sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Angola | Manifestantes acusam polícia de brutalidade em protesto contra presidente da CNE


A polícia angolana diz que apenas cumpriu o seu dever de manter a ordem na manifestação de 19 de fevereiro. Mas as organizações juvenis que convocaram o protesto vão apresentar provas da brutalidade da polícia, afirmam.

Em conferência de imprensa na quinta-feira (27/02), as organizações juvenis Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA) e Juventude do Partido de Renovação Social (JURS) condenaram a atuação da polícia na marcha de protesto da semana passada contra a tomada de posse do novo presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Manuel Pereira da Silva "Manico”. Os jovens ameaçam com mais protestos e ponderam avançar com um processo crime contra a polícia.

"A Polícia Nacional agiu com brutalidade e usou meios de repressão desajustados ao carácter da manifestação tendo mesmo causado graves feridos a muitos jovens”, disse Agostinho Kamuango secretário-geral da JURA, o braço juvenil do maior partido da oposição, a UNITA.

Alertar a comunidade internacional

Francisco Teixeira responsável do MEA, lembrou que os jovens manifestantes não foram os únicos alvos da brutalidade policial. Também jornalistas presentes para cobrir a marcha sofreram maus tratos por parte das forças de ordem. "Quando a polícia agride, à luz do dia, um jornalista com microfone na mão a entrevistar um cidadão, como se fosse um delinquente, sem nenhuma vergonha e sem nenhum remorso, por saber que nada lhe vai acontecer, isso é muito mais perigoso do que quando és agredido a noite”, disse Teixeira,
Os jornalistas em causa já intentaram uma ação judicial contra os agentes da polícia angolana. À pergunta da DW África sobre os passos que se seguirão, Agostinho Kamuango explicou que a documentação recolhida será distribuída ao corpo diplomático acreditado em Angola e às organizações nacionais e internacionais de defesa dos direitos humanos.

O jovem ativista não descarta uma ação judicial contra a polícia. "Também não temos uma data definida para a próxima marcha, mas, como sempre, vamos usar todos os mecanismos”.

Manifestação não estava autorizada

O porta-voz da polícia angolana, Hermenegildo de Brito, mantém que as forças de ordem apenas intervieram "para manter a ordem e a tranquilidade públicas. Para que, na verdade, a manifestação não atrapalhasse o funcionamento normal naquela localidade”.

Hermenegildo de Brito salienta ainda que os organizadores não comunicaram a manifestação às autoridades.

"Nós também nos apercebemos que a manifestação não estava autorizada, nem pelo Governo da província de Luanda, nem pelo Comando Provincial da Polícia de Luanda”, disse. 

As acusações e contra-acusações entre as organizações juvenis e a corporação ocorrem numa altura em que a polícia se prepara para comemorar o seu 44º aniversário nesta sexta-feira. Gaspar dos Santos, secretário permanente da JURS, aproveitou a ocasião para deixar um apelo: "A polícia deve ser para servir o povo e não para deixar o povo com mais medo do que o bandido”.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

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