saúde mental e física
da humanidade". Este é o juramento que todos os alunos de medicina em Hong
Kong fazem após terminarem a formação. Questiono- -me por isso quantos dos
funcionários que participaram na greve se lembram desta promessa. A greve,
iniciada pela Autoridade Hospitalar de Hong Kong, durou cinco dias e contou com
a participação de 6700 funcionários, sendo 80 por censo enfermeiros e sete por
cento médicos. Antes do início da greve, alguns trabalhadores demitiram-se
quando receberam ordens para tratar dos casos confirmados ou suspeitos do
coronavírus, outros tiraram "férias coletivas". Pelo menos quatro
enfermeiros e um médico demitiram-se após o processo de lotaria da unidade de
cuidados intensivos do Hospital Queen Elizabeth, e cerca de 90 enfermeiros dos
hospitais Pamela Youde Nethersole, Lotung Pohai e Princess Margaret pediram
baixa. Na sala de operações do hospital Pamela Youde Nethersole, de entre as 45
pessoas que deveriam ter estado a trabalhar no dia 1, 26 estiveram de baixa. Um
dos representantes da greve, vestido de preto, afirma que os profissionais
foram obrigados a tomar esta decisão, apoiada por uma multidão com caras cheias
de lágrimas a gritar: "Greve salva Hong Kong". Mas como poderá esta
greve salvar a cidade? Os que devem estar a chorar com esta situação são os
pacientes de Hong Kong. A greve foi convocada pela Autoridade Hospitalar de
Hong Kong, uma organização semelhante a um sindicato que foi criada no dia de
Ano Novo. A primeira frase na apresentação é: "A Autoridade Hospitalar de
Hong Kong está empenhada em enfrentar problemas políticos, problemas internos e
problemas do sistema de saúde". Parece ser uma organização com fins
políticos, e que organizou a greve para atacar o Governo. Todas as exigências
têm apenas um foco: banir a entrada de nacionais do Continente em Hong Kong.
Esta é uma decisão que apenas
cabe ao Governo, mas numa altura extremamente importante deste surto, é
lamentável que estes "anjos vestidos de branco" usem as vidas dos
pacientes como moeda de troca no seu jogo político. Esta greve afetou os
hospitais públicos da cidade, mas terá valido a pena tendo em conta todos os
recursos que o país está a investir na luta contra a epidemia em Wuhan? Terá
valido a pena sacrificar os colegas que ficaram a tratar dos pacientes em vez
de participarem na greve? Terá valido a pena pôr em risco a vida destes mesmos
pacientes? Não é de espantar que o pedido de fundos tenha sido recebido com
frieza.
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