Presidente do hemiciclo considerou
a sua iniciativa “inadmissível” e acrescentou que “quem quiser divulgar
publicamente o conteúdo das gravações que fez em segredo, que o faça sob sua
inteira responsabilidade”
O ex-ministro das Finanças grego,
Yanis Varoufakis, entregou esta sexta-feira ao presidente do parlamento
Konstandinos Tasulas, as polémicas gravações que manteve com o Eurogrupo no
crítico primeiro semestre de 2015. "As mentiras sobre o que ocorreu em
2015 são utilizadas atualmente contra os trabalhadores. Por isso, vamos
retirar-lhes o direito de mentir sobre o que ocorreu no Eurogrupo",
sublinhou Varoufakis, deputado e líder do MeRA25, na sua intervenção durante um
debate parlamentar sobre política laboral.
Ao justificar a sua decisão,
referiu que a gravação das sessões foi "completamente legítima"
porque os representantes da 'troika' de credores internacionais -- União
Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional -- "queriam
humilhar não apenas a esquerda, mas todo o povo grego".
Varoufakis entregou as gravações
ao presidente do parlamento e pediu que as partilhasse com os restantes
deputados. No entanto, Tasulas rejeitou as gravações e devolveu-as a
Varoufakis. O presidente do hemiciclo considerou a sua iniciativa
"inadmissível" e acrescentou que "quem quiser divulgar
publicamente o conteúdo das gravações que fez em segredo, que o faça sob sua
inteira responsabilidade".
Apesar de o combate pela
transparência que promoveu nas altas esferas institucionais tenha sido decisiva
para a sua afirmação como um "ícone" político, a revelação de que
Varoufakis tinha gravado em segredo as reuniões do Eurogrupo em que participou
provocou acesa polémica, na Grécia e a nível europeu.
As regras do Eurogrupo não
impedem a gravação das reuniões, apesar de ser considerar adquirido que os
participantes mantêm a sua confidencialidade. Num primeiro momento, Varoufakis
negou ter gravado as sessões, mas depois reconheceu que registou o seu conteúdo
numa entrada do seu blogue pessoal. Assegurou que tomou a decisão para informar
"com frases exatas" o primeiro-ministro, a equipa governamental e o
parlamento. "Gravo frequentemente as minhas intervenções e respostas no
meu telefone móvel, especialmente quando improviso", assinalou.
A transcrição destas gravações
serviu posteriormente de base para o livro de Varoufakis "Comportem-se
como adultos" ("Adults In The Room: My Battle With Europe's Deep
Establishment" na versão em inglês) e ao filme de Costa-Gravas "Adults
in the Room". Em comunicado, o MeRA25 afirmou que a decisão do presidente
do parlamento "confirma que o muro de opacidade do Eurogrupo foi e
continua a ser conveniente para muitos, enquanto a verdade e a transparência
lhes suscitam medo".
Expresso | Lusa
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