A polícia angolana diz que apenas
cumpriu o seu dever de manter a ordem na manifestação de 19 de fevereiro. Mas
as organizações juvenis que convocaram o protesto vão apresentar provas da
brutalidade da polícia, afirmam.
Em conferência de imprensa na
quinta-feira (27/02), as organizações juvenis Movimento dos Estudantes
Angolanos (MEA), Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA) e Juventude do
Partido de Renovação Social (JURS) condenaram a atuação da polícia na marcha de
protesto da semana passada contra a tomada
de posse do novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE),
Manuel Pereira da Silva "Manico”. Os jovens ameaçam com mais protestos e
ponderam avançar com um processo crime contra a polícia.
"A Polícia Nacional agiu com
brutalidade e usou meios de repressão desajustados ao carácter da manifestação
tendo mesmo causado graves feridos a muitos jovens”, disse Agostinho Kamuango
secretário-geral da JURA, o braço juvenil do maior partido da oposição, a UNITA.
Alertar a comunidade
internacional
Francisco Teixeira responsável do
MEA, lembrou que os jovens manifestantes não foram os únicos alvos da
brutalidade policial. Também jornalistas presentes para cobrir a marcha
sofreram maus tratos por parte das forças de ordem. "Quando a polícia agride,
à luz do dia, um jornalista com microfone na mão a entrevistar um cidadão, como
se fosse um delinquente, sem nenhuma vergonha e sem nenhum remorso, por saber
que nada lhe vai acontecer, isso é muito mais perigoso do que quando és
agredido a noite”, disse Teixeira,
Os jornalistas em causa já
intentaram uma ação judicial contra os agentes da polícia angolana. À pergunta
da DW África sobre os passos que se seguirão, Agostinho Kamuango explicou que a
documentação recolhida será distribuída ao corpo diplomático acreditado em
Angola e às organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos
humanos.
O jovem ativista não
descarta uma ação judicial contra a polícia. "Também não temos uma
data definida para a próxima marcha, mas, como sempre, vamos usar todos os
mecanismos”.
Manifestação não estava
autorizada
O porta-voz da polícia angolana,
Hermenegildo de Brito, mantém que as forças de ordem apenas intervieram
"para manter a ordem e a tranquilidade públicas. Para que, na verdade, a
manifestação não atrapalhasse o funcionamento normal naquela localidade”.
Hermenegildo de Brito salienta
ainda que os organizadores não comunicaram a manifestação às autoridades.
"Nós também nos apercebemos
que a manifestação não estava autorizada, nem pelo Governo da província de
Luanda, nem pelo Comando Provincial da Polícia de Luanda”, disse.
As acusações e contra-acusações
entre as organizações juvenis e a corporação ocorrem numa altura em que a
polícia se prepara para comemorar o seu 44º aniversário nesta sexta-feira.
Gaspar dos Santos, secretário permanente da JURS, aproveitou a ocasião para
deixar um apelo: "A polícia deve ser para servir o povo e não para deixar
o povo com mais medo do que o bandido”.
Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche
Welle
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