domingo, 16 de fevereiro de 2020

Varoufakis entrega no parlamento grego gravações do Eurogrupo em 2015


Presidente do hemiciclo considerou a sua iniciativa “inadmissível” e acrescentou que “quem quiser divulgar publicamente o conteúdo das gravações que fez em segredo, que o faça sob sua inteira responsabilidade”

O ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, entregou esta sexta-feira ao presidente do parlamento Konstandinos Tasulas, as polémicas gravações que manteve com o Eurogrupo no crítico primeiro semestre de 2015. "As mentiras sobre o que ocorreu em 2015 são utilizadas atualmente contra os trabalhadores. Por isso, vamos retirar-lhes o direito de mentir sobre o que ocorreu no Eurogrupo", sublinhou Varoufakis, deputado e líder do MeRA25, na sua intervenção durante um debate parlamentar sobre política laboral.

Ao justificar a sua decisão, referiu que a gravação das sessões foi "completamente legítima" porque os representantes da 'troika' de credores internacionais -- União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional -- "queriam humilhar não apenas a esquerda, mas todo o povo grego".

Varoufakis entregou as gravações ao presidente do parlamento e pediu que as partilhasse com os restantes deputados. No entanto, Tasulas rejeitou as gravações e devolveu-as a Varoufakis. O presidente do hemiciclo considerou a sua iniciativa "inadmissível" e acrescentou que "quem quiser divulgar publicamente o conteúdo das gravações que fez em segredo, que o faça sob sua inteira responsabilidade".

Apesar de o combate pela transparência que promoveu nas altas esferas institucionais tenha sido decisiva para a sua afirmação como um "ícone" político, a revelação de que Varoufakis tinha gravado em segredo as reuniões do Eurogrupo em que participou provocou acesa polémica, na Grécia e a nível europeu.

As regras do Eurogrupo não impedem a gravação das reuniões, apesar de ser considerar adquirido que os participantes mantêm a sua confidencialidade. Num primeiro momento, Varoufakis negou ter gravado as sessões, mas depois reconheceu que registou o seu conteúdo numa entrada do seu blogue pessoal. Assegurou que tomou a decisão para informar "com frases exatas" o primeiro-ministro, a equipa governamental e o parlamento. "Gravo frequentemente as minhas intervenções e respostas no meu telefone móvel, especialmente quando improviso", assinalou.

A transcrição destas gravações serviu posteriormente de base para o livro de Varoufakis "Comportem-se como adultos" ("Adults In The Room: My Battle With Europe's Deep Establishment" na versão em inglês) e ao filme de Costa-Gravas "Adults in the Room". Em comunicado, o MeRA25 afirmou que a decisão do presidente do parlamento "confirma que o muro de opacidade do Eurogrupo foi e continua a ser conveniente para muitos, enquanto a verdade e a transparência lhes suscitam medo".

Expresso | Lusa

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