Registem-se as palavras de um
diretor de escola: “À Lusa, Manuel Pereira recordou os apelos feitos por
colegas italianos: "O que sistematicamente me dizem é que ´é preciso que
em Portugal não cometam os mesmos erros que cometemos em Itália. É preciso não
esperar que a situação fique incontrolável para tomar decisões
mais fundamentalistas´. E o que está a acontecer é que aqui em Portugal
corremos o risco de estar a tomar decisões caso a caso".
Trump decreta que a partir de
amanhã, sexta-feira, serão suspensas todas viagens da Europa para os EUA
durante 30 dias. A única excepção será o Reino Unido. Anglófonos unidos jamais
serão vencidos. Aqui no Expresso Curto que trazemos mais em baixo tem os
principais pormenores sobre a decisão do aloucado sujeito que é presidente dos
EUA. Aloucado mas desta feita sem brincar em serviço, como o caso da UE e de
António Costa e outras entidades responsáveis do pelouro da saúde pública.
Esses até deixam ficar a sensação de que o que desejam do fundo do coração são
mais portugueses contaminados. Não é por acaso que não querem fechar as escolas
e estão a demorar um tempão para anunciarem a decisão de não as fecharem. Ou,
talvez, num caso ou noutro.
Pelo menos nas escolas do ensino
primário (básico) a medida já devia ter sido posta em prática. De certeza que
essas crianças não vão para as praias – como aconteceu ontem na linha do Estoril
com adolescentes da “linha” e não só. A irresponsabilidade e a ignorância está-lhes
na alma e o atraso no crescimento é tão duradouro que talvez alguns e algumas não
tenham atingido a idade adulta e responsável quando comemorarem os 50 anos. É a
sociedade que viemos adotando… Felizmente que existem também os que crescem
dentro dos parâmetros normais e foram banhados pela responsabilidade, em menos
quantidade que aquela que é desejável. Mas existem.
Sobre o Covid-19 e a ação do
governo e das entidades de saúde pública a opinião generalizada é a de que não
se estão a comportar como elemento aglutinador e eficiente da proteção que
devem prestar aos cidadãos O tal Covid-19 entrou e muito pouco foi feito para
evitar os contágios. Ao principio centraram-se nos focos de contágio. Eram
diminutos e assim foram controláveis. Atualmente parece que tudo vai rebentar
pelas costuras e os contágios irão multiplicar-se por estupidez de alguns cidadãos
e a ineficiência patenteada do governo e entidades responsáveis pela tão
desejada saúde pública.
Depois de casa arrombada trancas
à porta, diz o adágio. Parece que os poderes decisórios em Portugal querem
mesmo pô-lo em prática tomando medidas avulso insuficientes em vez de ter
fechado as portas ao vírus quando os primeiros casos surgiram.
Ainda há pouco na TSF, no Fórum,
um piloto da TAP comentou a falta de controlo existente em Portugal. Disse ele
que “a semana passada trouxe no avião 40 italianos vindos do norte de Itália –
onde se regista o maior foco de Coronavírus da UE – sem o mínimo de controle…
Isto diz tudo das medidas anotadas em blocos de gelo sobre os joelhos, que
foram tomadas pelos responsáveis de saúde pública e do governo.
Bom dia, este é o Expresso Curto.
Lavra de Ricardo Marques, jornalista. Teceu uma peça que deve ler para se
atualizar ou relembrar o que esqueceu mas que já tinha ouvido num ou noutro noticiário
viajado no éter.
Bom dia. Fique bem, se conseguir.
Seja responsável. Lembre-se que o malfadado vírus não é bom para si nem para
todos os outros que consigo privam ou se cruzam. Boa sorte.
Basta. O resto e de interesse
está no Curto, a seguir.
MM | PG
Bom dia, este é o seu Expresso
Curto
A vida segue
interrompida
Ricardo Marques | Expresso
Esta newsletter começa com
uma notícia que vem da madrugada e cujas consequências são, a todos os
níveis, verdadeiramente imprevisíveis: o
presidente dos Estados Unidos da América anunciou que, a partir de
amanhã, vão ser suspensas todas viagens da Europa para os EUA durante 30
dias. A única excepção será o Reino Unido.
A medida aplica-se a todos os
estrangeiros que tenham estado nos países do acordo de Schengen nos
últimos 14 dias. O presidente do Conselho Europeu afirmou que a situação vai
ser avaliada e os mercados asiáticos reagiram com quedas
significativas.
Em Portugal, a decisão sobre
um possível encerramento das escolas a nível nacional devido à
pandemia de Covid-19 será tomada esta manhã em Conselho de
Ministros (está marcado para as nove e meia) e, como lembrou ontem a ministra
da Saúde, Marta Temido, o Governo terá em conta as recomendações do
Conselho Nacional de Saúde Pública (CNSP).
O CNSP, que voltará a reunir
amanhã, considera, por agora, que o encerramento só deve ocorrer por
determinação das autoridades de saúde. E Graça Freitas, a diretora geral de
saúde, explicou que essa determinação depende da avaliação
das condições a cada momento e em cada local por parte dos
responsáveis de saúde.
O Público tem hoje em manchete
que os diretores preferiam o encerramento total e imediato. Falam de uma
“pandemia de medo” que está a tomar conta dos estabelecimentos de ensino.
O quadro geral dessas
condições só será conhecido no momento em que a Direção Geral de Saúde
divulgar o relatório
de situação atualizado nas últimas 24 horas (ontem foi já
depois das dez da manhã).
Uma coisa é certa: o número
oficial de casos confirmados (59, com base no relatório de ontem), já foi
ultrapassado. Isso mesmo admitiu Graça Freitas. “Vamos ter mais casos
todos os dias. Uns dias mais, outros menos”, afirmou. É também expectável que
haja uma subida do número de casos suspeitos (471), de casos a
aguardar resultado laboratorial (83) e de pessoas em
vigilância por parte das autoridades de saúde (3066) .
Horas antes, a Ministra da Saúde
tinha admitido que pode estar para
breve a fase de mitigação. Podem ser horas, podem ser dias, disse
Marta Temido, numa formulação que na dúvida esconde uma certeza.
Estamos perto da fase mais intensa de combate à doença - que
corresponderá aos níveis de alerta e de resposta mais elevados. Isso
significará que já se verifica a transmissão comunitária da infeção.
Neste momento, duas
situações estão no topo da atualidade. Por um lado, a dos dois doentes
internados há vários dias no Hospital de Santa Maria com
diagnóstico de pneumonia - mas que estavam infectados com o vírus do Covid-19.
O outro caso é o de uma jovem
de Santa Maria da Feira, que pode vir a ser o primeiro caso de
transmissão sem sintomas.
O Expresso tem
uma reportagem
sobre a vida em Felgueiras e Lousada, duas das zonas mais
afetadas em Portugal.
As empresas de distribuição
portuguesas asseguram que, apesar de um aumento da procura nos últimos
dias e de algumas prateleiras vazias, a reposição de stocks nos
supermercados está
“sob controlo”. O problema não é exclusivo de Portugal, como me
contava ontem ao telefone um amigo espanhol da zona de Cáceres.
E a sessão do debate instrutório
da Operação Marquês marcada para hoje que foi anulada. O juiz
Ivo Rosa acolheu
as recomendações do Conselho Superior da Magistratura para a contenção
do coronavírus.
Em Itália, o segundo país
mais afetado no mundo a seguir à China, todas as
lojas estão fechadas, exceto supermercados e farmácias. Esta e outras
notícias estão em direto
na página do Expresso dedicada ao coronavírus. Uma espécie de janela para
tudo o que está a acontecer. E é tanto. A Cadenaser
avança que a UEFA se prepara para adiar o Euro2020 para 2021. A
Dinamarca encerra escolas. Os cruzeiros já não podem aportar no Funchal. Todos
os jogos de basquetebol da NBA estão
suspensos. Há países a fechar fronteiras…
Pouco a pouco, mas demasiado
depressa, o mundo que conhecemos vai mudando.
Espreite este trabalho
‘microscópico’ do New York Times sobre a vida do vírus.
E acompanhe as
contas de um médico americano segundo o qual o Covid-19 é dez
vezes mais letal do que a gripe
normal.
normal.
Angela Merkel admitiu que
cerca de 70 por cento da população da Alemanha pode
vir a ser infectada por Covid-19.
O ator americano Tom
Hanks e a sua mulher, a também atriz Rita Wilson, ambos de 63
anos, contraíram
o novo coronavírus na Austrália.
E Daniele Rugani, colega de
equipa de Cristiano Ronaldo na Juventus, teve um resultado
positivo ao Covid-19. O jogador português, que se encontra
na Madeira, não
vai voltar a Itália enquanto se mantiver a atual emergência de
saúde no pais, segundo informou o clube italiano.
Deixo para o fim a notícia
que podia ter sido a primeira. O Covid-19 é oficialmente uma
pandemia. Saiba o
que representa a decisão da Organização Mundial de Saúde.
Acima de tudo, o anúncio da
OMS é um alerta global para gravidade de uma doença cuja transmissão
podemos tentar combater com pequenos gestos, com uma ideia clara do
que é o bem comum e com a perfeita noção de que existe um problema
sério de saúde pública.
Há 124 519 casos confirmados de
pessoas infectadas e 4607 mortes registadas em 118 países,
territórios ou áreas com casos.
Nem pânico,
nem descontração. Apenas consciência da gravidade da situação.
É por isso que talvez fosse boa
ideia deixar de falar em antecipação das férias escolares. Ninguém vai
antecipar nada. Não são férias. Se chegarmos a isso, será ficar em casa,
em isolamento, para que aquilo que já é mau não fique ainda pior.
E ir à praia? A sério?
Não o faça. Por razões óbvias, e também porque é perigoso, como alerta a
Autoridade Marítima.
Não pense primeiro em si. Pense
em todos. É a única forma de todos pensarem em si.
Como escrevia ontem um colunista
da National Review, “This is a scary time. But we’ve lived through scary
times before.”
(Há uma semana fiz uma aposta com
a miúda mais velha. Esqueci, por momentos, que a melhor educação é através do
exemplo e atirei: “Um euro em como a festa do basquetebol em Albufeira vai ser
cancelada”. Ela nem hesitou. A ideia de passar cinco dias longe de casa a jogar
basquete com as colegas de equipa, em plenas férias da Páscoa, foi mais forte
do que as incontáveis horas a ouvir falar da ameaça do coronavirus e do que as
intermináveis perguntas sobre a doença. Anteontem, com a derrota estampada
no rosto, deixou a moeda em cima da mesa. Depois foi para o quarto tentar
encestar uma bola minúscula numa micro-tabela.
Assim vai a vida aqui em casa.
Interrompida, mas sempre à espera do ressalto.)
Outras notícias
Divida O Tesouro
português foi ontem ao mercado obrigacionista realizar um leilão de dívida a
5 e 10 anos tendo colocado €1181 milhões. No prazo mais curto já
teve de pagar uma taxa positiva de 0,059% e a 10 anos o juro
foi de 0,426%.
Alcochete Bruno de
Carvalho ilibado pelo Ministério Público. O MP diz que não
se prova que o ex-presidente do Sporting seja o autor moral do ataque
à Academia. Os 37 arguidos que entraram em Alcochete devem ser
acusados de crime de introdução em lugar vedado ao público: 17 deles por
ofensa de integridade física; 25 por crimes de ameaça agravada. Ficam de fora
os crimes de sequestro e também de terrorismo.
Media Relato de
um casamento que não chegou a acontecer. A
história que conta como a Cofina desistiu da aquisição da Media
Capital, por não conseguir obter os 85 milhões de euros dos atuais e novos
donos. O ‘dote’, no entanto, não vai ser devolvido e a Cofina perde
10 milhões de euros.
Presidenciais nos EUA Joe
Biden será o candidato democrata que vai enfrentar Donald Trump nas
eleições presidenciais, e já não haverá muito a fazer em relação a
isso. Mas Bernie Sanders não parece convencido e está para ficar. Pelo
menos até domingo, ao debate entre ambos.
Tensão Como se tudo já não
fosse suficientemente mau, um ataque com
rockets a uma base militar a norte de Bagdad matou dois
americanos e um britânico, alimentando de novo um fogo que vai
ardendo desde que os EUA mataram o general iraniano Qasem Soleimani,
em janeiro.
Aeroporto A Declaração
de Impacte Ambiental do novo aeroporto no Montijo está suspensa na
sequência de uma providência cautelar apresentada
por um grupo de cidadãos, já aceite pelo Tribunal Administrativo e
Fiscal de Almada.
Refugiados Um fotógrafo que
conheço, e cujo trabalho vou seguindo através do Facebook, está há alguns dias
nas zonas de fronteira entre a Turquia e a Grécia, onde milhares
de refugiados, maioritariamente sírios, se transformaram em
autênticos peões
de uma guerra diplomática e estratégica entre Ancara, Atenas, Bruxelas e
Moscovo. Um drama sem precedentes.
Hollywood Harvey Weinstein,
o ex-produtor de Hollywood, foi condenado
esta quarta-feira a 23 anos de prisão por abuso sexual e
violação.
Liga dos Campeões O
Liverpool, o campeão europeu e a equipa mais poderosa da Europa (ainda que
a atravessar uma fase menos boa), caiu nos oitavos da final da prova.
O proeza foi do Atlético de Madrid, de João Félix. Para os quartos de final
segue também o PSG, que eliminou o Borussia Dortmund.
Frase (que todos devíamos
decorar)
“Estamos numa situação em que há
muitas coisas que não sabemos, e aquilo que não sabemos temos de levar a
sério,” Angela Merkel, chanceler alemã.
O que ando a ler
O único assunto de que falamos por estes dias, por mais que o tentemos evitar, levou-me de volta a uma ideia que retive de num livro que li há pouco tempo e que tenho de recomendar. Confesso, desde já, que sou um enorme fã de Bill Bryson. Tenho ideia de que o meu primeiro livro ‘brysoniano’ foi comprado quase por acidente num aeroporto antes de um voo demasiado longo. Era a história de uma viagem pela Austrália.
Agora tenho aqui ao lado do
computador “O Corpo - Um guia para principiantes”. Tal como todos os
outros, é um compêndio de informação sobre o corpo humano, temperado com
uma boa disposição que desarma qualquer leitor. Não é o caso do excerto que
escolhi, por muito elucidativo que seja.
Trata-se, como o próprio Bryson
explica, de uma conversa que teve com Michael Kinch, professor da
faculdade de medicina na Universidade de Washington, em St. Louis.
“…perguntei-lhe qual achava ser a
doença de maior risco para nós atualmente. ‘A gripe’, respondeu
ele. ‘A gripe é muito mais perigosa do que as pessoas pensam. Para
começar, já mata muita gente - cerca de 30000 a 40000 pessoas por ano, nos
Estados Unidos - e isto num chamado ano bom. Mas também porque evolui
muito rapidamente, e é isso que a torna particularmente perigosa’”.
No fim desse pequeno capítulo,
depois de explicar rapidamente como operam os vírus e de passar a correr por um
cenário dantesco, Bryson volta ao ataque. E é então que Kinch
deixa aquela ideia que não me saiu da cabeça.
“A verdade é que não estamos
mais bem preparados hoje para um surto grave do que estávamos quando a
gripe espanhola matou dezenas de milhões de pessoas há 100 anos. Não é por
termos estado especialmente vigilantes que não voltámos ainda a ter outra
experiência como essa. É porque temos tido sorte.”
Tenha um bom
dia e faça o que for possível para manter o azar à distância. Comece
por lavar as mãos.
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