domingo, 16 de fevereiro de 2020

Portugal | Quanto vale a CGTP?


Domingos De Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

É inatacável a importância da CGTP no país e no contributo para a maturidade da democracia. Ao longo dos últimos 50 anos, que agora comemora, a central sindical foi fundamental na regulação das relações laborais, mantendo mais equilibrado o sempre difícil braço de ferro entre empresas e trabalhadores e, por consequência, atenuando as desigualdades sociais.

Percebe-se, por isso, a intenção do primeiro-ministro quando anunciou que tenciona sugerir a Marcelo Rebelo de Sousa a condecoração do secretário-geral cessante, Arménio Carlos, pelo que fez para a "consolidação do diálogo tripartido em Portugal e por todo o trabalho desenvolvido em prol de um país mais justo".

Não vale a pena entrar aqui na discussão do beneficiário da condecoração e se ela deve, sim, ser dada à central. E muito menos sobre a aproximação entre a CGTP e o PS, ao mesmo tempo que a UGT, mais conotada com os socialistas, vai perdendo poder na sua área de influência. Relevante é perceber o que vai fazer com os seus 50 anos de história, ou se passa à história.

A carta reivindicativa aprovada no congresso deste fim de semana, que consagrou Isabel Camarinha como a nova secretária-geral, augura mais do mesmo, não querendo com isto, aqui, menorizar a relevância da luta pela redução do horário de trabalho para as 35 horas, o aumento do salário mínimo ou o combate à precariedade.

A questão, séria, e que parece não ser uma preocupação dos dirigentes, está nos desafios que as alterações radicais nas relações do trabalho hoje colocam ao movimento sindical, desde a digitalização da economia, à cada vez mais difícil contratação coletiva, quer pelos entraves dos empresários quer pelo crescente individualismo, acabando no poder em ascensão dos populismos.

Os movimentos sem rosto chamados inorgânicos que mobilizaram, em cada setor, professores, enfermeiros, polícias ou camionistas, que tomaram conta da agenda das estruturas sindicais, não são epifenómenos que desaparecem na espuma dos dias. Mas parece que as preocupações são diminutas.

O problema é que esse não é um problema só da CGTP. É do próprio Estado democrático.

*Diretor

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