Manuel Molinos* | Jornal
de Notícias | opinião
O desespero vivido nos últimos
dias nos lares de idosos, e também entre os familiares dos utentes, revela que
todos os estados falharam nas políticas diferenciadas para este setor social.
É certo que ninguém, sem exceção,
estaria preparado para esta pandemia. Nem governantes, nem empresas, nem
organismos públicos, sociais ou particulares. O Mundo não estava preparado.
Mas, perante a evidente reorganização das famílias e do aumento de equipamentos
e serviços destinados aos mais velhos, não fomos capazes de, enquanto sociedade
global, responder às dificuldades de quem passou uma vida inteira a trabalhar.
Não bastou, como se vê, proibir a
entrada de familiares nestas instituições. Era preciso mais para, pelo menos,
tentar fechar a porta à morte. Na verdade, sempre convivemos egoisticamente com
espaços sobrelotados e onde nos habituamos a ver velhinhos sentados à volta de
um televisor. E, apesar de toda a dedicação, empenho e profissionalismo dos
trabalhadores, todos dariam tudo para estar em casa, na sua casa, e não podem.
Falhamos também a quem hoje está
em casa sozinho, sem e-mail, sem Facebook, sem WhatsApp, sem videochamadas por
Skype ou séries da Netflix. Sem posts e partilhas para ajudar a passar o tempo
com a boa disposição possível. E nós sem nos importarmos com a iliteracia
digital de quem nos deu as competências para vivermos em rede.
Hoje estão aborrecidos porque os
lugares do costume, os sítios do costume e os amigos do costume não estão nos
lugares do costume. Agora, o que lhes podemos pedir é que fiquem em casa e
garantir-lhes que neste país não há nenhum cowboy que sugira o seu sacrifício
para manter a economia funcional, nem ninguém que vá decidir entre quem salvar
e quem deixar morrer.
*Diretor-adjunto
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