terça-feira, 3 de março de 2020

Portugal | Quo vadis justiça?


Paulo Baldaia | Jornal de Notícias | opinião

Cobardes como são os nossos políticos, ninguém pia perante tragédia tão evidente como aquela a que estamos a assistir em direto na justiça. Não os desculpo, mas percebo-os.

Com o que escrevo em jornais e digo na TV e na rádio, sei bem que tenho de me manter longe de problemas com a justiça, não vá apanhar um procurador que me queira julgar em praça pública ou um juiz que faça sentenças para os amigos, que podem bem ser meus inimigos. Aguentei-me até aqui e agora, pela esperança média de vida, só tenho de me aguentar mais um quarto de século.

Devo dizer, em abono da verdade, que este tipo de azar é uma questão de lotaria. É preciso não ter sorte nenhuma, já que a maioria dos magistrados do Ministério Público e dos juízes são gente de bem e merecedores do poder que lhes depositamos nas mãos. Acrescento até que, percentualmente, deve dar-se o caso de haver bastante mais malandragem a exercer a profissão de jornalista do que a administrar a justiça em Portugal. O que me força a concluir que tramado, e bem tramado, está o povo que pouco ou nada pode fazer quando se trata de administrar a justiça.

Com a classe política calada, os operadores de justiça embaraçados e a Comunicação Social viciada em julgamentos populares, o que podem os portugueses esperar da justiça? Um Ministério Público que suspeita de si próprio e tem uma associação sindical a acusar a sua líder de estar refém do poder político, juízes que escolhem juízes à procura de sentenças à medida, políticos que lavam as mãos como Pilatos cada vez que lhes pedimos responsabilidades.

Se deixarmos de acreditar na justiça, estaremos a deixar de acreditar em tudo. O presidente do Tribunal da Relação de Lisboa renunciou ao cargo, mas isso não chega. É preciso saber como foram distribuídos os processos nos diferentes tribunais. Não nos podemos esquecer que o superjuiz Carlos Alexandre também já pôs em causa a distribuição dos processos no TCIC. O povo tem direito de saber. Para onde vai a justiça?

P.S.: Já agora, a pena máxima para um juiz que cometa um ilícito é a jubilação ou a aposentação compulsiva?

*Jornalista

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