Domingos De Andrade*
| Jornal de Notícias | opinião
É inatacável a importância da
CGTP no país e no contributo para a maturidade da democracia. Ao longo dos
últimos 50 anos, que agora comemora, a central sindical foi fundamental na
regulação das relações laborais, mantendo mais equilibrado o sempre difícil
braço de ferro entre empresas e trabalhadores e, por consequência, atenuando as
desigualdades sociais.
Percebe-se, por isso, a intenção
do primeiro-ministro quando anunciou que tenciona sugerir a Marcelo Rebelo de
Sousa a condecoração do secretário-geral cessante, Arménio Carlos, pelo que fez
para a "consolidação do diálogo tripartido em Portugal e por todo o
trabalho desenvolvido em prol de um país mais justo".
Não vale a pena entrar aqui na
discussão do beneficiário da condecoração e se ela deve, sim, ser dada à
central. E muito menos sobre a aproximação entre a CGTP e o PS, ao mesmo tempo
que a UGT, mais conotada com os socialistas, vai perdendo poder na sua área de
influência. Relevante é perceber o que vai fazer com os seus 50 anos de
história, ou se passa à história.
A carta reivindicativa aprovada
no congresso deste fim de semana, que consagrou Isabel Camarinha como a nova
secretária-geral, augura mais do mesmo, não querendo com isto, aqui, menorizar
a relevância da luta pela redução do horário de trabalho para as 35 horas, o
aumento do salário mínimo ou o combate à precariedade.
A questão, séria, e que parece
não ser uma preocupação dos dirigentes, está nos desafios que as alterações
radicais nas relações do trabalho hoje colocam ao movimento sindical, desde a
digitalização da economia, à cada vez mais difícil contratação coletiva, quer
pelos entraves dos empresários quer pelo crescente individualismo, acabando no
poder em ascensão dos populismos.
Os movimentos sem rosto chamados
inorgânicos que mobilizaram, em cada setor, professores, enfermeiros, polícias
ou camionistas, que tomaram conta da agenda das estruturas sindicais, não são
epifenómenos que desaparecem na espuma dos dias. Mas parece que as preocupações
são diminutas.
O problema é que esse não é um
problema só da CGTP. É do próprio Estado democrático.
*Diretor
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