Martinho Júnior, Luanda
SÃO ESTAS AS MULHERES DA "SALA
DE VISITAS" DO PARAÍSO!
Memórias fotográficas de três
delas, meio tímidas, mas consistentes e resistentes como poucas, num
obrigatório roteiro da “sala de visitas”:
A Sereia, a Máquina 001 e a Ana!
Todas elas têm que ver com a água
e nisso respeitam a dádiva do nosso próprio corpo!
Têm que ver também com os mangais
da origem, coroados de flamingos e envoltos no cheiro duma maresia povoada de
caranguejos e outros seres discretos, escondidos no mais escuro do lodo!
Espreitem discretamente, "entre
portas e travessas": a Sereia veio dos banhos, a Máquina 001 recorda os
tempos dos primeiros banhos e a Ana continua a banhos!
Que convite, hein?!...
… Durante a minha estadia choveu
todos os dias, o que está a acontecer por todo o país, pondo fim à seca que
tanto preocupou todos e ciclicamente nos preocupará!
Os rios estão exuberantes e em
Calueque, no arco sul do Cunene, tiveram-se que abrir todas as comportas (são
18), pois era necessário descomprimir o Gove e a Matala…
Meu irmão José Silva mostrou-me
imagens dum agora poderoso Ruacaná, imagens acabadinhas de chegar!...
Que frescura é a água, mesmo que
ela seja tanta, que poderoso é o seu salto no derradeiro declive que marca a
fronteira entre o planalto e a última planície a vencer!
… Do Cuvelai, meu filho Abílio
diz-me que a bênção chegou e açudes, barragens e furos, tudo está pujante de
vida!
A energia das barragens está
disponível em cada vez mais lugares de Angola e nas cidades de Benguela,
Catumbela e Lobito, os tempos da escuridão começa a fazer parte do passado,
mesmo nos mais pobres bairros das cidades!
O banho tem sido de Cabinda ao
Cunene e do mar ao leste!...
No Lobito nota-se que a classe
média cresceu e construiu, que há bairros novos por inaugurar, mas também que a
mancha de pobreza é avassaladora, olhando-nos desafiadora e firmemente dos
morros por sobre toda a planície do litoral…
A marca do subdesenvolvimento
ensombra a “sala de visitas de Angola” e a todos nós, tão impotentes nos
sentimos para finalmente a vencer, por muito dura e prolongada que seja a nossa
luta (já lá vão 45 anos e “não foi isto que combinámos”)!
A viagem por terra foi um delírio
de verdes numa estrada razoável que contrastou com o péssimo piso nas cidades
do Sumbe e do Lobito (dizem os citadinos que “é uma vergonha”)!
Com a assinatura de um engenheiro
do CFB, Canhão Bernardes, foram mãos e forjas operárias que pariram as três
mulheres do pequeno paraíso tornado “Restinga”, que é a "sala de visitas"
de Angola!...
A 001, essa foi trazida por
Robert Williams e hoje tem direito e um nobre pedestal!
Agora com as obras de recuperação
do Caminho de Ferro de Benguela, a estação original foi fechada e construiu-se
um esplêndido terminal no “compound” que deu o nome ao Compão, libertando de
vez a Restinga dos sôfregos vapores do passado!
À bela pátria angolana, ao seu
regaço acolhedor, havemos mesmo assim e sempre de voltar… até na morte assim
será!
Martinho Júnior -- Luanda, 21 de
Fevereiro de 2020
Imagem de três das beldades do
Lobito
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