Importadores e Exportadores da
Guiné-Bissau receiam que a crise pós-eleitoral possa afetar a campanha do caju.
União Europeia pede a atores políticos para "priorizarem o diálogo" e
resolverem a crise na Guiné-Bissau.
O chefe da diplomacia da União
Europeia apelou esta quinta-feira (12.03) às forças de defesa e segurança
guineenses para não interferirem no processo político. Em comunicado, Josep
Borrell defendeu ainda que os atores políticos na Guiné-Bissau devem "priorizar
o diálogo e abster-se de qualquer ação unilateral que possa exacerbar ainda
mais as tensões".
"As eleições presidenciais
na Guiné-Bissau ocorreram em 24 de novembro e em 29 de dezembro de 2019, [mas]
o processo ainda não foi concluído e todas as partes devem respeitar o quadro
legal e constitucional para resolver a crise pós-eleitoral", sublinhou.
O Alto-Representante da União
Europeia para a Política Externa pediu ainda que a Ecomib, a força militar da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estacionada no
país, garanta a segurança das instituições e dos órgãos do Estado.
A crise política na Guiné-Bissau
agravou-se depois de Umaro Sissoco Embaló ter tomado posse como Presidente, a
27 de fevereiro, enquanto decorre um recurso de contencioso eleitoral no
Supremo Tribunal de Justiça, apresentado por Domingos Simões Pereira.
O presidente da Associação
Nacional dos Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau (ANIE-GB), Mamadu Iero
Jamanca, teme que a crise possa prejudicar a economia. Segundo o responsável,
neste momento, com a situação política indefinida, é difícil perspetivar como
será a campanha da castanha de caju, o principal produto agrícola e de
exportação da Guiné-Bissau.
"Muito sinceramente, a
perspetiva não é a grande coisa, porque nós vivemos das atividades económicas
e, em qualquer parte do mundo, os operadores económicos devem ter o cuidado de
que não se faz negócio em ambientes de incerteza, mas é o que estamos a viver
na Guiné, neste momento", afirma o responsável em entrevista à DW África.
"Estamos numa situação de
extrema incerteza, que poderá condicionar a campanha e comercialização e
exportação da castanha de caju", acrescenta.
"Ambiente não é mau, é
péssimo"
Todos os anos, a Guiné-Bissau
arrecada cerca de duzentos milhões de dólares, fruto da exportação de caju.
Mas, nos últimos anos, apesar de o Fundo Monetário Internacional ter apelado
para que se faça uma campanha de comercialização e exportação de caju
transparente, as constantes crises políticas acabam por ensombrar a atividade.
Os dados oficiais da exportação
da castanha de caju de 2019 ainda são desconhecidos, mas estima-se que tenham
sido exportadas cerca de duzentas mil toneladas do produto.
Para este ano, Mamadu Iero
Jamanca diz que ainda não é possível fazer uma previsão.
"Se, até ao próximo mês, não
encontrarmos soluções que tendam a apaziguar a situação e rever o ambiente de
negócio que se vive neste momento, que não é mau, é péssimo, não poderemos
estar em condições de perspetivar nada", diz o presidente da ANIE-GB.
Devido ao momento político na
Guiné-Bissau, não foi possível à DW África registar as declarações das
entidades governamentais ligadas à campanha de comercialização e exportação da
castanha de caju.
Mas cidadãos ouvidos nas ruas de
Bissau mostram-se preocupados com a eventual influência da crise política na
comercialização e exportação do produto: "Temos familiares que dependem da
campanha de comercialização da castanha de caju, mas, agora que o país está
nesta crise política, é preciso acionar mecanismos para sanear a
situação", apela Amadu Sidi Djaló, estudante universitário.
Outro cidadão, Ibraima Turé,
alerta para o facto de o atual clima político poder desencorajar os operadores
estrangeiros, que são os maiores compradores da campanha, "sobretudo os
indianos".
"Se o país não estiver
estável, certamente que não vamos ter aqui os empresários para comprar a
castanha", conclui.
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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