Martinho Júnior, Luanda
POR UMA PLANIFICAÇÃO INTEGRADA
GEOESTRATÉGICA EM ANGOLA E NA SADC
Dez anos depois do calar das
armas em Angola, a pedra-angular da luta de libertação contra o fascismo, o
colonialismo e o “apartheid”, em plena azáfama de construção e reconstrução de estruturas
e infraestruturas, o país parece apresentar algumas dificuldades em acordar
para a realidade: vive demasiado dos sonhos dos que chegam atraídos pelos
imensos recursos e potencialidades, como o resultado de políticas neoliberais
de cariz neocolonial, que têm vindo a escancarar as portas sem a suficiente
filtragem inteligente que a garantia e o respeito pela história, pela
independência e pela soberania merecem e sem ter em conta o desperdício de
energia solidária que advém do movimento de libertação, agora quantas vezes, na
sua substância original, alvo de marginalização, ou deliberado esquecimento.
Urge, em função dos recursos
físico-geográficos estabelecer os parâmetros da economia, fora da lógica
capitalista e com esse fundamento, estabelecer a arquitectura e a engenharia
duma planificação integrada geoestratégica para o século XXI.
A planificação integrada geoestratégica leva em conta os relacionamentos geográficos, físico-ambientais e
humanos na sua essência, promovendo a inteligência, o estudo e a investigação
contínua, de forma a garantir a formulação de sustentabilidade e de viabilização
a muito longo prazo.
A planificação integrada geoestratégica para todo o espaço nacional angolano, a economia real, com base nos recursos geográficos, físico-ambientais e humanos, tendo em conta os condicionalismos específicos e os seus limites, torna-se imperiosa desde logo pelo indispensável inventário dos recursos, a verdadeira descoberta científica do país pela inteligência nacional, pelas suas universidades, mas também pelo seu significado em benefício do renascimento africano:
A planificação integrada geoestratégica para todo o espaço nacional angolano, a economia real, com base nos recursos geográficos, físico-ambientais e humanos, tendo em conta os condicionalismos específicos e os seus limites, torna-se imperiosa desde logo pelo indispensável inventário dos recursos, a verdadeira descoberta científica do país pela inteligência nacional, pelas suas universidades, mas também pelo seu significado em benefício do renascimento africano:
- A necessidade de com uma via
alternativa se pôr imediatamente de lado a insustentável via promovida pela
lógica capitalista e consumista que tende a hipotecar as riquezas nacionais,
obstruí o emprego de tecnologias limpas e distorce a possibilidade de planificação
geo estratégica;
- A necessidade de se gerar
sustentabilidade objectiva, desde a essência e fundamentos da planificação
integrada geoestratégica;
- A necessidade de garantir
sempre em benefício das novas gerações, o conhecimento adquirido e acumulado,
bem como uma gestão inteligente através dos tempos dos limitados recursos
existentes, transferindo para as possibilidades renováveis cada vez mais as
capacidades energéticas instaladas;
- A necessidade de se criar a
nível nacional uma cultura inteligente consolidada, capaz de promover em pé de
igualdade e solidariedade uma integração regional que proteja não só os
recursos limitados, mas capaz de conduzir todos os outros componentes do espaço
SADC aos critérios e motivações alternativos, de forma a que seja a própria
natureza a ser determinante nas acções conjuntas.
A lógica capitalista que antes
havia facilitado o fascismo, o colonialismo e o “apartheid”, agora dá
oportunidade a todo o tipo de estratégias elitistas em função duma “open
society” só aproveitada pelo elitismo, pelos ricos, pelos poderosos e pela
paciente acumulação de inteligência por eles conseguida desde os alvores da
Revolução Industrial, guardando a sete chaves os “seus” segredos.
Essa lógica hoje comporta não só
o lucro: nutre-se também da especulação, criminaliza-se por via dos tráficos,
das contínuas tensões, dos conflitos e das guerras, criminaliza-se pela sua
tendência de fuga aos impostos em desrespeito para com os estados e a
sociedade, subverte o nacionalismo e a identidade nacional, introduzindo cada
vez mais espaços para o carácter mercenário próprio dos “mercados”, aplicando
ao poder de cada um deles as políticas neoliberais de sua estrita
conveniência, de seu estrito interesse, propagandeando a cosmética, o embuste e
a mentira, esbatendo o real quantas vezes alcançado pela persistente cultura da
inteligência científica que “indexou” a si.
Na África Austral esse “terreno”
tem sido uma constante desde os alvores da Revolução Industrial na África do
Sul e se esteve na base da construção da União Sul Africana, esteve também na
base do “apartheid” e desde o génio de Cecil John Rhodes que arregimenta a
inteligência, para que as elites por si produzidas se mantenham dominantes por
séculos e séculos, procurando impedir a lógica alternativa que fundamente uma
economia de recursos inteligente, que permita uma planificação integrada geoestratégica, a lógica com sentido de vida!
Angola tem finalmente um
Ministério inteiramente dedicado ao ambiente, um organismo que pode garantir o
activismo dos conceitos alternativos em relação ao planeta e ao homem.
Por via desse Ministério está-se
a dar prioridade aos Parques Nacionais Transfronteiriços por que eles socorrem
as iniciativas de paz em vastas regiões que foram e eventualmente poderiam
propiciar novas bases de desestabilização:
- Em Cabinda ganha novo fôlego a
Iniciativa Maiombe, interconectada aos Parques Nacionais próximos na RDC e no
Congo, com perspectivas de vir a integrar outros no Gabão e nos Camarões;
- Integrados na região do
Okawango-Zambeze que aglutina a iniciativa comum de cinco países (Botswana,
Namíbia, Zimbabwe, Zâmbia e Angola), foram agora criados os Parques Nacionais
do Luengue-Mavinga e do Luiana.
Em qualquer dos casos há que
valorizar a natureza associada à paz, desde que os processos elitistas fiquem
circunscritos, o que é extremamente importante para a região crucial da África
Central.
Na iniciativa Maiombe é a Noruega
o principal doador, o que destaca esse país do complexo da NATO, na esteira
aliás de outra iniciativa de paz que está em curso no outro lado do Atlântico,
na Colômbia.
Necessário se torna que o
Ministério do Ambiente possa assumir o essencial da planificação integrada duma
geoestratégia promotor de desenvolvimento sustentável exemplar para África e o
mundo, pois condições naturais e humanas não lhe faltam quer no espaço
nacional, quer no espaço regional!
Os exemplos de Cuba, no que diz
respeito às questões ambientais e de inteligência sobre a natureza disponível
no espaço nacional e circundante, podem inspirar agora Angola a assumir
responsabilidades particularmente sobre a sua rede hidrográfica, por que água é
vida!
Resgatar a inteligência para as
causas da lógica com sentido de vida, é lutar contra a mercantilização do homem
e da natureza e por isso, a economia, nesses termos, é por si um garante
consolidado de sustentabilidade!
Imagens: A Terra vista pela
tripulação da Apolo 17: o planeta é a nossa “casa comum”; Mapa do espaço SADC em
África
Algumas consultas:
- SADC avalia integração
económica numa perspectiva de longo prazo – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/sadc_avalia_integracao_economica_numa_perspectiva_de_longo_prazo
- Sob a presidência angolana SADC
definirá um novo roteiro – http://www.opais.net/pt/opais/?id=1551&det=22786
- SADC lança estratégia Visão de
Longo Prazo – http://jornaldeangola.sapo.ao/20/0/sadc_lanca_estrategia_visao_de_longo_prazo
- Peace Parks in Southern Africa
– http://www.ecology.com/2012/02/10/peace-parks-southern-africa/
- Identificadas áreas no Cuando
Cubango para trabalhos de prospecção ambiental – http://jornaldeangola.sapo.ao/18/0/identificadas_areas_no_kuando-kubango_para_trabalhos_de_prospeccao_ambiental
- Novas áreas protegidas em
Angola – http://ecoharia.blogspot.com/2010/09/novas-areas-protegidas-em-angola.html
- Projecto transfronteiriço
Okavango-Zambeze veio dar outra dimensão às antigas reservas de caça de Luiana
e Luengue (Ambiente) – http://www.governo.gov.ao/VerNoticia.aspx?id=15830
- Proposta de Lei para criação de
parques nacionais aprovada na especialidade – http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/politica/2011/10/45/Proposta-Lei-para-criacao-parques-nacionais-aprovada-especialidade,dd72e8eb-b968-4f27-8898-79b6d1b9c987.html
- Declaração de Cabinda convida
órgãos internacionais a apoiar manutenção da vida dos ecossistemas – http://www.minamb.gov.ao/VerNoticia.aspx?id=8186
Leia em Página Global: A LÓGICA COM SENTIDO DA VIDA – I
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