Paulo Baldaia | Jornal de Notícias
| opinião
Cobardes como são os nossos
políticos, ninguém pia perante tragédia tão evidente como aquela a que estamos
a assistir em direto na justiça. Não os desculpo, mas percebo-os.
Com o que escrevo em jornais e
digo na TV e na rádio, sei bem que tenho de me manter longe de problemas com a
justiça, não vá apanhar um procurador que me queira julgar em praça pública ou
um juiz que faça sentenças para os amigos, que podem bem ser meus inimigos.
Aguentei-me até aqui e agora, pela esperança média de vida, só tenho de me
aguentar mais um quarto de século.
Devo dizer, em abono da verdade,
que este tipo de azar é uma questão de lotaria. É preciso não ter sorte
nenhuma, já que a maioria dos magistrados do Ministério Público e dos juízes
são gente de bem e merecedores do poder que lhes depositamos nas mãos. Acrescento até que, percentualmente, deve dar-se o caso de haver bastante mais
malandragem a exercer a profissão de jornalista do que a administrar a justiça
em Portugal. O que me força a concluir que tramado, e bem tramado, está o povo
que pouco ou nada pode fazer quando se trata de administrar a justiça.
Com a classe política calada, os
operadores de justiça embaraçados e a Comunicação Social viciada em julgamentos
populares, o que podem os portugueses esperar da justiça? Um Ministério Público
que suspeita de si próprio e tem uma associação sindical a acusar a sua líder
de estar refém do poder político, juízes que escolhem juízes à procura de
sentenças à medida, políticos que lavam as mãos como Pilatos cada vez que lhes
pedimos responsabilidades.
Se deixarmos de acreditar na
justiça, estaremos a deixar de acreditar em tudo. O presidente do Tribunal da
Relação de Lisboa renunciou ao cargo, mas isso não chega. É preciso saber como
foram distribuídos os processos nos diferentes tribunais. Não nos podemos
esquecer que o superjuiz Carlos Alexandre também já pôs em causa a distribuição
dos processos no TCIC. O povo tem direito de saber. Para onde vai a justiça?
P.S.: Já agora, a pena máxima
para um juiz que cometa um ilícito é a jubilação ou a aposentação compulsiva?
*Jornalista
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