quinta-feira, 12 de março de 2020

Coronavírus | "Em Portugal não cometam os mesmos erros que cometemos em Itália"


Registem-se as palavras de um diretor de escola: “À Lusa, Manuel Pereira recordou os apelos feitos por colegas italianos: "O que sistematicamente me dizem é que ´é preciso que em Portugal não cometam os mesmos erros que cometemos em Itália. É preciso não esperar que a situação fique incontrolável para tomar decisões mais fundamentalistas´. E o que está a acontecer é que aqui em Portugal corremos o risco de estar a tomar decisões caso a caso".

Trump decreta que a partir de amanhã, sexta-feira, serão suspensas todas viagens da Europa para os EUA durante 30 dias. A única excepção será o Reino Unido. Anglófonos unidos jamais serão vencidos. Aqui no Expresso Curto que trazemos mais em baixo tem os principais pormenores sobre a decisão do aloucado sujeito que é presidente dos EUA. Aloucado mas desta feita sem brincar em serviço, como o caso da UE e de António Costa e outras entidades responsáveis do pelouro da saúde pública. Esses até deixam ficar a sensação de que o que desejam do fundo do coração são mais portugueses contaminados. Não é por acaso que não querem fechar as escolas e estão a demorar um tempão para anunciarem a decisão de não as fecharem. Ou, talvez, num caso ou noutro.

Pelo menos nas escolas do ensino primário (básico) a medida já devia ter sido posta em prática. De certeza que essas crianças não vão para as praias – como aconteceu ontem na linha do Estoril com adolescentes da “linha” e não só. A irresponsabilidade e a ignorância está-lhes na alma e o atraso no crescimento é tão duradouro que talvez alguns e algumas não tenham atingido a idade adulta e responsável quando comemorarem os 50 anos. É a sociedade que viemos adotando… Felizmente que existem também os que crescem dentro dos parâmetros normais e foram banhados pela responsabilidade, em menos quantidade que aquela que é desejável. Mas existem.

Sobre o Covid-19 e a ação do governo e das entidades de saúde pública a opinião generalizada é a de que não se estão a comportar como elemento aglutinador e eficiente da proteção que devem prestar aos cidadãos O tal Covid-19 entrou e muito pouco foi feito para evitar os contágios. Ao principio centraram-se nos focos de contágio. Eram diminutos e assim foram controláveis. Atualmente parece que tudo vai rebentar pelas costuras e os contágios irão multiplicar-se por estupidez de alguns cidadãos e a ineficiência patenteada do governo e entidades responsáveis pela tão desejada saúde pública.

Depois de casa arrombada trancas à porta, diz o adágio. Parece que os poderes decisórios em Portugal querem mesmo pô-lo em prática tomando medidas avulso insuficientes em vez de ter fechado as portas ao vírus quando os primeiros casos surgiram.

Ainda há pouco na TSF, no Fórum, um piloto da TAP comentou a falta de controlo existente em Portugal. Disse ele que “a semana passada trouxe no avião 40 italianos vindos do norte de Itália – onde se regista o maior foco de Coronavírus da UE – sem o mínimo de controle… Isto diz tudo das medidas anotadas em blocos de gelo sobre os joelhos, que foram tomadas pelos responsáveis de saúde pública e do governo.

Bom dia, este é o Expresso Curto. Lavra de Ricardo Marques, jornalista. Teceu uma peça que deve ler para se atualizar ou relembrar o que esqueceu mas que já tinha ouvido num ou noutro noticiário viajado no éter.

Bom dia. Fique bem, se conseguir. Seja responsável. Lembre-se que o malfadado vírus não é bom para si nem para todos os outros que consigo privam ou se cruzam. Boa sorte.

Basta. O resto e de interesse está no Curto, a seguir.

MM | PG


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

A vida segue interrompida

Ricardo Marques | Expresso

Esta newsletter começa com uma notícia que vem da madrugada e cujas consequências são, a todos os níveis, verdadeiramente imprevisíveis: o presidente dos Estados Unidos da América anunciou que, a partir de amanhã, vão ser suspensas todas viagens da Europa para os EUA durante 30 dias. A única excepção será o Reino Unido.

A medida aplica-se a todos os estrangeiros que tenham estado nos países do acordo de Schengen nos últimos 14 dias. O presidente do Conselho Europeu afirmou que a situação vai ser avaliada e os mercados asiáticos reagiram com quedas significativas.

Em Portugal, a decisão sobre um possível encerramento das escolas a nível nacional devido à pandemia de Covid-19 será tomada esta manhã em Conselho de Ministros (está marcado para as nove e meia) e, como lembrou ontem a ministra da Saúde, Marta Temido, o Governo terá em conta as recomendações do Conselho Nacional de Saúde Pública (CNSP).

O CNSP, que voltará a reunir amanhã, considera, por agora, que o encerramento só deve ocorrer por determinação das autoridades de saúde. E Graça Freitas, a diretora geral de saúde, explicou que essa determinação depende da avaliação das condições a cada momento e em cada local por parte dos responsáveis de saúde.

O Público tem hoje em manchete que os diretores preferiam o encerramento total e imediato. Falam de uma “pandemia de medo” que está a tomar conta dos estabelecimentos de ensino.

O quadro geral dessas condições só será conhecido no momento em que a Direção Geral de Saúde divulgar o relatório de situação atualizado nas últimas 24 horas (ontem foi já depois das dez da manhã).

Uma coisa é certa: o número oficial de casos confirmados (59, com base no relatório de ontem), já foi ultrapassado. Isso mesmo admitiu Graça Freitas. “Vamos ter mais casos todos os dias. Uns dias mais, outros menos”, afirmou. É também expectável que haja uma subida do número de casos suspeitos (471), de casos a aguardar resultado laboratorial (83) e de pessoas em vigilância por parte das autoridades de saúde (3066) .

Horas antes, a Ministra da Saúde tinha admitido que pode estar para breve a fase de mitigação. Podem ser horas, podem ser dias, disse Marta Temido, numa formulação que na dúvida esconde uma certeza. Estamos perto da fase mais intensa de combate à doença - que corresponderá aos níveis de alerta e de resposta mais elevados. Isso significará que já se verifica a transmissão comunitária da infeção.

Neste momento, duas situações estão no topo da atualidade. Por um lado, a dos dois doentes internados há vários dias no Hospital de Santa Maria com diagnóstico de pneumonia - mas que estavam infectados com o vírus do Covid-19. O outro caso é o de uma jovem de Santa Maria da Feira, que pode vir a ser o primeiro caso de transmissão sem sintomas.

O Expresso tem uma reportagem sobre a vida em Felgueiras e Lousada, duas das zonas mais afetadas em Portugal.

As empresas de distribuição portuguesas asseguram que, apesar de um aumento da procura nos últimos dias e de algumas prateleiras vazias, a reposição de stocks nos supermercados está “sob controlo”. O problema não é exclusivo de Portugal, como me contava ontem ao telefone um amigo espanhol da zona de Cáceres.

E a sessão do debate instrutório da Operação Marquês marcada para hoje que foi anulada. O juiz Ivo Rosa acolheu as recomendações do Conselho Superior da Magistratura para a contenção do coronavírus.

Em Itália, o segundo país mais afetado no mundo a seguir à China, todas as lojas estão fechadas, exceto supermercados e farmácias. Esta e outras notícias estão em direto na página do Expresso dedicada ao coronavírus. Uma espécie de janela para tudo o que está a acontecer. E é tanto. A Cadenaser avança que a UEFA se prepara para adiar o Euro2020 para 2021. A Dinamarca encerra escolas. Os cruzeiros já não podem aportar no Funchal. Todos os jogos de basquetebol da NBA estão suspensos. Há países a fechar fronteiras…

Pouco a pouco, mas demasiado depressa, o mundo que conhecemos vai mudando.

Espreite este trabalho ‘microscópico’ do New York Times sobre a vida do vírus. E acompanhe as contas de um médico americano segundo o qual o Covid-19 é dez vezes mais letal do que a gripe
normal.

Angela Merkel admitiu que cerca de 70 por cento da população da Alemanha pode vir a ser infectada por Covid-19.

O ator americano Tom Hanks e a sua mulher, a também atriz Rita Wilson, ambos de 63 anos, contraíram o novo coronavírus na Austrália.

E Daniele Rugani, colega de equipa de Cristiano Ronaldo na Juventus, teve um resultado positivo ao Covid-19. O jogador português, que se encontra na Madeira, não vai voltar a Itália enquanto se mantiver a atual emergência de saúde no pais, segundo informou o clube italiano.

Deixo para o fim a notícia que podia ter sido a primeira. O Covid-19 é oficialmente uma pandemia. Saiba o que representa a decisão da Organização Mundial de Saúde.

Acima de tudo, o anúncio da OMS é um alerta global para gravidade de uma doença cuja transmissão podemos tentar combater com pequenos gestos, com uma ideia clara do que é o bem comum e com a perfeita noção de que existe um problema sério de saúde pública.

Há 124 519 casos confirmados de pessoas infectadas e 4607 mortes registadas em 118 países, territórios ou áreas com casos.

Nem pânico, nem descontração. Apenas consciência da gravidade da situação.

É por isso que talvez fosse boa ideia deixar de falar em antecipação das férias escolares. Ninguém vai antecipar nada. Não são férias. Se chegarmos a isso, será ficar em casa, em isolamento, para que aquilo que já é mau não fique ainda pior.

E ir à praia? A sério? Não o faça. Por razões óbvias, e também porque é perigoso, como alerta a Autoridade Marítima.

Não pense primeiro em si. Pense em todos. É a única forma de todos pensarem em si.

Como escrevia ontem um colunista da National Review, “This is a scary time. But we’ve lived through scary times before.”

(Há uma semana fiz uma aposta com a miúda mais velha. Esqueci, por momentos, que a melhor educação é através do exemplo e atirei: “Um euro em como a festa do basquetebol em Albufeira vai ser cancelada”. Ela nem hesitou. A ideia de passar cinco dias longe de casa a jogar basquete com as colegas de equipa, em plenas férias da Páscoa, foi mais forte do que as incontáveis horas a ouvir falar da ameaça do coronavirus e do que as intermináveis perguntas sobre a doença. Anteontem, com a derrota estampada no rosto, deixou a moeda em cima da mesa. Depois foi para o quarto tentar encestar uma bola minúscula numa micro-tabela.

Assim vai a vida aqui em casa. Interrompida, mas sempre à espera do ressalto.)

Outras notícias

Divida O Tesouro português foi ontem ao mercado obrigacionista realizar um leilão de dívida a 5 e 10 anos tendo colocado €1181 milhões. No prazo mais curto já teve de pagar uma taxa positiva de 0,059% e a 10 anos o juro foi de 0,426%.

Alcochete Bruno de Carvalho ilibado pelo Ministério Público. O MP diz que não se prova que o ex-presidente do Sporting seja o autor moral do ataque à Academia. Os 37 arguidos que entraram em Alcochete devem ser acusados de crime de introdução em lugar vedado ao público: 17 deles por ofensa de integridade física; 25 por crimes de ameaça agravada. Ficam de fora os crimes de sequestro e também de terrorismo.

Media Relato de um casamento que não chegou a acontecer. A história que conta como a Cofina desistiu da aquisição da Media Capital, por não conseguir obter os 85 milhões de euros dos atuais e novos donos. O ‘dote’, no entanto, não vai ser devolvido e a Cofina perde 10 milhões de euros.

Presidenciais nos EUA Joe Biden será o candidato democrata que vai enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais, e já não haverá muito a fazer em relação a isso. Mas Bernie Sanders não parece convencido e está para ficar. Pelo menos até domingo, ao debate entre ambos.

Tensão Como se tudo já não fosse suficientemente mau, um ataque com rockets a uma base militar a norte de Bagdad matou dois americanos e um britânico, alimentando de novo um fogo que vai ardendo desde que os EUA mataram o general iraniano Qasem Soleimani, em janeiro.

Aeroporto A Declaração de Impacte Ambiental do novo aeroporto no Montijo está suspensa na sequência de uma providência cautelar apresentada por um grupo de cidadãos, já aceite pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada.

Refugiados Um fotógrafo que conheço, e cujo trabalho vou seguindo através do Facebook, está há alguns dias nas zonas de fronteira entre a Turquia e a Grécia, onde milhares de refugiados, maioritariamente sírios, se transformaram em autênticos peões de uma guerra diplomática e estratégica entre Ancara, Atenas, Bruxelas e Moscovo. Um drama sem precedentes.

Hollywood Harvey Weinstein, o ex-produtor de Hollywood, foi condenado esta quarta-feira a 23 anos de prisão por abuso sexual e violação.

Liga dos Campeões O Liverpool, o campeão europeu e a equipa mais poderosa da Europa (ainda que a atravessar uma fase menos boa), caiu nos oitavos da final da prova. O proeza foi do Atlético de Madrid, de João Félix. Para os quartos de final segue também o PSG, que eliminou o Borussia Dortmund.

Frase (que todos devíamos decorar)
“Estamos numa situação em que há muitas coisas que não sabemos, e aquilo que não sabemos temos de levar a sério,” Angela Merkel, chanceler alemã.

O que ando a ler

O único assunto de que falamos por estes dias, por mais que o tentemos evitar, levou-me de volta a uma ideia que retive de num livro que li há pouco tempo e que tenho de recomendar. Confesso, desde já, que sou um enorme fã de Bill Bryson. Tenho ideia de que o meu primeiro livro ‘brysoniano’ foi comprado quase por acidente num aeroporto antes de um voo demasiado longo. Era a história de uma viagem pela Austrália.

Agora tenho aqui ao lado do computador “O Corpo - Um guia para principiantes”. Tal como todos os outros, é um compêndio de informação sobre o corpo humano, temperado com uma boa disposição que desarma qualquer leitor. Não é o caso do excerto que escolhi, por muito elucidativo que seja.

Trata-se, como o próprio Bryson explica, de uma conversa que teve com Michael Kinch, professor da faculdade de medicina na Universidade de Washington, em St. Louis.

“…perguntei-lhe qual achava ser a doença de maior risco para nós atualmente. ‘A gripe’, respondeu ele. ‘A gripe é muito mais perigosa do que as pessoas pensam. Para começar, já mata muita gente - cerca de 30000 a 40000 pessoas por ano, nos Estados Unidos - e isto num chamado ano bom. Mas também porque evolui muito rapidamente, e é isso que a torna particularmente perigosa’”.

No fim desse pequeno capítulo, depois de explicar rapidamente como operam os vírus e de passar a correr por um cenário dantesco, Bryson volta ao ataque. E é então que Kinch deixa aquela ideia que não me saiu da cabeça.

“A verdade é que não estamos mais bem preparados hoje para um surto grave do que estávamos quando a gripe espanhola matou dezenas de milhões de pessoas há 100 anos. Não é por termos estado especialmente vigilantes que não voltámos ainda a ter outra experiência como essa. É porque temos tido sorte.”

Tenha um bom dia e faça o que for possível para manter o azar à distância. Comece por lavar as mãos.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

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