sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

IMPOSSÍVEL IMAGINAR UM PARAÍSO SEM AS MULHERES!... -- Martinho Júnior


Martinho Júnior, Luanda 

SÃO ESTAS AS MULHERES DA "SALA DE VISITAS" DO PARAÍSO!

Memórias fotográficas de três delas, meio tímidas, mas consistentes e resistentes como poucas, num obrigatório roteiro da “sala de visitas”:

A Sereia, a Máquina 001 e a Ana!

Todas elas têm que ver com a água e nisso respeitam a dádiva do nosso próprio corpo!

Têm que ver também com os mangais da origem, coroados de flamingos e envoltos no cheiro duma maresia povoada de caranguejos e outros seres discretos, escondidos no mais escuro do lodo!

Espreitem discretamente, "entre portas e travessas": a Sereia veio dos banhos, a Máquina 001 recorda os tempos dos primeiros banhos e a Ana continua a banhos!

Que convite, hein?!...

… Durante a minha estadia choveu todos os dias, o que está a acontecer por todo o país, pondo fim à seca que tanto preocupou todos e ciclicamente nos preocupará!

Os rios estão exuberantes e em Calueque, no arco sul do Cunene, tiveram-se que abrir todas as comportas (são 18), pois era necessário descomprimir o Gove e a Matala…




Meu irmão José Silva mostrou-me imagens dum agora poderoso Ruacaná, imagens acabadinhas de chegar!...

Que frescura é a água, mesmo que ela seja tanta, que poderoso é o seu salto no derradeiro declive que marca a fronteira entre o planalto e a última planície a vencer!

… Do Cuvelai, meu filho Abílio diz-me que a bênção chegou e açudes, barragens e furos, tudo está pujante de vida!

A energia das barragens está disponível em cada vez mais lugares de Angola e nas cidades de Benguela, Catumbela e Lobito, os tempos da escuridão começa a fazer parte do passado, mesmo nos mais pobres bairros das cidades!

O banho tem sido de Cabinda ao Cunene e do mar ao leste!...

No Lobito nota-se que a classe média cresceu e construiu, que há bairros novos por inaugurar, mas também que a mancha de pobreza é avassaladora, olhando-nos desafiadora e firmemente dos morros por sobre toda a planície do litoral…

A marca do subdesenvolvimento ensombra a “sala de visitas de Angola” e a todos nós, tão impotentes nos sentimos para finalmente a vencer, por muito dura e prolongada que seja a nossa luta (já lá vão 45 anos e “não foi isto que combinámos”)!

A viagem por terra foi um delírio de verdes numa estrada razoável que contrastou com o péssimo piso nas cidades do Sumbe e do Lobito (dizem os citadinos que “é uma vergonha”)!


Com a assinatura de um engenheiro do CFB, Canhão Bernardes, foram mãos e forjas operárias que pariram as três mulheres do pequeno paraíso tornado “Restinga”, que é a "sala de visitas" de Angola!...

A 001, essa foi trazida por Robert Williams e hoje tem direito e um nobre pedestal!

Agora com as obras de recuperação do Caminho de Ferro de Benguela, a estação original foi fechada e construiu-se um esplêndido terminal no “compound” que deu o nome ao Compão, libertando de vez a Restinga dos sôfregos vapores do passado!

À bela pátria angolana, ao seu regaço acolhedor, havemos mesmo assim e sempre de voltar… até na morte assim será!

Martinho Júnior -- Luanda, 21 de Fevereiro de 2020

Imagem de três das beldades do Lobito

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